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Licença para ser pai

A licença paternidade sintetiza os impasses do novo homem e mostra que o Brasil está muito, muito distante do que se passa nos Estados Unidos, que, por sua vez, está muito, muito longe de certos países da Europa.

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Uma resposta para a crise masculina é arregaçar as mangas e fazer o trabalho que tiver que ser feito, seja ele "másculo" ou não. É o que sugere a revista Newsweek, assim como Tracy Clark-Flory, ensaísta da revista Salon, e, aparentemente, todos que se debruçam sobre a questão.

"O macho alfa se tornou obsoleto", decreta Hanna Rosin, da Atlantic. "Num mundo em mudanças, homens devem fazer o que for preciso para contribuir no trabalho e em casa." É, enfim, uma questão de sobrevivência.

Então sai Ernest Hemingway e entra Michael Chabon. O escritor que venceu o prêmio Pulitzer com o romance As Aventuras de Kavalier e Clay é casado e tem três filhos. No livro Manhood for Amateurs ("Masculinidade para Amadores", numa tradução bem livre), Chabon reúne ensaios que escreveu sobre a vida de pai, filho e marido.

Em vez de caçar leões na África como fez Hemingway, Chabon prefere se aventurar com o filho mais novo no supermercado. Na fila do caixa, repara que a mulher que espera a vez olha para eles com uma expressão radiante de satisfação. "Que ótimo pai você é!", ela diz. O escritor, claro, não achou ruim o elogio, mas percebeu que não havia feito absolutamente nada para merecê-lo. Apenas estava na fila do supermercado, ignorando o nariz sujo do filho e usando o golpe do doce para o piá se distrair. Tudo o que fez foi ir ao mercado sozinho com a criança.

Chabon destrincha a situação para concluir que as referências de pai costumam ser tão ruins e as expectativas, tão baixas, que não é preciso muito para ser considerado um "ótimo pai".

O "novo macho" é mais participativo no trabalho e na vida caseira e mais envolvido na criação dos filhos. É, vá lá, mais "feminino". Ao menos em relação ao brucutu-que-vê-futebol-e-manda-a-mulher-pegar-cerveja.

"A masculinidade era um ideal espiritual enigmático e complicado. Agora se tornou um corpo impossível. Quem levar a sério a exigência social de ser 'homem' poderá entrar numa aventura dolorosa", escreve o psicanalista Contardo Calligaris.

Está tudo bem admitir medos e inseguranças. Para Calligaris, reconhecer as fraquezas é um movimento fundamental ao homem atual. "Super-homem seria insosso sem sua sensibilidade à kryptonita", diz o psicanalista. "Essa ideia, de que a força é indissociável da fraqueza e talvez, às vezes, coincida com ela, é tão antiga quanto a invenção mítica de heróis e heroínas." O fundamento da eventual força do homem contemporâneo é feito das "dúvidas, conflitos psíquicos e fraquezas atormentadas".

John Keilman, colunista do jornal Chicago Tribune, se considera um exemplar do "novo homem". Usando senso de humor, conta que adora tomar chá e lavar a louça. E engrossa a fila dos que defendem mais presença nas vidas familiar e doméstica.

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