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Não tem segredo: é o jovem ambicioso quem mais consome livros em Curitiba, ainda mais se a obra aparecer no Programa do Jô | Marcelo Elias/ Gazeta do Povo
Não tem segredo: é o jovem ambicioso quem mais consome livros em Curitiba, ainda mais se a obra aparecer no Programa do Jô| Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo
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Quem mais consome livro em Curitiba, e em todo o estado do Paraná, é o jovem, de 17 anos, em geral, no primeiro ano da faculdade, e, acima de tudo, alguém que deseja vencer na vida. A afirmação é de Marcos Pedri, diretor comercial do grupo Livrarias Curitiba, empresa com 46 anos de atividade, líder de mercado na venda de livro na capital paranaense, com 17 lojas distribuídas pelos três estados do Sul e em São Paulo.

Se quem mais consome livro no Paraná é o jovem, os ambiciosos, há uma outra característica, revelada por Pedri, levando em conta o espectro de atuação do grupo: o paranaense lê menos do que o paulistano, que lê menos do que o catarinense, que lê menos ainda do que o gaúcho.

De toda forma, apesar desse detalhe, o mercado, na opinião de Pedri, vai "bem, muito bem". Ano passado, a Livrarias Curitiba vendeu 2,7 milhões de exemplares de livros, quase 12% a mais do que em 2008.

Ao sabor de ventos

Quando um autor senta no sofá diante do Jô Soares, no Programa do Jô, não tem erro: o livro exibido na tela da Rede Globo, mesmo durante as madrugadas, é procurado no dia seguinte. O mesmo se dá quando a apresentadora Ana Maria Braga comenta uma obra. Às vezes, antes do fim do programa matinal, no momento em que os vendedores estão levantando as portas, para abrir as lojas, já há demanda.

Dos cerca de 1,2 mil títulos publicados no Brasil por mês (ou seja, 40 livros novos todos os dias), a Livrarias Curitiba compra, em média, 200. Pedri explica que as próprias editoras elegem as apostas. Ele conta que cada empresa editorial compra pacotes, que incluem obras "destinadas" ao sucesso (os best sellers internacionais) e, naturalmente, os azarões, que podem (ou não) emplacar.

Se o mercado vai bem, Pedri atribui ao fenômeno Paulo Coelho a transformação. O diretor do grupo que comercializa livros tem absoluta certeza de que foi no final da década de 1980, quando Coelho começou a publicar obras como O Diário de um Mago, O Alquimista e Brida, que ocorreu o ponto de mutação. A partir de então, avalia Pedri, os autores se viram obrigados a oferecer ao público textos cada vez mais diretos e objetivos (e sedutores), prática de Coelho, se quisessem "fazer leitores e conquistar prestígio". A receita do Mago funciona: ele já vendeu 135 milhões de exemplares.

Ondas contínuas

De Coelho para cá, muitas ondas se passaram. A mais recente, e que ainda provoca algum tremor de terra, diz respeito a vampiros bonzinhos. Trata-se da quadrilogia de romances da escritora norte-americana Stephenie Meyer: Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Amanhecer – todos na lista dos mais vendidos. Antes desse fenômeno, foi o tempo da autoajuda, que passou, mas ainda faz marolas.

Pedri anuncia que vai escrever um livro de autoajuda. Ele defende o gênero. Para Pedri, são poucos os leitores que conseguem ler e entender, por exemplo, as obras completas de Freud e Jung. Devido a esse impedimento, argumenta o futuro autor, é necessário que outras pessoas assimilem e apresentem, de maneira mastigada, o pensamento de clássicos para o grande público. Isso é, para ele, o segredo do sucesso da autoajuda.

Mas Pedri tem uma outra informação que pode ser recebida como um fato lamentável, mas é realidade. O consumidor paranaense, o curitibano em especial, não gosta de consumir obras de autores paranaenses. Há uma pesquisa apontando que, dentro das lojas da rede Livrarias Curitiba, o cliente fica menos tempo na frente da prateleira estão expostas obras de autores do Paraná. Há, inclusive, autores locais que fazem questão de que seus livros fiquem longe da estante dos paranaenses. Se é autofagia? Pedri não diz que sim, mas sinaliza que "isso" dá pistas sobre quem são os habitantes do Paraná.

Outro dado: 5% da população responde por 90% do mercado. O que isso significa? Que apenas o topo da pirâmide, não economicamente falando, mas é a elite intelectual quem compra livros no Paraná e no Brasil (além dos jovens ambiciosos citados no início deste texto). E, por elite intelectual, entenda-se: professores, estudantes, escritores, livre-pensadores, atores, diretores de teatro, músicos e jornalistas.

Pedri, que não tira o sorriso do rosto, comemora que o mercado amadureceu, pelo menos desde 2000. Os lançamentos aumentaram. O preço dos livros, caiu. Os mais vendidos custam, em média, de R$ 20 a R$ 29,90. Se a lista da revista Veja promove uma romaria semanal de clientes às livrarias, ele tem uma certeza: nada é aleatório nesse mundo de livros. O autor escreve e a editora, mais do que editar, promove uma série de ações de divulgação. Depois disso, o negócio é entre a livraria e o leitor (cliente). Simples assim.

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