Seu Jorge. Cafuné/Universal Music. Samba/Soul. R$ 25.
Em time que está ganhando não se mexe, certo? Talvez. A máxima dos técnicos de futebol das antigas foi seguida à risca apenas em parte por Seu Jorge no lançamento de seu novo álbum, Musica para Churrasco – Volume II.
A maior parte do disco é composta pelo som que deu celebridade ao cantor carioca: um samba rock comportado com levada de cavaquinho, ideal para trilha sonora de festas como o próprio nome sugere. A diferença agora é a presença de algumas canções que conversam mais com o soul e com a black music brasileira da década de 1970.
“O som mudou, sim. É que o churrasco vai evoluindo. A festa começa com um pagode, e lá pelas tantas é preciso botar um sou mais calmo para o pessoal da banda poder beber e dar uns beijos na boca”, teoriza Seu Jorge.
Em entrevista coletiva em um dos bares do qual é proprietário, em São Paulo, o cantor explica que o disco faz parte de uma trilogia que obedece à lógica do típico churrasco brasileiro. “No primeiro volume o povo foi chegando. Agora chegou outra leva e quem já estava está meio doidão. No terceiro disco vai estar todo mundo louco, tipo bonecão de posto”, brinca.
Falando sério, ele diz que a mudança de sonoridade foi decidida entre ele e o produtor Mário Caldato Jr. Tem a ver com seu próprio repertório sentimental e com a diversidade musical do Brasil.
“O samba está presente, pois é meu regionalismo. É algo que eu carrego para onde eu for. Mas o Brasil é muito maior que isso, e por isso incluímos coisas de música baiana, da black music de Marvin Gaye e Barry White, outras fontes em que eu sempre bebi”, afirma.
Ele queria ser Hendrix, mas vai de Tom Jobim
Quando descobre a cidade de origem do repórter, Seu Jorge interrompe a entrevista. “De Curitiba? Adoro a cidade e sou torcedor do Atlético Paranaense.”
Leia a matéria completaSucessor do maior êxito de vendas do cantor, lançado em 2011, o disco também investe em crônicas cantadas sobre personagens dos cotidianos das grandes cidades. Tem a garota que não para de tirar selfies em vez de aproveitar os momentos (“Na Verdade Não Tá”); tem a garota que um dia “tá zen e no outro tá baixo astral” em “Ela é Bipolar”; e tem a aposta de hit “Motoboy”, que fala sobre este personagem da fauna urbana, dínamo da sociedade paulistana: “O Motoboy é da hora/Faz o corre/ Entrega tudo na maior agilidade...”.
Dondinho
Nascido na favela do Gogó da Ema, em Belford Roxo, na Baixada Fluminese, Seu Jorge “tá podendo”, como poderia dizer uma de suas letras. O release de apresentação do novo disco foi escrito por Caetano Veloso. A concepção da capa e do encarte é do artista plástico Vik Muniz, inspirados nos cartazes que anunciam preços em supermercados e açougues.
O cantor hoje mora em Los Angeles, onde se divide entre o cinema e a música. Nas telas, acaba de filmar a participação no filme Pelé, de Jeff e Michael Zimbalist, em fase de pós-produção, no qual interpreta Seu Dondinho, o pai do rei do futebol. “Sou o único cara do Gogó da Ema que está morando em Los Angeles. Nasci sem futuro e hoje eu quero dar futuro para os meus filhos”, disse.
* O jornalista viajou a convite da Universal Music.
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