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Técnicos instalam fiação em superpostes no bairro Abranches, em Curitiba: reajuste menor da tarifa compromete previsão de investimentos da Copel | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Técnicos instalam fiação em superpostes no bairro Abranches, em Curitiba: reajuste menor da tarifa compromete previsão de investimentos da Copel| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Perde e ganha nas subsidiárias

Subsidiárias da Copel, a Copel Geração e Transmissão (GeT) e a Copel Distribuição (Dis) vivem uma situação curiosa: a crise do setor está dando muito lucro à primeira e prejuízo à segunda. No início de 2013, ao não renovar antecipadamente as concessões de algumas usinas, a Copel GeT ficou com energia de sobra por dois anos.

Em 2014, 8% da energia está disponível; no ano que vem, serão 13%. A Copel GeT pode vendê-la no mercado de curto prazo e também cobrir eventuais déficits provocados pela baixa geração de hidrelétricas e pelo atraso na usina de Colíder.

A Copel Dis, por sua vez, passou boa parte de 2013 e 2014 com 13% menos energia que a necessária para abastecer seus consumidores. Ficou "descontratada" porque, com a não adesão de algumas geradoras (entre elas a Copel GeT) à renovação de concessões, parte da energia que era das distribuidoras "sumiu". Além disso, um leilão de energia realizado em 2013 fracassou porque o governo impôs um preço máximo que não atraiu geradoras.

Para cobrir o déficit, a Copel-Dis teve de comprar energia no mercado de curto prazo até o fim de abril deste ano, quando um novo leilão fechou o rombo das distribuidoras. Até dezembro, a empresa estará 100% contratada. Depois, terá de voltar às compras.

Defasagem

Em 2013, a Aneel autorizou a Copel a reajustar sua tarifa média em 14,61%, mas, atendendo ao governo estadual, a empresa aplicou 9,55%. Neste ano, tinha direito a 35,05%, mas repassou 24,86%. Ou seja, embora os consumidores tenham arcado com um reajuste de quase 37% em dois anos, ainda há uma defasagem a ser reposta de pouco mais de 13%. A culpa pela alta na tarifa é do uso frequente de termelétricas, cujo custo é rateado entre todos os consumidores do país, e ao fato de a Copel Distribuição ter comprado energia no curto prazo, a preços elevados.

Um corte de R$ 600 milhões nos investimentos foi a solução encontrada pela Copel para manter o equilíbrio de caixa e o nível de dividendos pagos aos acionistas neste ano, depois que repassou ao consumidor apenas parte do reajuste tarifário a que tinha direito. A empresa, que pretendia investir R$ 2,62 bilhões em 2014, agora vislumbra um desembolso em torno de R$ 2 bilhões, valor próximo ao investido nos últimos dois anos.

INFOGRÁFICO: Veja o investimento da Copel nos últimos dez anos

O anúncio foi feito por executivos da companhia, em teleconferência com analistas de mercado e encontros com investidores nas últimas duas semanas. Contatada pela Gazeta do Povo, a Copel não se manifestou sobre o assunto. Não é possível saber, portanto, que áreas serão mais afetadas pelo que o diretor financeiro da companhia, Antônio Guetter, chamou de "reavaliação de cronogramas de investimentos".

Ao cobrar tarifas menores que as autorizadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a estatal abriu mão de quase R$ 900 milhões em dois anos – recebeu R$ 276 milhões a menos no ciclo tarifário 2013-2014 e deixará de arrecadar outros R$ 622 milhões entre 2014 e 2015. O montante "represado" equivale a 15% da receita líquida da empresa no primeiro semestre deste ano (R$ 6,2 bilhões) e supera o lucro líquido do período (R$ 831 milhões).

O valor não cobrado poderá ser recuperado, com correção monetária, a partir do próximo reajuste anual, em junho do ano que vem. Até lá, a empresa terá de se virar para dar conta dos compromissos. Joga a seu favor o bom desempenho da área de geração, que contabiliza lucros recordes com a venda de energia no curto prazo, cobrindo com folga os prejuízos da divisão de distribuição.

Se por um lado vai investir menos, é certo que a Copel vai manter o patamar dos dividendos pagos aos acionistas, conforme Guetter assegurou a analistas de mercado. Durante o governo de Roberto Requião, a empresa distribuía 25% do lucro líquido ajustado, o mínimo exigido por lei. O porcentual subiu a 35% logo no início da gestão de Beto Richa e, no fim do ano passado, chegou a 50%.

A nova política de dividendos agradou ao mercado e ajudou a diluir a contrariedade dos investidores com os reajustes tarifários parciais, prática comum no governo anterior e que voltou a ser adotada nos últimos dois anos. Os bons resultados do primeiro semestre e a garantia de que os dividendos serão mantidos levou as ações preferenciais da Copel para perto de R$ 40, onde elas estavam antes do pacote de renovação de concessões anunciado em setembro de 2012, que derrubou as cotações das principais companhias do setor elétrico.

Cronograma

Obras de hidrelétricas estão atrasadas

As duas principais obras de geração da Copel, as hidrelétricas de Colíder, em Mato Grosso, e Baixo Iguaçu, no Sudoeste do Paraná, devem começar a funcionar depois do previsto.

A primeira turbina da usina mato-grossense deveria entrar em operação em janeiro de 2015, mas vai atrasar pelo menos seis meses. A central terá potência de 300 megawatts (MW), com "energia assegurada" de 180 MW – é esta quantidade que a Copel terá de entregar ao sistema elétrico de outra forma a partir de janeiro.

A estatal tem energia disponível para cobrir a diferença, mas pretende pedir à Aneel exclusão de responsabilidade pelo atraso, que teria ocorrido por uma série de fatores que fugiram a seu controle, entre eles a hidrologia da região, que impede algumas obras na época das chuvas. Além disso, um incêndio provocado por trabalhadores destruiu os alojamentos no início de 2013, interrompendo as obras por semanas. De janeiro a junho, a Copel investiu R$ 144 milhões em Colíder, 35% do programado para 2014.

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