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Sede do Banco Central: ritmo de queda nos juros pode mudar a partir de junho.| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Uma mudança de três palavras no comunicado da reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) – que nesta quarta-feira (20) decidiu por um corte na taxa Selic para 10,75% ao ano – pode representar uma mudança de estratégia no combate à inflação.

Nos comunicados anteriores, os membros do comitê vinham afirmando que anteviam “redução de mesma magnitude nas próximas reuniões”, ou seja, indicando que provavelmente fariam novos cortes de 0,5 ponto. Desta vez, porém, sinalizaram tal redução "na próxima renião". Saiu o plural, entrou o singular.

O documento sinaliza que o Copom avalia que o cenário-base não se alterou substancialmente, mas que, em função da elevada incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária, a estratégia de combate à inflação deve ser afetada.

"Os membros do Comitê, unanimemente, optaram por comunicar que anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião", destaca o comunicado.

Isto significa que o ciclo de reduções de meio ponto percentual na Selic a cada reunião, praticado desde em agosto, pode estar mais perto do fim do que se esperava. “O Copom pediu uma licença para pensar melhor. No fundo é isso”, diz Paulo Gala, economista-chefe do banco Master.

Atividade econômica e inflação causam preocupação

Uma das fontes de preocupação é o comportamento da inflação nos próximos meses. A XP Investimentos vê riscos altistas daqui para a frente, motivados, por exemplo, pelas taxas de juros mais elevadas no mundo, especialmente nos Estados Unidos, o que pode pressionar o real. Nesta quarta, o Fed (o BC americano) decidiu manter a taxa básica de juros entre 5,25% e 5,50% ao ano.

Além disso, a inflação subjacente – que exclui itens mais voláteis da cesta de produtos e serviços usada na medida da alta de preços – está acima do compatível com a meta de inflação, destaca Rafael Cardoso, economista-chefe do Daycoval Asset.

E está nesse patamar por causa da tendência expansionista das políticas fiscais e parafiscais – isto é, aumento dos gastos públicos – e pelo aumento dos salários reais, que mantém relativamente aquecida a atividade econômica. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB, aumentou 0,6% em janeiro, comparativamente a dezembro, acima do esperado pelo mercado.

Outra instituição que vê maiores incertezas no ar é o Itaú. O banco aponta que o comitê teve razão em “encurtar sua prescrição futura, em meio a mais incertezas”, referindo-se à decisão em prever um corte de meio ponto percentual na Selic só para a próxima reunião.

A instituição avalia que as razões detalhadas que levaram o Copom a tomar a decisão serão mais conhecidas na próxima terça-feira (26), quando será divulgada a ata da reunião.

Nenad Dinic, estrategista de ações do banco suíço Julius Baer, também ressalta que as incertezas fiscais aumentaram nas últimas duas semanas, especialmente após a decisão da Petrobras de não distribuir dividendos extraordinários e dos anúncios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para aumentar os gastos do governo.

“Apesar de o Orçamento de 2024 não ter sido afetado por esses acontecimentos, o ruído político e fiscal pode ter impacto nas metas fiscais de 2025”, diz Dinic.

André Valério, economista do banco Inter, destaca que a preocupação do comitê em relação ao quadro fiscal continua no ar. "O Copom ainda ressalta a importância da execução da meta – já estabelecida – na ancoragem das expectativas de inflação", diz.

As cartas na manga do BC em relação aos juros

Palo menos duas alternativas poderiam estar à mão do Copom a partir de junho, sinaliza o mercado: reduzir o ritmo para 0,25 ao ano nas reuniões seguintes ou então dar uma pausa temporária para avaliar melhor a situação.

O economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani, acredita na primeira tese: “Mantemos nossa avaliação de que a evolução do cenário inflacionário e da atividade econômica nos próximos meses deverá justificar uma redução do ritmo em junho”.

Segundo a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, sinalizar que a partir de agora o comitê antevê somente um corte de meio ponto percentual não significa que não possam ocorrer outros cortes desse tamanho na sequência.. “Significa sim que o Banco Central está um pouco mais incomodado com o cenário recente”, afirma.

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