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É preciso separar as coisas. Neymar tem chances de se tornar outro fenômeno do futebol. Muitos marcadores tentam pará-lo na trombada. Alguns acham ainda que Neymar quer humilhá-los.

Se Messi tentasse, no Brasileirão, driblar como fez nessa semana contra o Panathinaikos, passando a bola algumas vezes por debaixo da perna dos marcadores, receberia muitas pancadas.

Outro fato, que não anula o anterior, é que Neymar está exibicionista. Com quedas teatrais, tenta levar vantagem, chamar a atenção e enganar os árbitros. E ainda desrespeita o companheiro e o técnico do Santos.

Renê Simões, treinador do Atlético-GO, profissional respeitado, um dos raros que tenta dar um pouco de delicadeza e humanismo ao futebol, disse, ao escutar as palavras de Neymar durante a partida, que nunca viu, esportivamente, um jogador tão mal-educado e que estão criando um monstro.

Quis dizer monstro no sentido de não ter limites. Isso não é novidade na sociedade. A necessidade de Neymar de mostrar que é ousado é a mesma de muitos jovens. Alguns chegam até a tirar a roupa e espalhar as imagens pela internet.

Neymar foi criado, desde menino, dentro do clube e por empresários para se tornar um craque e uma celebridade, e não para ser um cidadão. Precisam também parar de chamar Neymar de criança. Ele já tem 18 anos e é responsável por seus atos.

No passado, muitos atletas famosos eram também deslumbrados e transgressores. Como hoje, havia a transgressão salutar e desejável, a de não repetir a hipocrisia da vida social, e a transgressão inconsequente, como a de Neymar e de outros jovens. O exibicionismo e a transgressão apenas ficaram mais exagerados.

Antes, as pessoas se sentiam culpadas por desejar o que não era permitido, mesmo se não fizessem nada. Hoje, a culpa é por não haver tempo de não fazer tudo que desejam, mesmo o que é proibido. É uma sociedade gananciosa e narcisista.

O ex-craque Dirceu Lopes, que pecava por não ter nenhum deslumbramento, dizia que ninguém estava preparado para a fama. Além disso, a fama empobrece o ser humano.

A "sociedade do espetáculo", expressão criada por Guy De­­bord, em 1967, tem pressa. Ney­­mar se tornou uma celebridade antes de se tornar um craque habitual da seleção. Assim como a sociedade tem pressa de descobrir celebridades, tem também de sugá-los e descartá-los. Ney­­mar precisa ter cuidado. A fila anda.

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