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Itaquerão fica no ócio durante seis dias | Albari Rosa
Itaquerão fica no ócio durante seis dias| Foto: Albari Rosa

25 de março

Seleção frustra meca do mercado informal

Um pedaço famoso de São Paulo concentra uma fervorosa torcida pelo Brasil. Cada avanço do time de Luiz Felipe Scolari é motivo de festa e promessa de lucro. Maior centro de comércio popular do país, a 25 de Março espera o sucesso da seleção para escapar do prejuízo iminente. Ontem, o empate com o méxico foi mais um baque ao trabalho informal.

O movimento nas vendas surpreende, mas às avessas. "Olha, tenho vendido menos do que em outras Copas. Acredita?", revelou o comerciante Leandro Batista, 31 anos, cuja família é permissionária de um carrinho ambulante na esquina mais congestionada de pessoas da abarrotada região. "Antes a venda começava um mês antes. Agora só foi esquentar na semana anterior", explicou.

Outro problema a atrapalhar os negócios segundo alguns comerciantes é a falta de reposição. As importadoras estariam com falta de produtos, quase todos feitos na China. "Aqui eu só vendo capa para espelho retrovisor de carro e de painel feitos no Brasil", explicou o vendedor. Canecas, Fulecos, as incessantes cornetas e outra infinidade de objetos alusivos à Copa vêm do país asiático.

As cornetas de "deizão" (preço médio da maioria dos produtos) são um sucesso de vendas e o som ambiente da tumultuada região. Se já não é pouco convidativo ficar em filas intermináveis, sofrer empurrões e trombadas de sacolas, o barulho torna a jornada atrás das quinquilharias verdes e amarelas em uma missão nada agradável.

"Vende bastante. Mas não está bom, esperávamos mais", afirmou sem nenhum constrangimento Marcelo Bueno, 33 anos, ao dizer que torce para o Brasil só para vender mais.

A impressão dos vendedores é confirmada pela a União dos Lojistas da Rua e Adjacências (Univinco), que identificou ritmo menor de vendas em relação à Copa de 2010 na África do Sul. A estimativa inicial da entidade era de crescimento de 8% nas vendas em relação ao último torneio, mas os prognósticos foram revistos para menos.

"Há dois anos a previsão era de alta na comparação com 2010, mas a expectativa caiu pela metade", contou o gerente da loja Festabox, Célio Silva, onde os produtos de Copa ofuscaram outra venda sazonal no período, as festas juninas. Mas também é possível fazer uma festa inteira para todos os santos do mês com produtos em verde e amarelo.

O apelo futebol já havia decepcionado em 2013 na Copa das Confederações. As vendas ficaram 30% abaixo do previsto e produtos encalharam nas lojas da 25 de Março.

Uma busca simples no Google com as palavras "São Paulo" e "Copa do Mundo" entrega o status do Mundial na maior cidade do país. As primeiras referências apontadas pelo site traziam notícias do fim da folga do time do São Paulo na parada do Campeonato Brasileiro durante o torneio da Fifa.

O resultado é sintomático. Enquanto a Copa fervilha nas outras sedes, a capital paulista amarga o ostracismo. A cidade acabou esquecida graças à tabela, que reservou um intervalo de seis dias entre a abertura com Brasil e Croácia, dia 12, e o próximo confronto, entre Inglaterra e Uruguai, amanhã. E é com a invasão inglesa e dos fãs da Celeste, já vistas respectivamente em Manaus e Fortaleza, que a cidade conta para voltar ao mapa do torneio e esquentar o clima do Mundial.

Afinal, até a tão esperada partida inaugural entre do time de Luiz Felipe Scolari, na Arena Corinthians, a cidade sofreu com o impacto de uma greve dos metroviários que transtornou a vida dos paulistanos e azedou o ambiente pré-Copa.

São Paulo recebeu nesses primeiros dias de Copa do Mundo 64 mil turistas, segundo levantamento do Observatório do Turismo, núcleo de pesquisas da SPTuris, a Secretaria de Turismo: 53,7 mil brasileiros e 10,3 mil estrangeiros. O ápice aconteceu na última quinta-feira para o jogo do Brasil e, como a maioria era de visitantes do próprio país, impactou os aeroportos e rodoviárias, com milhares de torcedores fazendo um percurso bate e volta, não permanecendo na cidade.

Vinte dias antes da Copa, São Paulo já registrava a pior taxa de ocupação hoteleira entre as 12 sedes, com 31%. No jogo de abertura chegou a 42%, mas foi pior até do que o mesmo período de 2013, por exemplo.

"Em junho e julho, São Paulo terá uma movimentação até menor que a normal. O turista de negócios vai deixar de visitar a cidade", avaliou o presidente do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), Roberto Rotter, ressaltando que a cidade possui 20 mil, quartos de hotel, a maior disponibilidade do país.

Os comerciantes também não têm muito a festejar. De acordo com a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a Copa do Mundo contribuiu para o desempenho apenas "morno" deste início de mês – crescimento de 1,5% na primeira quinzena de junho em relação ao mesmo período de 2013.

No estudo divulgado na segunda-feira, a antecipação das férias por causa do torneio Fifa, o feriado de Corpus Christi e até a queda de temperatura culminaram para o cenário.

Para o presidente da ACSP, Rogério Amato, até o momento, a Copa não ajudou a aquecer as vendas. "O Brasil já foi mais dependente, mais empolgado com o futebol. Nesta Copa, o país está envolvido, o futebol ainda é nossa paixão, mas não somos mais tão dependentes como no passado. É uma atmosfera diferente agora. Antes não tínhamos black blocs, ondas de manifestações e protestos que paralisam a cidade", afirmou.

Além do jogo do Brasil, Uruguai e In­­glaterra (amanhã), São Paulo ainda recebe os confrontos entre Holanda x Chile (23), Coreia do Sul x Bélgica (26), um jogo das oitavas dia 1/7 e uma das semifinais, no dia 9/7.

Comércio

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