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Protestos de estudantes universitários contra Israel
Universitários enfrentam a polícia em protestos contra Israel em Turin, Itália, 23 de abril de 2024.| Foto: EFE/EPA/TINO ROMANO

Na noite de terça-feira (30), centenas de oficiais do Departamento de Polícia de Nova York (NYPD, na sigla em inglês), de unidades especializadas, se moveram em articulação silenciosa para os campi da Universidade Columbia e do City College. Em algumas horas, prenderam centenas de estudantes que haviam tomado posse do campus, barricado prédios, destruído móveis e janelas, e supostamente até feito funcionários da limpeza de reféns.

As redes sociais logo se inundaram com vídeos capturando uma coalizão colorida de jovens de vinte e poucos anos usando cropped, piercings e jeans da era Kurt Cobain, com cabeças envoltas em keffiyehs árabes [lenços ou xales com padrão preto e branco associados à causa palestina desde Yasser Arafat] em solidariedade às forças islâmicas fundamentalistas que governam a faixa de Gaza palestina. Eles gritavam por uma revolta violenta — “intifada!” — e então resmungavam, ficavam moles e fingiam desmaios enquanto oficiais imperturbáveis os levantavam, amarravam suas mãos com abraçadeiras de plástico e os conduziam para ônibus policiais esperando para o processamento das prisões.

A operação da NYPD, que ocorreu na conclusão do pôr do sol da páscoa judaica, ressoou desconfortavelmente com a mensagem central da festividade: os grandes custos da liberdade e como facilmente nos esquecemos deles.

A festividade exorta os participantes não apenas a ler em voz alta a história do êxodo milagroso dos antigos israelitas da escravidão egípcia, mas a sentir — pessoalmente — que eles mesmos estiveram em cativeiro e depois foram libertados.

Estamos testemunhando uma geração de americanos que nunca foram sequer solicitados a imaginar-se em uma sociedade não livre — e que, portanto, são incapazes de compreender a enormidade das liberdades que eles presumem garantidas. Isso se mostrou em como alegremente — ao ponto de caricatura extrema — estudantes adotaram os gritos de guerra, exigências, trajes e imagens de grupos e governos islamistas implicitamente violentos, sob cujo governo eles se encontrariam brutalmente subjugados.

Como esses estudantes ficaram tão confusos sobre quais poderes e ideologias realmente protegem a liberdade humana? Eles recitaram em voz alta uma história invertida sobre a liberdade.

Eles entoam “reconhecimentos de terra” oficiais em Columbia que evocam as nações de nativos americanos que caminhavam ao redor de Morningside Heights [bairro de Manhattan] por séculos antes da universidade colocar sua primeira pedra de fundação. Eles aprendem que, ao contrário da pré-América — onde tudo era equitativo, tranquilo e tolerante — o que temos agora é “exclusão, apagamento e discriminação sistêmica”. Nunca são reconhecidos os soldados da Guerra Revolucionária Americana que derramaram seu sangue para que seus descendentes pudessem viver em uma sociedade comprometida com a proposição de que todas as pessoas têm o direito inalienável à liberdade.

Ao contrário: em suas aulas caras, os jovens da Ivy League [clube informal das mais importantes universidades americanas] são instruídos na ideia de que foram os colonos da era colonial que roubaram a liberdade dos povos indígenas. São os policiais, como os servidores públicos de capacete que laboriosamente limpavam tendas cheias de embalagens de fast food e panfletos marxistas dos gramados do campus esta semana, que restringem a liberdade ao encarcerar predadores. São os EUA, Israel e o Ocidente que usurpariam a liberdade, com seus direitos de propriedade baseados no capitalismo — que, na verdade, ajudaram a impulsionar os maiores avanços nos padrões de vida na história humana — e com seu compromisso com a livre expressão tão firme a ponto de permitir até noções bizarras como a ideia de que o sexo biológico é uma construção.

Os jovens americanos estão tão convictos de seu senso de merecimento que estão chocantemente cegos para sua própria vilania ao apropriá-la de outros. Manifestantes da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) bloquearam o acesso de judeus a bibliotecas do campus; estudantes de Columbia obstruíram praças e prédios daqueles cujas opiniões (sionistas) eles não gostam. No Salão Hamilton de Columbia, eles empilharam máquinas de venda automática contra portas e cadearam cadeiras e mesas para impedir o acesso ao elevador. Completamente iludidos sobre as responsabilidades que suas liberdades conferem, os estudantes então realizaram coletivas de imprensa alegando que a universidade estava recusando a eles a necessária “ajuda humanitária” ao não entregar comida e água para seus esconderijos invadidos e saqueados. Mesmo após a prisão, esses revolucionários da PFLP (Frente Popular pela Libertação da Palestina, grupo marxista do Oriente Médio) que tiram férias de primavera choramingaram sobre acesso limitado ao banheiro. “Eu realmente precisava fazer xixi o tempo todo”, reclamou um detido do City College após sua liberação — ecoando o pânico dramático de privação de absorvente das bravas libertadoras em uma ocupação na Universidade Vanderbilt em março passado.

Tão preciosa é a liberdade, ensina a história da páscoa judaica (Pessach), que o Deus bíblico sacrificou todos os primogênitos egípcios para convencer o Faraó a libertar os israelitas da servidão. É uma imagem tão horrível quanto as trágicas fotografias de crianças de Gaza mortas no conflito. E assim como o Egito poderia ter se poupado dessa e de outras nove pragas simplesmente libertando seus escravos, o Hamas poderia ter terminado a guerra antes de começar, libertando todos os reféns israelenses e renunciando a seus objetivos fundamentalistas e explicitamente genocidas.

Por milênios, civilizações foram inspiradas por essa história, que não trata de forma leviana o custo sombrio e necessário de garantir a liberdade daqueles que sacrificarão os próprios em vez de concedê-la.

Mas a liberdade muitas vezes parece barata para aqueles que nunca foram privados dela. Talvez a experiência de serem amarrados com abraçadeiras e temporariamente privados do acesso a papel higiênico de dupla camada tenha dado aos estudantes americanos um breve vislumbre do desconforto visceral de não ser livre. E isso deve ser uma lição para o resto de nós de que as histórias morais que contamos aos nossos filhos são o que eles vão botar em prática.

Hannah E. Meyers é pesquisadora e diretora de segurança pública no Manhattan Institute.

©2024 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: We Have a Freedom Problem.

Conteúdo editado por:Eli Vieira
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