A Coreia do Norte, alguns países da África e o Afeganistão estão no topo do ranking de perseguição elaborado pela Missão Portas Abertas. Nicarágua, Cuba e Colômbia subiram posições e ganharam destaque na lista. Mais de 360 milhões de cristãos enfrentam altos níveis de perseguição e discriminação por causa de sua fé. Esse número representa um em cada sete cristãos em todo o mundo.
A Lista Mundial da Perseguição (LMP) 2023 está na 30ª edição e abrange o período de 1º de outubro de 2021 a 30 de setembro de 2022.
Para o secretário-geral da Portas Abertas no Brasil, Marco Cruz, o ranking é uma referência do que tem acontecido no cenário internacional. “O crescimento da violência, de guerras, fome e perseguição étnica e religiosa refletem pontualmente no trabalho da Portas Abertas, que utiliza das informações dos países em que atua para trabalhar e apoiar de forma efetiva ao cristão perseguido”, explica.
Coreia do Norte volta ao topo da Lista
A Coreia do Norte voltou à primeira posição, onde – com exceção do último período do relatório – permaneceu desde 2002. Este ano, o país vê sua pontuação de perseguição mais alta de todos os tempos. Isso reflete um aumento nas prisões de cristãos e mais igrejas clandestinas descobertas e fechadas.
“Prisão significa execução ou prisão perpétua em um dos campos terrivelmente desumanos do país para prisioneiros políticos, onde os prisioneiros enfrentam fome, trabalhos forçados, tortura e violência sexual”, descreve o relatório.
O novo aumento vem com a aplicação da nova “Lei do Pensamento Antirreacionário”, que criminaliza qualquer material publicado de origem estrangeira na Coreia do Norte, além da Bíblia, que há muitos anos é proibida no país.
Isso levou à prisão ou execução de adolescentes que assistiam a programas sul-coreanos, como Round 6 (Squid Game). No entanto, também está sendo usado para rastrear Bíblias ou qualquer outro material cristão, impresso ou eletrônico.
“Os cristãos sempre estiveram na linha de frente do ataque do regime. Seu objetivo é acabar com todos os cristãos do país. Só pode haver um deus na Coreia do Norte, que é a família Kim”, revela Timothy Cho, fugitivo norte-coreano.
Violência na África
A região enfrenta uma vasta catástrofe humanitária, uma vez que uma onda de violência religiosa alimentada na Nigéria (7) varreu a região, atingindo populações cristãs em um ritmo alarmante em países como Burkina Faso (23), Camarões (45), Mali (17) e Níger (28). Sinais de expansão de radicais islâmicos também são claramente visíveis em Moçambique (32), República Democrática do Congo (37) e outros países. (Os números entre parênteses representam as posições que ocupam na LMP).
A violência contra os cristãos na África Subsaariana atingiu novos níveis alarmantes, à medida que militantes islâmicos violentos desestabilizam a região usando violência extrema.
A violência é mais extrema na Nigéria, onde militantes do Fulani, Boko Haram, Província do Estado Islâmico da África Ocidental (ISWAP, sigla em inglês) e outros realizam incursões em comunidades cristãs, matando, mutilando, violentando sexualmente e sequestrando principalmente mulheres e meninas.
Os assassinatos motivados por religião na Nigéria aumentaram de 4.650 no ano passado para 5.014 – 89% do total internacional. Essa violência forçou centenas de milhares de nigerianos a se refugiarem.
O governo da Nigéria continua a negar que se trata de perseguição religiosa, de modo que as violações dos direitos dos cristãos são cometidas impunemente.
“A violência contra cristãos continua crescente e, se analisarmos bem, a Nigéria é – pelo segundo ano consecutivo – o país com o maior número de cristãos assassinados por sua fé. O país é responsável por 89% das mortes de cristãos por sua fé em todo mundo”, pontua Cruz.
Afeganistão – Um ano depois
O Afeganistão caiu do número 1 em 2022 para o número 9 na lista deste ano. No entanto, a queda acentuada não significa que o cristão afegão não está mais enfrentando extrema perseguição.
Após o golpe brutal em 2021, muitos cristãos foram executados, enquanto o Talibã ia de porta em porta para erradicar os cristãos. Muitos se esconderam ou fugiram para o exterior.
Ao longo de 2022, o foco do Talibã se intensificou para erradicar aqueles com ligações com o antigo regime, mais do que erradicar o número muito pequeno de cristãos remanescentes.
“Nossa situação é desesperadora. Minha mãe e eu conseguimos cruzar a fronteira para outro país. Estou rezando para poder deixar este país e ir para algum lugar seguro. Posso ter que me esconder ou serei deportado para o Afeganistão. Se isso acontecer, posso ser morta”, lamenta Zabi, cristã afegã refugiada.
América Latina
Dos países da América Latina que já estavam na Lista Mundial do ano passado, todos aumentaram em muito a sua colocação: Cuba foi o que mais cresceu no ranking, subindo de 37ª para 27ª posição. Isso se deu por conta do aumento da pressão e violência, já que a ditadura intensificou suas táticas repressivas contra todos os líderes cristãos e ativistas que se opõem aos princípios comunistas.
Já Colômbia subiu oito posições, passando da 30ª para a 22ª colocação; México de 43º para 38º.
E o novo país da região a compor a LMP2023 é a Nicarágua. A opressão direta do governo contra os cristãos vistos como vozes da oposição é comum na Nicarágua onde líderes cristãos foram presos sem julgamento por sua participação nas manifestações de 2022. A Nicarágua está em 50ª posição, 14 acima da 64ª que ocupava no ano passado na Lista de Países em Observação.
“A América Latina também é uma região que merece atenção especial este ano. A opressão direta do governo contra os cristãos vistos como vozes da oposição é comum em países com regimes autoritários na América Latina. Além disso, o crime organizado se instalou, especialmente nas áreas rurais para os cristãos que se manifestam contra as atividades dos cartéis”, conclui Marco Cruz.
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