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Repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward na redação do jornal The Washington Post, no início dos anos 1970 | EFE
Repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward na redação do jornal The Washington Post, no início dos anos 1970| Foto: EFE
  • Os jornalistas Bob Woodward (esquerda) e Carl Bernstein na redação do Washington Post
  • O Presidente Richard Nixon no discurso de renúncia após o escândalo do Watergate
  • O ex-presidente dos Estados Unidos Richard Nixon, que renunciou após o escândalo do Watergate
  • Uma das capas do jornal Washington Post durante a cobertura do escândalo de Watergate
  • O Edifício Watergate em fotografia tira em 2009
  • Fachada de restaurante que utiliza o escândalo do Watergate para chamar os clientes
  • Pessoas leem sobre a renúncia do presidente dos Estados Unidos em jornais da época

A única renúncia de um presidente na história dos Estados Unidos foi detonada por uma investigação jornalística. Mar­­co da imprensa, o caso começou com uma invasão ao comitê do Partido Democrata no edifício Watergate, em Wa­shington. O crime estava diretamente ligado ao chefe de estado Richard Nixon e completa 40 anos no próximo dia 17.

>>SLIDESHOW: Veja imagens dos envolvidos na época em que ocorreu escândalo

>> Confira uma entrevista com Eugênio Bucci, jornalista

Dois repórteres do jornal­­ The Washington Post, Bob Wo­­od­­ward e Carl Bernstein, co­­bri­­ram o caso por quase dois­­ anos. Com uma apuração­­ exem­­plar, a dupla revelou­­ que­­­­­­­­ o comitê para reeleição de­­­­ Nixon mantinha um grupo­­ de­­ sabotagem aos de­­mocratas.­­ O­­ escândalo resultou­­ na pri­­são­­ dos envolvidos e na que­­da­­ do­­ pre­­sidente.

A série de reportagens sobre o caso é uma das mais emblemáticas na história da co­­mu­­nicação. "É um momento que mostra o poder da inves­­tigação da imprensa, que mantém um papel fundamen­­tal na manutenção de uma so­­cie­­dade democrática", diz Fran­­cisco Karam, professor­­ do­­ curso de Jornalismo da Uni­­­­­­versidade Federal de San­­ta­­ Catarina.

Para Karam, o grande diferencial da cobertura é que, após o arrombamento do comitê democrata, somente o Washington Post prosseguiu investigando os envolvidos. "É um exemplo para quem começa na profissão. Os repórteres se debruçaram sobre os fatos, conversaram com centenas de pessoas e isso resultou num ato de grande significado, que é a renúncia de um presidente."

Para a professora do curso de Jornalismo da Universidade Positivo Elza Oliveira Filha, o exemplo de Watergate deve ser continuamente lembrado. "Precisamos mostrar a necessidade do aprofundamento na investigação jornalística. Temos muitas reportagens de denúncia hoje, mas poucas matérias investigativas", diz.

Elza, que sempre indica filmes e livros sobre o tema aos alunos, afirma que a apuração de Woodward e Bernstein representa o melhor do trabalho jornalístico. "É o caso que mostra que temos um papel fundamental na hora de mudar o mundo."

Impacto

Além de servir de padrão para o jornalismo investigativo – que inspira reportagens como as séries "Diários Se­­cretos" (sobre desvio de verbas na Assembleia Legislativa do Paraná) e "Polícia Fora da Lei" (que denúncia abusos de poder da força policial paranaense), publicadas pela Gazeta do Povo –, o escândalo do Wa­­tergate teve grandes conse-quências políticas. A mais evidente é a mudança no governo norte-americano.

"Nixon foi o último presidente dos EUA a representar o conservadorismo atrasado da década de 1950. Sua saída coincidiu com o declínio desse modelo", diz o cientista político Luis Gustavo Grohmann, da Universidade Federal do Rio­­ Grande do Sul.

Segundo ele, a renúncia de Nixon, o fracasso na Guerra do Vietnã e a crise de acumulação de capitais nos anos 70 mudaram a agenda política norte-americana. "O país partiu para uma agenda neoliberal depois do caso, que também reforçou o controle da corrupção no governo."

O historiador Sean Purdy, da Universidade de São Paulo, acrescenta que, além das mudanças políticas, Watergate também serviu para difundir a desconfiança do governo. "Posteriormente, descobriram que Nixon espionava movimentos sociais. Todo o caso piorou com a arrogância do presidente, que achava que podia fazer o que queria no cargo."

Herança

Purdy afirma que o escân­­dalo "ensinou" os governos posteriores a lidar com a mídia. "Na época, a guerra do Vietnã foi televisionada. Em 2003, a imprensa americana não tinha cobertura exclusiva da Guerra do Iraque. O que se via na tevê era o que tinha sido vendido pela gestão de [George W.] Bush", observa.

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