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O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, durante o evento com alguns evangélicos no último dia 6
O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, durante o evento com alguns evangélicos no último dia 6| Foto: EFE/Prensa Miraflores

Uma “união de homens e mulheres que creem em Deus”. É assim que se define o Movimento Cristão Evangélico pela Venezuela (Mocev).

Criado em 2017, o Mocev tem sido nos últimos anos o braço direito do chavismo dentro da comunidade evangélica venezuelana, principalmente nos períodos eleitorais.

Por meio de um blog, que pertence a uma de suas coordenações estaduais, o Mocev diz que conta com a participação de diversos representantes de igrejas cristãs evangélicas da Venezuela. Ao todo, cerca de 5 mil pastores associados integram o movimento, que afirma também ter uma estrutura presente em todos os 24 estados do país.

Nas controversas eleições presidenciais venezuelanas de 2018, o Mocev declarou abertamente seu apoio à reeleição do ditador Nicolás Maduro. A disputa presidencial naquele ano ficou marcada pelas acusações de fraude, a alta abstenção no dia da votação e o boicote da oposição, perseguida e censurada pelo regime chavista.

O Mocev, naquele momento, não só apoiou Maduro como também endossou a continuidade do regime opressor iniciado pelo falecido ditador Hugo Chávez.

A relação entre o Mocev e o regime de Maduro não é apenas simbólica. O movimento, que também se identifica como “sociopolítico”, é presidido pelo autointitulado pastor Moisés García, que é deputado na Assembleia Nacional, o parlamento venezuelano, pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), do qual faz parte o atual ditador chavista.

Pelas redes sociais, García se mostra como um fervoroso seguidor de Maduro e do chavismo. Seu perfil no Instagram está recheado de fotos com o ditador venezuelano, uma delas, inclusive, é sua foto de perfil, e de imagens de campanhas realizadas pelo movimento.

A aliança entre o Mocev e a ditadura venezuelana se manifesta publicamente por meio de atos religiosos de evangélicos, eventos governamentais e ações do PSUV. Nesses locais, é comum ver pastores e seguidores do Mocev se unindo em “oração” para pedir “bênçãos” para o regime e demonstrar apoio ao chavismo.

Durante os períodos eleitorais, o Mocev costuma oferecer ao chavismo lideranças evangélicas locais importantes para realizar comícios e eventos de campanha que visam atrair o apoio dos evangélicos, especialmente dos mais pobres, para quem são oferecidas cestas básicas, suprimentos e anúncios de programas governamentais que muitas vezes não são cumpridos.

No começo deste mês, para tentar alcançar os evangélicos que não integram o movimento, Maduro anunciou que estava elaborando um plano para baixar os impostos das igrejas. O ditador também mencionou que iria intensificar o seu plano de reformas e entrega de mobílias para templos, o “Minha Igreja Bem Equipada”, que foi anunciado no ano passado.

“Vamos consertar a igreja, condicioná-la, equipá-la totalmente com o que ela precisa, trabalhar pela oração”, disse Maduro, também indicando naquele momento que iria diminuir as taxas para abertura de novos templos evangélicos na Venezuela.

Além do programa para equipar as igrejas, o regime chavista também criou, em 2023, o “Bônus do Bom Pastor”, uma ajuda financeira dirigida a líderes de comunidades cristãs que estejam registrados na plataforma governamental conhecida como “Sistema Pátria”, ou seja, que estejam alinhados com as políticas de Maduro, assim como o Mocev faz, conforme informou o site independente Efecto Cocuyo.

Na visão do cientista político Daniel Santolo, a aproximação do chavismo com os evangélicos é uma forma de fazer contrapeso a influência da Igreja Católica no país, que em partes é mais crítica ao regime.

"Os governos de esquerda tendem a fazer essas alianças com correntes religiosas além do catolicismo para equilibrar a influência da Igreja Católica”, disse Santolo em entrevista concedida ao portal Efecto Cocuyo, pontuando ainda que essa aproximação também pode ser vista como uma forma de o regime conseguir apoio nas bases mais carentes do país sul-americano.

"O movimento evangélico, assim como outros cultos [...], tem uma presença significativa nos setores populares devido à sua fácil penetração, o que é percebido pelo governo como uma oportunidade para influenciar por essa via e possivelmente como um elemento de pressão sobre a Igreja Católica. [...] Os evangélicos são bem organizados, realizam visitas domiciliares, pregam em praças públicas; são lideranças consideradas necessárias neste momento, especialmente diante dos próximos processos eleitorais", disse Santolo, afirmando que “na Venezuela, o número de seguidores da igreja evangélica aumentou, embora ainda seja menor em comparação com a católica”.

Apesar de tudo isso, o Conselho Evangélico Venezuelano, que existe no país desde 1972, e é afiliado a outros movimentos internacionais, afirma que nem todos os evangélicos venezuelanos apoiam a posição do Mocev. A organização deixa claro que muitas igrejas da qual tem conhecimento no país defendem a separação entre o Estado e Igreja.

A aproximação de Maduro com os evangélicos contrasta com a situação de perseguição e violência que os cristãos, de forma geral, enfrentam na Venezuela, segundo denuncia a ONG Portas Abertas, que monitora a liberdade religiosa no mundo.

A ONG relatou que autoridades venezuelanas geralmente não permitem oposição ou críticas ao regime dentro das igrejas, o que significa que diversos líderes religiosos correm o risco de serem alvos de ações repressivas da ditadura caso decidam denunciar irregularidades ou ilegalidades que ocorrem pelo país durante as atividades nos templos.

Atualmente, a Venezuela ocupa o 53º lugar na Lista Mundial da Perseguição de 2024, elaborada pela Portas Abertas, que classifica os países onde os cristãos enfrentam mais hostilidade por causa de sua fé.

Oração para “derrubar as sanções” e aproximação com a Universal de Edir Macedo

Com as eleições presidenciais marcadas para ocorrer no dia 28 de julho, que por sinal é o dia do aniversário do ditador Chávez, Maduro voltou a fazer campanha junto aos evangélicos e o Mocev.

O pleito presidencial deste ano já está sendo marcado pela intensa perseguição do chavismo contra a oposição, que resultou, inclusive, na substituição de María Corina Machado, a candidata mais forte escolhida pela plataforma opositora para enfrentar o ditador chavista que, ao que tudo indica, deverá se perpetuar no poder.

No último dia 7, Maduro se reuniu com cerca de 17 mil pastores evangélicos da Venezuela para buscar, segundo informações do portal argentino Infobae, a “intercessão divina para o levantamento das sanções internacionais”, impostas contra o país por causa da existência de diversas denúncias sobre repressão e perseguição persistente contra opositores.

Vestidos de branco, Maduro e sua esposa, Cilia Flores, acompanharam em silêncio uma oração liderada pelo bispo da Igreja Universal na Venezuela, Ronaldo Santos. No Brasil, membros da igreja, que é presidida por Edir Macedo, geralmente são críticos do regime chavista. Já na Venezuela, ao que tudo indica, pode estar ocorrendo uma tentativa de aproximação entre Maduro e a Universal.

Na sua oração, Santos "clamou aos céus" pela remoção dos bloqueios internacionais e das sanções que, segundo disse ele, “tem impedido” a Venezuela de “se destacar, de seguir em frente”.

O evento com os pastores também foi propício para que o ditador venezuelano anunciasse novos “benefícios” para a comunidade evangélica.

No local, Maduro disse que iria incluir cerca de 20 mil novos pastores no sistema do “Bônus do Bom Pastor”, o dinheiro repassado para aqueles que se alinham com as políticas chavistas. Ele também voltou a prometer mais espaços para evangélicos nas televisões do país e a expansão do programa de reformas dos templos.

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