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 | Tiffany Ford/The New Yorkl Times
| Foto: Tiffany Ford/The New Yorkl Times

Quando comecei a faculdade, em 1997, tive meu primeiro endereço de e-mail, assim como a maioria dos meus colegas. Ao longo dos quatro anos seguintes, enviei e recebi inúmeras cartas aos amigos, hábito que persistiu uma década ou mais depois da formatura.

No entanto, não me lembro da última vez em que escrevi ou li um e-mail com mais de quatro ou cinco parágrafos recheados de intimidades. Talvez o declínio da minha escrita esteja ligado à minha idade e profissão: atualmente tenho uma disposição (um pouquinho menor) para reflexões e introspecção Knausgaardianas e gasto mais energia escrevendo para o trabalho.

Meu uso, cada vez mais raro, do e-mail pessoal, reflete a tendência global. Segundo o Grupo Radicati, uma empresa de marketing tecnológico, os usuários de e-mails comerciais hoje recebem e mandam uma média de 122 mensagens/dia. Enviar e abrir todos esses envelopes virtuais tem um preço: de acordo com o relatório de 2012 da McKinsey, os funcionários passam cerca de 28 por cento do dia usando a ferramenta.

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“Quase nunca recebo um e-mail longo de alguém”, conta John Freeman, crítico literário e autor do livro de não-ficção “The Tyranny of E-Mail” (“A Tirania do E-Mail”). Ele compara a época atual, em que “todo mundo está com a caixa de mensagens abarrotada” com sua fase pós-formatura, no fim dos anos 90, “quando o pessoal ainda escrevia e-mails longos e havia um clima de empolgação em relação à tecnologia que fazia com que a conectividade fosse espontânea”. Se houve uma época de ouro do e-mail pessoal epistolar, ela deve ter começado mais ou menos nessa época e terminado por volta de 2006.

As origens do correio eletrônico remontam a iniciativas acadêmicas e militares dos anos 60. Na década de 90, surgiram serviços comerciais como o AOL Mail (1992), HoTMaiL da Microsoft (no estilo original de 1996) e o Yahoo Mail (1997). Com o dilúvio ininterrupto de e-mails profissionais, passamos a ignorar mensagens. Outros veículos de comunicação digital facilmente ignoráveis – textos, tuítes, Instagrams – também deterioraram nossa capacidade de resposta. Mas há quem ainda tenha energia para zerar as pastas de e-mails. Emma Allen, 27 anos, por exemplo, calcula receber umas 200 mensagens profissionais por dia graças ao trabalho na revista The New Yorker magazine. “Se não consigo responder todas as mensagens do dia, tanto pessoais como profissionais, não consigo dormir à noite”, confessa.

E diz que reduziu a troca de mensagens pessoais. “Se você entra numas de escrever muito, aí fica naquele vai e vem demorado e não dá para eliminar todos, como gosto de fazer diariamente. Minha mãe me manda uns textos de 900 palavras, com umas quinze perguntas logísticas. Toda vez que abro um, tenho um ataque de pânico.”

Talvez Emma tenha nascido em uma época tardia para se identificar com o correio eletrônico – afinal, quando chegou à faculdade, em 2006, os torpedos e redes sociais já começavam a ganhar espaço. “Quando alguma coisa acontece comigo, conto para todo mundo em mais de 16 meios de comunicação”, explica.

Estamos acostumados à gratificação instantânea dos torpedos e mensagens instantâneas.

“Se você comparar ao que era há trinta, quarenta anos, com a pessoa ali à escrivaninha, datilografando, o telefone que não tocava e o correio que vinha duas vezes por dia, percebe o excesso de distrações de hoje. As pessoas passaram a reagir mais rápido e, nesse contexto, ninguém mais tem a concentração necessária para produzir e-mails longos e bem escritos”, diz Freeman.

As gerações mais novas são ainda mais avessas à opção. “Tenho um sobrinho na Inglaterra que tem doze anos; pedi seu endereço de e-mail e ele disse que não tinha, mas que podia conversar no Viber”, prossegue, referindo-se ao aplicativo que permite aos usuários fazer ligações e mandar torpedos de graça.

“Ele não tem noção nenhuma dessa coisa de trocar mensagens longas – o que é uma pena porque há certas coisas que só podem ser expressas com um pouco de reflexão, em parágrafos complexos.”

E mesmo a correspondência à moda antiga, mas curta, não funciona com os parentes mais jovens.

“Mando postais para os meus sobrinhos, mas eles nunca respondem”, lamenta Freeman.

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