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O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro: regime venezuelano tem laços com o grupo terrorista desde a época de Hugo Chávez
O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro: regime venezuelano tem laços com o grupo terrorista desde a época de Hugo Chávez| Foto: EFE/Miguel Gutiérrez

O grupo terrorista xiita libanês Hezbollah, que havia voltado a ser notícia internacional nas últimas semanas devido aos seus ataques a Israel em meio à guerra do Estado judeu contra o Hamas, foi destaque na imprensa brasileira nesta quarta-feira (8).

Duas pessoas foram presas pela Polícia Federal (PF) em São Paulo, por suspeita de ligação com o grupo libanês e de planejarem atentados contra prédios da comunidade judaica no Brasil.

A notícia surpreendeu muita gente, mas o Hezbollah, cujo maior apoiador é o Irã, atua na América do Sul há décadas, com fortes ligações com o crime organizado e as ditaduras de Hugo Chávez e Nicolás Maduro na Venezuela. Confira abaixo algumas das principais informações sobre essas conexões:

 Venezuela

O Hezbollah tem uma grande parceria com o governo Maduro, que dá guarida a integrantes do grupo terrorista.

Um relatório de 2020 do think tank americano Atlantic Council destacou os laços de figuras importantes do chavismo, como o ex-chefe da contrainteligência militar venezuelana Hugo Carvajal Barrios, e o Hezbollah.

“A localização estratégica da Venezuela na América do Sul e na encruzilhada do Caribe dá ao Irã e ao Hezbollah a capacidade de diminuir sua desvantagem geográfica em relação aos Estados Unidos. Para esconder essa relação, Chávez e depois o regime de Maduro forneceram identidades duplas para oriundos do Oriente Médio, construindo uma rede clandestina que fornece inteligência, treinamento, dinheiro, armas, suprimentos e know-how para os regimes de Maduro e [do ditador sírio Bashar al-]Assad”, destacou o documento.

Segundo o Atlantic Council, clãs libaneses-venezuelanos-colombianos integram uma rede transregional que dá apoio às atividades do Hezbollah e fornece uma base logística na Venezuela que permite que a ditadura de Maduro e grupos a ela associados, incluindo dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN), expandam operações.

Na avaliação do think tank, “o Hezbollah ajudou o regime de Maduro a se tornar o centro para a convergência do crime organizado transnacional e do terrorismo internacional no Hemisfério Ocidental, multiplicando os benefícios logísticos e financeiros para ambos”.

Em 2021, informações acessadas por hackers que invadiram o sistema da Diretoria Geral de Contraespionagem Militar da Venezuela, reveladas pelo jornal Israel Hayom, também detalharam como a ditadura de Maduro fornece abrigo para integrantes do Hezbollah.

As informações apontaram que membros do grupo terrorista libanês entraram na Venezuela pela Ilha de Margarita como estudantes de língua espanhola contemplados em “programas de estudos do governo”.

Ainda de acordo com o Israel Hayom, há relatos de que os integrantes protegidos pela ditadura venezuelana estariam envolvidos no tráfico de armas e drogas e em lavagem de dinheiro para financiar o terrorismo – parte deles são da família Maklad, originalmente da aldeia síria de As-Suwayda, perto da fronteira com a Jordânia, e que também atuaria no tráfico de minérios e tráfico humano.

Em 2019, um dossiê entregue ao The New York Times por um ex-oficial da inteligência venezuelana e confirmado por outro havia reunido depoimentos de informantes que acusavam o ex-ministro do Petróleo e ex-vice-presidente venezuelano Tareck El Aissami e seu pai de recrutar membros do grupo libanês para ajudar a expandir redes de espionagem e tráfico de drogas na região.

Uma fonte da reportagem do Israel Hayom apontou que o então ministro era “diretamente ligado” à família Maklad, beneficiada com “proteção” e “imunidade” a ponto de transformar a Ilha de Margarita em seu “reinado”.

Acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de drogas, El Aissami foi adicionado em 2019 à lista de mais procurados da Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês), elaborada pela unidade de investigações de segurança interna.

No mesmo ano, o parlamentar da oposição Américo de Grazia afirmou que o Hezbollah explorava minas de ouro no Arco Mineiro do Orinoco, projeto da ditadura chavista que expandiu a devastação da Amazônia venezuelana.

Brasil, Argentina e Paraguai

O Hezbollah desenvolve diversas atividades nos três países. Uma reportagem recente da Gazeta do Povo mostrou que, segundo investigações da PF, a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) se aliou ao grupo terrorista libanês para operações na tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, em Foz do Iguaçu (PR).

Além disso, a parceria entre PCC e Hezbollah também teria braços de atuação nos portos brasileiros para o transporte ilegal de drogas, armas e munições exportadas e importadas pelo crime organizado no Brasil.

A parceria de mais de duas décadas inclui envio de armas pelos terroristas para o PCC, além de treinamento de faccionados com técnicas de guerrilha. Em contrapartida, o PCC auxilia o grupo terrorista na capitalização e investimentos para financiamento das ações do Hezbollah, inclusive, por meio do tráfico internacional de drogas.

O ex-presidente paraguaio Horacio Cartes (2013-2018) foi alvo de sanções dos Estados Unidos devido a acusações de contrabando de cigarros, lavagem de dinheiro e financiamento ao Hezbollah.

Na Argentina, o grupo terrorista foi apontado como responsável pelos atentados contra a Embaixada de Israel em Buenos Aires, em 1992, e contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em 1994, que juntos somaram mais de 110 mortos.

O procurador argentino Alberto Nisman, encontrado morto no seu apartamento em 2015, investigava o atentado à Amia.

Seu trabalho levou à inclusão de seis iranianos e um libanês na lista dos mais procurados da Interpol em 2007 e apontou ramificações do Hezbollah no Brasil: 12 associados ao grupo terrorista moraram, estiveram no país e/ou mantiveram negócios aqui, segundo reportagem de 2013 da revista Veja. Ao menos quatro deles estiveram envolvidos no atentado de 1994 na Argentina.

Outros países

Na Colômbia, além das já citadas ligações com grupos armados, o Hezbollah teve conexões expostas em sanções anunciadas em setembro pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos contra sete indivíduos e organizações.

Um dos alvos das sanções, Amer Mohamed Akil Rada, foi descrito como “um dos membros operacionais” do atentado à Amia na Argentina. Segundo o governo americano, ele morou mais de dez anos na América do Sul antes de se mudar para o Líbano.

Na Colômbia, ele administrou um negócio de carvão que destinava 80% dos seus rendimentos para o Hezbollah.

Um relatório do ano passado do think tank Instituto Washington de Políticas para o Oriente Próximo destacou casos que indicam a abrangência da atuação do Hezbollah na América do Sul.

Em 2014, a polícia do Peru prendeu um agente do grupo terrorista no distrito de Surquillo, em Lima, por planejar um atentado. No mesmo ano, um ataque contra civis foi evitado no Chile após investigação dos serviços de segurança.

Em 2017, afirmou o Instituto Washington, as autoridades bolivianas localizaram um armazém do Hezbollah e apreenderam material explosivo que seria suficiente para produzir uma bomba de duas toneladas e meia. Embora pareça novidade para muitos, a atuação do Hezbollah na América do Sul expande tentáculos e é uma realidade há décadas.

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