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Nos últimos anos a classe média urbana teve crescimento significativo aumentando o consumo e, consequentemente a pressão sobre os recursos ambientais. Segundo relatório de 2013 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em 2009 a classe média global correspondia a 27% da população do planeta, as projeções indicavam que em 2020, seriam 47% e em 2030, já seriam a maioria com 59% do total de habitantes. Essa classe média global tem uma característica comum que é a avidez pelo consumo de novos produtos que dependem para a sua fabricação de recursos naturais. Esse cenário indica um quadro de insustentabilidade do atual modelo de produção e consumo, pois a natureza não tem como satisfazer a essas crescentes necessidades.

A sustentabilidade não é uma opção, mas uma obrigação

Acontece que as empresas veem esse quadro como uma oportunidade de oferta de produtos para atender às necessidades dos novos consumidores (e consequentemente aumentar seus lucros). Por outro lado, são pressionadas por amplas camadas da população exigindo que as organizações adotem soluções criativas para resolver problemas que afetam o meio ambiente.

A situação no meio empresarial é que muitos ainda consideram que a sustentabilidade é um modismo passageiro, e que basta resistir às pressões ou atendê-las superficialmente que se manterão competitivos no mercado. Este é um erro que pode ser fatal para o seu negócio. Pois as empresas são afetadas particularmente porque ao longo dos últimos 200 anos trataram o ambiente natural como fonte de matéria-prima inesgotável, beneficiando-se de sua exploração.

No momento atual, a sustentabilidade deve ser entendida como uma mudança radical da relação do homem com a natureza e do ser humano com ele próprio. Do ponto de vista corporativo a sustentabilidade não é uma opção, mas uma obrigação no que diz respeito ao papel das empresas na sociedade e uma necessidade quando se trata de sua própria sobrevivência.

Por exemplo, nos próximos anos as preocupações globais com as mudanças climáticas se transformarão em compromissos assumidos coletivamente pelos países (no final deste ano ocorrerá em Paris à reunião que definirá o novo protocolo que substituirá o de Quioto), que se converterão em regulações nacionais fazendo com que as empresas, obrigatoriamente, assumam um papel mais relevante no combate ao aquecimento global, reduzindo suas emissões de gases que provocam o efeito estufa. Trata-se aqui da sobrevivência de todos, logo serão medidas inegociáveis.

Para as empresas, assumir padrões de sustentabilidade não serve somente para que estas sobrevivam às necessárias mudanças que a sociedade exige. Há inúmeras oportunidades que se abrem para aquelas organizações que transformarem seus métodos de produção. A variável da sustentabilidade dentro dos processos empresariais faz com que busquem soluções mais eficientes e, portanto, mais rentáveis, por exemplo, na utilização da energia e dos recursos naturais.

Além disso, a revisão dos processos produtivos para torná-los mais eficientes, leva as empresas a buscarem inovação, o que permitirá que alcancem, sustentem e melhorem sua posição no mercado adotando uma forma de competitividade responsável.

A ideia de empresa isolada da sociedade, tendo como preocupação primordial a obtenção de lucro a qualquer custo, vai gradativamente sendo superada pela concepção de que as organizações, além de cumprirem sua função social de atendimento às demandas de grupos de consumidores, devem condicionar sua atividade a uma agenda de responsabilidade social vinculada ao atendimento do bem comum.

A construção desta agenda implica, também, no reconhecimento da necessidade de formação de alianças estratégicas com parceiros fora da iniciativa privada, que podem ser tanto as administrações públicas, quanto as organizações do terceiro setor. A consequência dessas ações é a formação de novos tipos de articulações com interesses comuns alinhados na perspectiva do desenvolvimento sustentável.

Portanto, a competitividade entendida como a capacidade de uma empresa manter sistematicamente vantagens comparativas que lhe permitam alcançar, sustentar e melhorar uma determinada posição no mercado, somente pode ser obtida ao se adotarem práticas sustentáveis que incluam além do aspecto econômico, valores ambientais e sociais. Em resumo, em termos de sustentabilidade, ou mudam as empresas ou perecerão vítimas de uma paralisia que as impede de enxergar a realidade.

Reinaldo Dias é mestre em Ciência Política e doutor em Ciências Sociais pela Unicamp.
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