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No seu último dia de governo, JK preparou-se para ir à cerimônia de posse do novo presidente, Jânio Quadros. Não ocupava mais o palácio, mas uma suíte do Hotel Nacional. Contemplava a cidade que inaugurara havia pouco. Estava em silêncio, sozinho, fazendo hora para deixar ao mesmo tempo o governo e a sua obra.

Um amigo entrou e perguntou-lhe o que ele agora esperava da vida. Sem tirar os olhos da cidade, que tanto trabalho lhe custara, ele respondeu: "O tédio".

Anos depois, quando escreveu este trecho de suas memórias, sugeri-lhe que excluísse esta cena, ou que a reescrevesse de outro modo. Afinal, depois de deixar o governo, ele teria lances dramáticos em sua vida pessoal e política. Processos, cassação, prisão e exílio.

Do seu escritório no edifício da Manchete, olhando a paisagem de que tanto gostava, a Guanabara inteira a seus pés, ele insistiu: "Deixa como está. O tédio...".

Penso nele e no caso de Lula, que está mais ou menos na mesma situação. Deixando oito anos de poder e trabalho, lembrei aquela frase final do rei Édipo. Ninguém pode se considerar isso ou aquilo até que a cena derradeira feche seus olhos, sendo que, no caso do rei, ele já estava cego.

Nunca antes neste país houvera um presidente como JK. No final daquela tarde, ao tomar o avião deixando Brasília, levado por uma multidão que o consagrava, Afonso Arinos fez o comentário: "Isto não é um ocaso, é uma alvorada".

A situação de Lula é diferente. Deixa no poder a criatura que criou, sua taxa de popularidade é recorde, seu prestígio internacional é imenso. O que o espera? O retorno glorioso em 2014? Uma reviravolta na opinião pública que o colocará na defensiva? Qualquer que seja a resposta, uma coisa é certa: o tédio.

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