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Domingo passado, publiquei neste mesmo canto uma crônica que finalizava com a absolvição de Deus e do governador Sérgio Cabral quanto às enchentes na região serrana do Rio de Janeiro (‘DNA das tragédias’). Lembrando o Dilúvio, a destruição de Sodoma e Gomorra, botava a culpa de tudo em nós mesmos.

Afinal, o erro ou a incúria das autoridades, sejam elas de ordem divina ou administrativa, têm como causa a apatia de todos nós, cidadãos que se esquecem de orar a Deus (é o meu caso) e votam em outros cidadãos que ocupam o poder, seja ele federal, estadual ou municipal.

No regime democrático em que vivemos, ninguém assalta o poder, como nas ditaduras. Somos nós que elegemos as autoridades e se elas, ao longo do tempo, não cuidam do bem público, a culpa é nossa pelas deficiências daqueles que escolhemos para nos governar.

Não estou dizendo nada de novo. Só para dar um exemplo, o maior tirano da história, Hi­­tler, foi eleito pelo povo alemão em 1933. Po­­demos concluir daí que existe realmente uma culpa coletiva, que não deve ser cobrada com a extinção de uma raça ou de um povo. Ela deve servir apenas de lição, para não repetir erros ou equívocos num estado de direito.

Não gosto de citações metidas a erudição, mas não é demais lembrar o poema de John Donne que começa com "Nenhum homem é uma ilha" e tem como final o verso que Hemingway usou para o título de um de seus melhores romances: "Não perguntes por quem os sinos dobram, eles dobram por ti".

É, de certa forma, uma decorrência da culpa coletiva, da qual falei acima. A maior tragédia natural do Brasil escalonou vítimas. Muitas morreram e nada mais podem fazer. Outras, nós todos, ficamos horrorizados. E mandamos colchões e biscoitos para os sobreviventes.

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