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 | Marcelo Camargo/Agência Brasil
| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O dualismo americano, de matriz calvinista e moral kantiana, vem se imiscuindo no discurso político brasileiro, para prejuízo nosso. A tradição conservadora brasileira, e mesmo luso-brasileira, é uma tradição de busca de acordos que só teria a ganhar com um diálogo maior. Ora, o dualismo americano, em virtude de sua “moral” kantiana, impede liminarmente qualquer diálogo. O inimigo é sempre, por definição, burro ou mal-intencionado, e com tais tipos não há como se conseguir chegar a acordo algum. O máximo que se pode ter é um falso acordo, à moda dos tratados feitos com os índios ou – paradoxalmente – dos falsos acordos de paz da cultura jihadista. Já a nossa cultura sempre prezou ao máximo a busca de pontos em comum, evitando ao máximo o confronto aberto por não o considerar digno de homens de bem. Afinal, o confronto aberto é uma derrota do diálogo. E o confronto aberto no modelo americano de terra arrasada, em que o inimigo é liminarmente percebido como subumano, é desumanizador tanto de quem é percebido como subumano quanto de quem tem essa horrenda percepção.

O PT iniciou um processo de partidarização de órgãos inteiros, incluindo o STF

O PT conseguiu conquistar enorme parcela do eleitorado que pertence ao serviço público – coisa que já seria melhor que não existisse – e, com seus sucessivos governos, iniciou um processo de partidarização de órgãos inteiros, preparando-os para atrapalhar, em vez de ajudar, governos oposicionistas. O mesmo foi feito no STF, com nomeações abertamente políticas, inclusive de pessoas completamente despreparadas por qualquer critério técnico, como foi o caso de Dias Toffoli. A resposta da nova direita, contudo, é fazer o mesmo com sentido oposto, ajudando a transformar o STF num segundo Legislativo em que a distribuição de cadeiras por alinhamento partidário seria a norma. Ora, se nem no nosso Legislativo isso ocorre, com uma vasta maioria de fisiológicos que simplesmente analisam caso a caso de acordo com os próprios interesses, que dirá levar semelhante horror ao STF.

Mas foi este o clima das campanhas em prol de candidatos ao STF, que fizeram com que qualquer candidato que viesse a ser escolhido fosse diminuído em sua honra e considerado mero estafeta, representante vulgar de um partido, nomeado por forças quase eleitoreiras, no mínimo demagógicas e no máximo populistas. Já é ruim demais que o PT tenha enchido o STF de tais figuras; é um absurdo que se queira fazer disso situação permanente.

Teria sido de meu agrado que Ives Gandra Filho tivesse sido nomeado ministro do STF em qualquer outra ocasião; nesta, folgo por não ter sido ele o escolhido. Alexandre de Moraes (PSDB-SP) fez campanha aberta, para sua vergonha, e para a nossa ganhou o cargo.

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