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Comentando, no site do jornal, um texto desta coluna ("Material humano"), uma leitora escreveu: "O sentimento que carrego como futura docente é de solidão, não posso compartilhar ideias com ninguém". Estas palavras me impactaram muito e por isso a coluna de hoje é dedicada a ela e a todos os que se sentem de modo semelhante.

Frequentemente temos a impressão de que os bons, os idealistas, os que se dedicam ao bem dos demais, são poucos e solitários. Já os conformados com o mundo, os que não se dedicam ao bem, os que vivem só para si, parecem ser maioria e ter sempre companhia.

Há muitas razões para isso. Conheço pessoas verdadeiramente grandes, idealistas e dedicadas aos demais, que são incapazes de reconhecer o mesmo desejo de bem em alguém que pensa diferente delas. Ficam sozinhas porque estão fechadas em esquemas ideológicos, não querem aceitar o outro.

O poder também procura nos convencer de que não vale a pena ser bom, perseguir um ideal, dedicar-se ao bem ou à beleza. Quem é dócil ao poder, acomodado à situação, encontra facilmente outros como ele, todos dedicados a ganhar o máximo sacrificando-se o mínimo, a seguir o poder sem se arriscar.

Nossa sociedade parece buscar a autonomia individual, a liberdade e o reconhecimento dos direitos de todos. Mas na verdade estimula o conformismo, a homogeneidade e a homologação do protagonismo na vida ao poder.

A armadilha do poder é fazer com que os bons se sintam sós, isolados, ouvindo aqueles que os cercam dizer todos os dias que seu desejo de beleza, bondade, justiça, realização é inútil ou ridículo.

Mas essa é uma armadilha ilusória, não um fato concreto. Os bons existem e são muitos, mas precisamos nos lançar no caminho do bem, abertos a todos os que têm esse mesmo anseio – ainda que pensem diferente de nós –, para descobrir quem são esses bons e onde estão.

Até aqui falamos da solidão como ausência de companhia, mas existe outro tipo de solidão à qual os bons estão sujeitos. Uma solidão que nos vem do encontro com uma presença tão grande que parece preencher a tudo, que nos deixa sozinhos diante dela porque parece não deixar espaço para mais nada.

Todos nós encontramos esta solidão algum dia em nossas vidas. O amante da natureza, diante da imensidão do mar. O pai, ao pegar nos braços o filho recém-nascido. O místico, numa experiência religiosa. O militante numa manifestação política, cercado de gente, mas sabedor que vê a história mudar ali.

Em algum dia, todos vivemos um momento assim. E, a partir daí, somos o resultado da resposta que dermos a nós mesmos naquele instante.

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