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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Atenas, Esparta, Tebas, Estagira foram, dentre outros locais na Península Helênica, o útero do ocidente. A porção hebraica e romana teve a Grécia como ponto de aculturação, bastando lembrar que São Paulo falava grego, o idioma das primeiras versões da Bíblia. Romanos brandiram espadas e se renderam à filosofia. Os helênicos fizeram a síntese entre leste e oeste da qual germinou a Europa.

A centralidade grega se fez por fatos e boatos. Mitos, lendas, contos aos quais se acrescentaram muitos pontos, construíram imaginário poderoso, via de regra muito distante da realidade, mas nem por isso inapto a influir sobre ela. A guerra de Troia, a lendária e a real, deu aos gregos a sensação de unidade na diversidade. Ao policentrismo político, causa de muitas guerras fraticidas, correspondia o sentimento de nação, de identidade cultural e de proteção dos valores comuns.

O sacrifício dos 300 na batalha das Termópilas contra exército mil vezes maior consolidou a nação grega e delimitou os espaços entre concepções distintas de política que ficam nítidas na fala que Heródoto atribui a Ciro: “Não tenho medo de homens que se reúnem no centro da cidade para discutir e enganar uns aos outros”. O monarca absoluto desdenhava dos debates na ágora que deram origem ao regime democrático de governo.

Por que história tão linda, repleta de filosofia, valentia, poesia, culmina agora em tragédia?

A peste que matou Péricles e quase todos os atenienses pôs termo à única experiência democrática documentada da Antiguidade. Inteligentinhos, como diz Pondé, falam em “decadência da democracia ocidental”, olvidando que jamais existiu democracia oriental. Diga-se, a literatura é recorrente na referência a “despotismo oriental” para explicar a idolatria a Stálin que bem expressou a a mediocridade do socialismo real. Deixa isso para lá e vamos voltar ao tema.

A Grécia moderna nasceu da resistência ao Império Otomano. Quatro séculos de sujeição não apagaram os mitos identitários e, há quase 200 anos, alçou expressão nacional com Estado soberano. Por que história tão linda, repleta de filosofia, valentia, poesia, culmina agora em tragédia?

Não creio haja uma resposta. Seriam necessárias centenas e soariam como hipóteses, não asserções peremptórias. Definitivo foi o sonoro não às condições apresentadas pelos parceiros europeus para a continuidade das linhas de crédito.

Contudo, não se vive ontem nem amanhã. Fome, frio, doenças acontecem hoje. Com o calote das dívidas públicas e privadas, o sistema financeiro entrará em colapso e, sem euros para circular, os gregos serão compelidos a emitir alguma coisa parecida com dinheiro para evitar que a economia fique paralisada em atividades de escambo.

A fuga da responsabilidade fiscal chegará ao fim e a economia produtiva e a financeira terão de se equilibrar. Os mitos, as narrativas grandiosas devem servir para motivar a nação a se empenhar para a superação da baixíssima produtividade e do dolce far niente ao sol mediterrâneo.

A épica resistência alemã à licenciosidade com dinheiro público equiparará Merkel a Leônidas?

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