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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Faz quatro semanas o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela esteve em visita ao Brasil e passeou por Brasília e São Paulo sem incômodos de tráfego urbano. Teve proteção de representante de Estado estrangeiro, inclusive escolta que assegurava preferência nas ruas. O motivo da presença não ficou claro e pareceu sondagem para ver se há mandado internacional de prisão relacionado à acusação de chefia de crime organizado para tráfico de drogas.

O parlamentar voltou para casa faceiro depois de ser recebido por Dilma, visitar unidades do frigorífico JBS e ter duas reuniões com a cúpula do Instituto Lula – inclusive com o próprio, que se deixou fotografar ao lado do número 2 do chavismo. Na Terra Brasilis o venezuelano democraticida foi respeitado como representante de Estado e, de certa forma, bajulado pelos amigos de fé.

Recentemente, comitiva de senadores brasileiros foi a Caracas visitar oposicionistas encarcerados há mais de ano. A tirania bolivariana criou embaraços para o voo, mas por fim o avião da FAB aterrissou e aí começou a parte mais ionesca: o embaixador brasileiro fugiu como rato de naufrágio e deixou os parlamentares à mercê de horda que xingou, apedrejou, chutou o ônibus. O governo local não providenciou a fluidez do trânsito como se faria em qualquer local civilizado e, por fim, ocorreu a volta dos que foram, ma non troppo. As imagens são deprimentes e a reação do governo brasileiro, pífia.

Os chavistas estão sendo mais opacos que os regimes de força dos anos 70

Dias antes de humilhar os brasileiros, Maduro havia impedido Felipe González, ex-premiê da Espanha, de visitar encarcerados de consciência que estão em greve de fome. Vale lembrar que até a ditadura militar argentina – carrasca de umas 30 mil pessoas – permitiu visitas humanitárias, a exemplo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que esteve no país em setembro de 1979 e colheu milhares de depoimentos, visitou governo, oposição, igrejas. Os chavistas estão sendo mais opacos que os regimes de força dos anos 70.

Se alguém ainda duvida da existência de presos políticos na Venezuela, excerto palavras do bispo Desmond Tutu publicadas no jornal espanhol El País no começo de junho: “Los presos de conciencia en Venezuela están representados en los líderes de oposición Leopoldo López y Daniel Ceballos. Ambos hombres están en la cárcel por su papel en las protestas no-violentas de febrero de 2014”. Tutu, o anjo da guarda de Nelson Mandela, está a serviço do “império”?

No tratado de extradição do Mercosul existe rol de condutas violentas, de sangue, que são excluídas da categoria de crimes políticos. As acusações contra quem se opõe ao atual governo venezuelano são patéticas, a exemplo da imputação de mensagens subliminares golpistas nos discursos de Leopoldo López. Decididamente, as regras desse tratado põem na classe de perseguidos políticos todos que estão na mira de Maduro.

A decorrência é a aplicação da cláusula democrática do Protocolo de Ushuaia, brandida com veemência no caso Lugo e hoje olvidada diuturnamente pelo governo brasileiro, a quem incumbe dar o tom e agir pela expulsão da Venezuela do Mercosul por déficit de democracia.

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