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Não sou de dizer palavrão. Não é puritanismo de minha parte, apenas uma questão de temperamento. Alguns de meus melhores e mais inteligentes amigos dizem um nome feio a cada três palavras e não são menos queridos por isso.

Tento ser gentil e cordial com todo mundo, especialmente com as pessoas mais simples. Um eficaz teste de caráter é observar como o cidadão trata o garçom, o mendigo e a zeladora; se tratá-los mal sempre, há elevadas probabilidades de que seja um canalha.

Um amigo usa a expressão fdp (por extenso) com naturalidade e humor tão evidentes que o suposto xingamento se transforma em saudação. Outras palavras de sua preferência – como aquela que designa a parte traseira da anatomia, no aumentativo – fluem com uma tranquilidade de mil santuários. Não tenho esse dom. O palavrão na minha boca soa como palavrão.

O problema não é o palavrão, é a palavrinha. Aquele termo dito sem convicção íntima

A elegância e a cordialidade, embora apreciáveis em si mesmas, são virtudes fracas. Seria ridículo pedir a Deus para ser elegante. E sempre foi possível ser um perfeito pulha sem dizer uma só grosseria. O problema não é o palavrão, é a palavrinha. Aquele termo dito sem convicção íntima, sem passar pelo coração.

Há, no entanto, algumas situações em que o palavrão se torna necessário. Flaubert perseguia a palavra exata, l e mot juste. No Brasil de hoje, essa palavra em geral é um palavrão.

O engraçado é que, nas vezes em que recorro ao palavrão, as pessoas ficam escandalizadas. Outro dia uma socióloga de esquerda (pleonasmo?) me chamou de moralista. Respondi que então eu deveria ser o moralista mais estranho do mundo, por ter Henry Miller, Philip Roth e Olavo de Carvalho entre meus escritores preferidos. A esse comentário, adicionei um verbo e um substantivo impublicáveis neste jornal de respeito. Fiz o mesmo com um valentão de internet “conservador”. Mandei-o fazer uma coisa que não se faz nem se diz na frente de crianças. A reação dos dois foi parecida: viraram a deputada Maria do Rosário.

Ao pensar no petrolão, eu penso em palavrão. Ao pensar nas pedaladas fiscais, eu penso em palavrão. Ao pensar na inflação, eu penso em palavrão. Ao pensar nos impostos, eu penso em palavrão. Ao pensar na minha conta bancária, eu penso em palavrão. Ao pensar na ideologia de gênero, eu penso em palavrão. Ao pensar no aborto, eu penso em palavrão. Ao pensar na maioridade penal, eu penso em palavrão. Ao pensar nos 60 mil homicídios por ano, eu penso em palavrão. Ao pensar em Lula e Dilma, eu penso em palavrão.

É. O PT está me transformando em um boca-suja.

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