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| Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

No documento em que pediu a prisão do dono do grupo J&F, Joesley Batista, do diretor do grupo, Ricardo Saud, e do ex-procurador da República Marcello Miller, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, aponta a omissão de outras gravações feitas por delatores da J&F, uma delas citando o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo.

No depoimento prestado na Procuradoria-Geral da República (PGR) em 7 de setembro, Saud admitiu que Cardozo foi gravado em um encontro na casa de Joesley. A gravação de Cardozo teria gerado uma “briga” entre Miller e os delatores porque o ex-procurador não teria aprovado a atitude. Segundo o executivo, Miller disse que a gravação de Cardozo daria cadeia e que “iriam para cima dele, depoente (Saud), e José Eduardo Cardozo”. Saud disse também ter estranhado que Marcello Miller tenha saído da sala após essa conversa mandando mensagens no celular. O conteúdo da conversa com Cardozo não teria sido revelado ao procurador.

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“Miller teria sugerido ao colaborador que escondessem elementos de informação que pudessem comprometer os advogados Marco Aurélio e José Eduardo Cardozo na venda de serviços a JBS. Tais fatos, ressaltamos, precisarão ser investigados para se confirmarem tais hipóteses. Há, ainda, referências a outras gravações, inclusive uma relativa à conversa com José Eduardo Cardozo, que não apenas deixaram de ser entregues ao Ministério Público Federal como foram levadas ao exterior, em aparente tentativa de ocultação dos arquivos das autoridades pátrias, o que reforça o intento de omitir alguns fatos, após a orientação de Marcello Miller”, diz Janot na peça.

Este foi um dos pontos que Janot considerou para concluir que “Marcello Miller vinha auxiliando os colaboradores antes de se desligar do Ministério Público”. Janot também destaca que Joesley e Saud reconheceram que há informações e áudios não entregues, concluindo que houve má-fé.

Joesley diz que fez contrato fictício com sócio de Cardozo

Joesley Batista, dono da JBS, disse em depoimento à PGR que acertou contratos fictícios com o escritório de Marco Aurélio Carvalho, sócio do ex-ministro José Eduardo Cardozo. A banca “emitia mensalmente notas de R$ 70.000,00 ou R$ 80.000,00 para contratos fictícios e parte desse dinheiro iria, segundo Marco Aurélio, para José Eduardo Cardozo”, segundo o depoimento de Joesley.

O empresário contou que os contratos serviam para manter “boa relação” com o ex-ministro da Justiça, que o “tratava muito bem”, segundo lhe dizia o advogado Marco Aurélio. E que, conforme Marco Aurélio, “o dinheiro chegava a José Eduardo Cardozo”. Joesley disse que “nunca perguntou se o dinheiro chegava” de fato a Cardozo.

Ele disse ainda que a J&F patrocinou vários eventos e palestras do IDP (Instituto de Direito Público), do ministro Gilmar Mendes. Conforme antecipou a Folha de S.Paulo em maio, a J&F pagou R$ 2,1 milhões ao IDP. Para Joesley, a prática não era ilícita: “Nessa de resolver o que seria ou não crime veio essa questão e Francisco de Assis e Silva [advogado da empresa] disse que não era crime”.

Segundo o delator, “antes Francisco de Assis e Silva perguntou a Marcello Miller [se havia ilícito] e houve divergência de entendimento”. Para Joesley, de acordo com o que depôs, “não houve nenhum ilícito porque não teve nenhum beneficio em troca” e que uma diretora [do instituto], “Dalide [Corrêa], procurou a empresa do depoente para o patrocínio”.

Outro lado

O ex-ministro da Justiça disse à reportagem nesta segunda-feira (11) que as novas afirmações contradizem as primeiras declarações dadas por Joesley em acordo de delação premiada quando fez referências a Marco Aurélio Carvalho. Segundo o ex-ministro, os executivos da JBS o isentaram de qualquer relação com os pagamentos.

Na época do acordo, o advogado Carvalho disse ao Valor Econômico que seu escritório, o Carvalho e Pereira de Carvalho Advogados Associados, “efetivamente” trabalhou para o grupo J&F e “os padrões éticos, seguidos” na relação contratual.

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