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Anjo malvado
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A polícia diz que o garoto de apenas 13 anos matou a família. Não se sabe, ainda, se essa é a versão verdadeira. Mas o crime chocou a todos, como não poderia deixar de ser. Temos a ideia de que crianças são puras, mais inocentes e bondosas. Mas isso nem sempre é verdade.

Em parte, essa visão romantizada das crianças se deve ao filósofo Rousseau. O homem nasce bom, a sociedade o corrompe. A deixa perfeita para buscarmos bodes expiatórios fora de nós para nossos erros. A culpa é da “sociedade”, e sem ela eu seria “puro”.

Essa visão distorceu muito o debate ao longo do tempo. Passamos a inverter a coisa. Na verdade, nascemos meio bestas, selvagens, e precisamos ser civilizados, educados. Claro que o Mal ainda é algo que demanda melhores explicações. Mas sem aceitarmos ao menos a premissa de que, desde cedo, carregamos ele em potencial, vamos brincar de autoengano. Uma perigosa ilusão.

“Trata-se de uma situação patológica, é claro, mas pode acontecer. É possível que um garoto de 13 anos tenha personalidades totalmente diferentes e que use isso como quiser, até para planejar um crime”, afirma Maria Anita Martins, coordenadora do curso de Psicopedagogia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Mas a psicóloga não resiste ao zeitgeist e emenda: “Videogame, filmes, brinquedos e armas violentas contam, sim, mas não é só isso. Toda a sociedade é corresponsável”. Como é? A sociedade? Mas foi um ato individual! E a responsabilidade individual, como é que fica? A maioria das crianças assiste filmes violentos e joga videogame de luta. Mas não saem por aí matando a família…

Se essa psicóloga chegar em casa e pegar seu marido com outra, duvido que ela parta para uma explicação “sociológica” e coloque a culpa na “sociedade”. Tenho certeza de que o marido seria alvo das maiores acusações, responsável pela escolha que fez.

O Mal choca e cobra explicações, causa e efeito. Só que devemos ser mais realistas, aceitar que ele simplesmente existe, e que algumas bestas não se civilizam. Em O Senhor das Moscas, William Golding retrata com realismo essa natureza humana, presente na mais tenra idade. Qualquer pai sabe que seu filho, desde muito cedo, gosta de apelar para o uso da força ou dissimulação para obter aquilo que deseja.

Civilizar é impor limites a esse impulso natural. Mas ele sempre estará lá, latente, como uma besta à espreita aguardando uma oportunidade para emergir com total energia. O “horror”, tão bem descrito em O Coração das Trevas, de Joseph Conrad.

Quem não quer se dar ao trabalho de ler esses livros, ao menos veja o filme O Anjo Malvado, com Macaulay Culkin, de 1993. É ficção, claro, mas retrata algo factível: uma criança pode ser, no fundo e desde cedo, um pequeno monstrinho, capaz das maiores atrocidades.

Enfim, tudo isso é muito chocante, muito triste. Mas de nada adianta fingir que isso não existe, ou ficar buscando bodes expiatórios como filmes, jogos ou a “sociedade”. Vamos cobrar mais responsabilidade individual?

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