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A cegueira dos libertários “progressistas” que não conseguem enxergar a Dona Regina
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Como já cansei de dizer aqui, participo de uma rede liberal de debates que tem de tudo, desde libertários “progressistas” até conservadores. Não é de hoje que tenho ficado espantado com a cegueira dos libertários “progressistas”, aqueles que decoraram alguns dogmas “infalíveis”, descobriram a “pedra filosofal” com o “princípio de não-agressão”, e passaram a analisar tudo pela ótica da abstração intelectual de quem vive numa torre de marfim.

Antes de continuar, um alerta: posso compreender o receio deles com certa ala da “direita”. É perfeitamente legítimo desconfiar de Donald Trump como ícone republicano, ainda que seja cegueira ideológica se negar a ver suas várias medidas positivas. É compreensível querer distância de Jair Bolsonaro como alguém que representa a direita liberal-conservadora. E certamente ninguém deveria se vangloriar de ter um troglodita oportunista como Alexandre Frota falando em nome de sua filosofia política.

Dito isso, não são críticas a tais figuras que tem me chocado nesses debates, mas sim a tremenda confusão que fazem entre liberdade e libertinagem, o silêncio cúmplice diante de toda a agenda “progressista” revolucionária, a desproporção entre o tempo que dedicam a atacar os conservadores em relação aos esquerdistas, o afastamento gradual do “homem comum” para abraçar dogmas e abstrações.

Vejamos o caso recente que divulguei no meu canal, de uma reportagem da Vanity Fair sobre as orgias regadas a drogas no Vale do Silício. A reação da imensa maioria dos meus leitores foi a que tomo como normal: ficaram chocados com os relatos, com a libertinagem rolando solta por lá, compreendendo que se trata de uma turma com muita influência no estilo de vida moderno.

Mas qual foi a reação desses libertários “progressistas”? Perguntar o que eu tenho com a vida privada dessa gente! Alguns foram mais longe e, numa grande confusão mental, alegaram que um liberal não poderia jamais se importar com o que adultos fazem, com o que acontece na vida dos outros. Eles acham que liberalismo é sinônimo de sociopatia!

É como se você descobrisse que vários professores de escolas secundárias praticam bacanais com drogas e dissesse: “Ora, o que esses professores fazem fora da sala de aula não tem qualquer importância!” Como se a visão de mundo deles não tivesse influência alguma no que é levado para dentro da sala de aula. Como se não tivesse qualquer importância saber como eles são, como pessoas, e que valores possuem.

Mesmo se fosse sobre pessoas com menos influência, o entorno importa para os liberais também, o Zeitgeist, os valores disseminados pela sociedade. Afinal, o homem não é uma ilha. Quem tem filhos para criar sabe muito bem que a visão de mundo predominante exerce forte influência. Criar uma filha adolescente nesse mundo dominado por feministas histéricas e poderosas, por exemplo, ficou mais difícil e cansativo. Um liberal deve ignorar isso tudo, por acaso?

Esses “libertários” acusam todos aqueles que falam da degradação moral vigente de “moralistas”, mas como dizia Chesterton, todos são de alguma forma “moralistas”, pois pregam alguma moral, nem que seja uma imoralidade. O que esses “progressistas” não gostam, no fundo, é da moral mais conservadora que esses liberais endossam, até por compreenderem que a liberdade individual não sobrevive num vácuo de valores.

Ora, todos sabemos que a turma do Projaquistão é “progressista” e tem uma visão totalmente distorcida do mundo. Claro que isso acaba sendo transmitido pelas novelas, que sempre dão um jeito de ter um núcleo de “minorias” bem afetadas que são descoladas, legais, enquanto os conservadores são uns reacionários tacanhos e malvados e preconceituosos. E isso não influencia a vida de milhões de brasileiros?

Desde quando que se importar com os outros, com os valores morais da sociedade, deixou de ser algo liberal? Para essa turma, o liberal deveria ser alguém que se recusa a julgar o comportamento alheio, que se mostra indiferente diante da pauta “progressista” que invade até a escola de nossos filhos e as grandes plataformas de mídia no mundo. Um dos debatedores da rede, mais conservador, desabafou a um desses libertários “progressistas”:

Aliás, você já se deu conta de que a suposta obsessão do Rodrigo pelos ‘casos isolados’ de comportamento depravado é também uma legítima reação à teimosia de vocês, que não fazem nenhuma concessão ao pensamento conservador, que ele, como liberal preocupado com a realidade e não só com princípios utópicos, respeita e divulga? Sinceramente, eu gostaria que vocês tivessem para com os conservadores ao menos um átimo do respeito com que visivelmente tratam nossos inimigos da esquerda. Com liberais como vocês, ninguém precisa de esquerdistas. Lula e Marilena Chauí podem dormir descansados.

Os libertários “progressistas” não conseguem entender que liberais clássicos simpatizam com a Dona Regina, com as pessoas normais da classe média, que estão cada vez mais conservadoras por uma reação legítima a essa agenda tosca, deliberada, imoral dos libertinos de esquerda, com o silêncio ou apoio cúmplice desses mesmos libertários “progressistas”.

Eles não se chocam com mais nada! Os tais “casos isolados” são a regra, não a exceção. É como os terroristas islâmicos, os “lobos solitários” que formam a maior alcateia do mundo. Claro que tem ligação com o próprio Islã, e que apontar isso não é “islamofobia”. Mas eles entram no jogo da esquerda, que rotula todos que não são de esquerda como se fossem “reacionários”, “fascistas”, “racistas”, “machistas”.

E eles não são capazes sequer de dar uma palavra de apoio aos liberais que batem nisso, ou nessa “marcha das minorias oprimidas” que tem desfigurado o planeta, com os “formadores de opinião” achando normal ou mesmo cool uma criança de dez anos criar um clube trans!

Não percebem que nessa “revolução das vítimas” há um denominador comum, que é demonizar o homem branco cristão macho ocidental, e que os pilares da civilização ocidental precisam ser enfraquecidos para o avanço de seu totalitarismo. Os pilares são a família tradicional, o cristianismo e a masculinidade, todos sob intenso ataque “progressista”. Reagir a isso não é pregar a TFP antiga ou ser reacionário carola.

Esses libertários “progressistas” também acham que toda preocupação conservadora é “paranoia”, que não há deterioração no clima universitário atual, que impede palestras de conservadores, ou no politicamente correto, que asfixia a liberdade de expressão de quem não tem as ideias “certas”. E ridicularizam quem fala em globalismo, como se não existisse uma pauta comum bancada por bilionários com interesses obscuros.

Eles preferem elogiar esquerdistas e só atacar conservadores. Ou seja, como um liberal clássico com um pingo de noção do mundo real pode não se alinhar aos conservadores de boa estirpe contra tais libertários nessas questões? É impossível…

Por essas e outras meu próximo livro será justamente sobre as confissões de um ex-libertário. O pêndulo do “liberalismo” extrapolou demais para o lado “progressista”, a esquerda vem vencendo a guerra cultural, fenômeno que esses libertários se recusam até a admitir, e essa turma parece viver numa bolha, como se os movimentos das “minorias oprimidas” não tivessem causado um grande estrago no mundo ocidental, e como se reagir a isso fizesse alguém deixar de ser liberal.

Percebem porque o liberalismo clássico precisa ser salvo desses “liberais”? Se eles descessem da torre de marfim e conversassem com a Dona Regina por uns minutinhos, talvez pudessem entender a grande questão que ela colocou para aqueles “progressistas” do Projaquistão: mas e a criança?

Rodrigo Constantino

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