A julgar pela reação do establishment, das elites intelectuais e financeiras, dos jornalistas da mídia mainstream, a decisão britânica pela saída da UE seria análoga ao fim do mundo, uma declaração de guerra à globalização, um tiro no pé dos britânicos, uma prova de estupidez profunda. A histeria foi grande, e esse blog tentou, num esforço homérico, apresentar argumentos como contraponto, tentar acalmar um pouco os nervos à flor da pele, mostrar um outro lado da história.
Mas colegas do setor financeiro foram implacáveis: o mercado é soberano, e veja a reação! As bolsas despencaram, a libra perdeu muito valor, as agências de risco derrubaram a classificação do Reino Unido. Respeito o mercado financeiro, trabalhei nele por muitos anos, sei que não é o cassino de especulação que a esquerda pinta por aí. Mas justamente por isso também sei que não é a voz única da verdade, ainda mais quando se trata de oscilações de curto prazo.
Há muita emoção envolvida, muito “noise”, e sim, muita especulação com horizonte curto demais. E muita gente ganha fortunas explorando o pânico causado nos mais leigos. Os “especialistas” preveem umas dez de cada recessão que efetivamente ocorre. Atenção: há inúmeros negócios lucrativos montados em cima da venda do caos, da pregação do apocalipse. Pergunte aos ambientalistas modernos. Pergunte aos marxistas, que antecipam a catástrofe capitalista há quase dois séculos…
E eis o que temos: os dois dias seguintes ao Brexit deixaram os mercados realmente em polvorosa. Era clima de pânico, e a manada saiu correndo para vender. As ações despencaram, o que reforçou o “call” pessimista dos “especialistas”. Mantive a calma, focando no longo prazo (que ainda está distante, diga-se). Acho que o Reino Unido pode sair fortalecido disso. E agora, menos de uma semana após o referendo, os mercados já se acalmaram, e já recuperaram quase todas as perdas iniciais, como fica claro no índice de ações da Inglaterra:
Que fique claro: ainda é muito cedo para dizer qual será o real impacto nas economias com essa decisão radical. Mas quero apenas mostrar como os profetas do apocalipse também parecem ter se precipitado. O caos não ocorreu. Não foi nada demais. Após perdas fortes no começo, mais devido às incertezas do que qualquer outra coisa, as ações já se recuperam. Os investidores se dão conta de que o Reino Unido não vai declarar guerra à globalização, e sim ao governo mundial representado pela UE. Pode ser até mesmo que os acordos comerciais aumentem para a Inglaterra…
Cuidado com a mídia: ela vende mais quando vende o fim do mundo. Cuidado com alguns “especialistas”: eles adoram assustar os leigos. Cuidado para não confundir as variações randômicas de curto prazo com tendências de longo prazo. E cuidado para não colocar suas emoções acima da razão na análise dos fatos. O Brexit não é o fim do mundo. É possível que seja até mesmo o começo de um novo mundo, muito melhor…
PS: A turma da L&S, com quem tenho uma parceria, mostrou-se calma e foi à contramão dos “especialistas” do mercado, com seu sócio-fundador, Leandro Ruschel, inclusive defendendo o ponto de vista dos britânicos que escolheram pela saída da UE. São assessores assim que podem fazer a diferença na hora da tomada de decisões.
Rodrigo Constantino
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