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E o Rio de Janeiro continua lindo!
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O Brasil cansa. E o Rio cansa em dobro! Como autor de Brasileiro é otário? – O alto custo da nossa malandragem, e como um “carioca da gema”, posso atestar como especialista que o Rio é um “experimento social” completamente fracassado. Não gostamos de paulistas falando mal da gente, mas um legítimo carioca pode “tocar a real” e colocar o dedo na ferida. É o que venho fazendo faz tempo, para ver se a turma desperta de seu sonambulismo “descolado”.

Soube do “acidente” que matou o ciclista, e cujo motorista responsável “picou a mula”, fugiu. Fiquei revoltado, claro, mas é tanta coisa, tanto motivo para revolta e indignação, que não posso dar conta de tudo. Para isso tenho os amigos e os vizinhos. Gustavo Teixeira, médico e meu vizinho em Weston, também cansou do Rio. Ele escreveu um duro, porém necessário desabafo sobre essa situação toda. É um tapa na cara do acomodado, do ufanista, mas se essa gente não se liga com sutileza, talvez pegue no tranco com a porrada:

E o Rio de Janeiro continua lindo!

Aviso de “spoilers” aos leitores. Alguns cariocas e ufanistas das terras tupiniquins se sentirão ofendidos com o texto, tudo normal… A verdade é que estou triste, enojado, com ânsia de vômito com mais um caso de atropelamento e morte de um ciclista no Rio de Janeiro.

Motivado de muita tristeza e revolta resolvi escrever esse texto daqui da pacata Weston, Flórida. Aliás, trazer minha família para viver em segurança aqui tem tudo a ver com esse artigo. Não vou falar sobre a forma respeitosa que sou tratado nas ruas da cidade, sem medo de assalto, sequestro, bala perdida. Nem tão pouco sobre a valorização que o governo americano teve conosco ao nos conceder o “green card” como um cidadão de habilidade extraordinária. Isso também ajudaria a entender porque tantos brasileiros aproveitam a oportunidade do “genius visa” americano, pois infelizmente no Brasil, quem estuda pelo desenvolvimento do país não é valorizado, pelo contrário, muitas vezes é perseguido e criticado, mas isso é outra história.

Cinco anos atrás, treinando para o Ironman, (Prova de triatlo com 3.8km natação, 180km ciclismo e 42km de corrida) sofri uma tentativa intencional de atropelamento por um motorista de ônibus na Avenida das Américas na bela e também pacata Cidade do Rio de Janeiro. Aquela foi a última vez que pedalei em vias públicas e passei a treinar em circuitos fechados com apenas 4 km de extensão. Como um rato dentro de sua gaiola, passei a pedalar até 140 km em treinamentos exaustivos tentando fugir da violência urbana, pois não queria ser vítima de uma sociedade que culpabiliza o ciclista e acha triviais as mortes de Hélio Crespo e de Pedro Nikolay.

Alguns dizem que suas mortes não são em vão. Eu digo que, infelizmente, em um país ridículo como o nosso, suas mortes foram em vão. A vida não tem valor no Brasil. Ciclistas continuarão a morrer nas ruas da cidade olímpica e a certeza da impunidade prevalecerá. Em qualquer país sério, o “poliça” que atropelou Hélio Crespo ou o motorista de ônibus que atropelou Pedro Nikolay estariam presos, enjaulados por décadas. Essa é a pena para animais que cometem crimes em nações civilizadas, não no Brasil… normal.

Ufanistas gostam de dizer que somos uma nação pacífica, sem guerras em sua história recente. O brasileiro é um povo civilizado? Pois a guerra no Brasil é presente e diária. Infelizmente o grau de selvageria da nação é tão elevado, que tudo parece normal. Por favor, alguém tente me convencer que quase 60 mil assassinatos e mais 50 mil mortes no trânsito ao ano é normal. Mata-se mais no pacífico e rico Brasil que na violenta e pobre Síria, castigada por uma guerra civil (55.000 mortos em 2015) ou em 11 anos de guerra do Vietnam, quando morreram cerca de 47 mil soldados americanos. Estou falando de 11 anos de guerra! Assim, a cada 4 minutos, alguém é assassinado ou morto no trânsito brasileiro. Pois, se você conseguiu ler o texto até aqui, nesse período de tempo, 1 brasileiro já foi morto na nossa guerra tupiniquim… nada mais normal, não é?

Mas isso é algo normal… como todo carioca gosta de dizer. País selvagem, onde tudo se torna normal com a repetição dos fatos. Fuzil no morro é normal, policial corrupto é normal, furar fila no trânsito é normal, fumar maconha é normal, dirigir em alta velocidade é normal e errado é o governo colocar pardais para multar os motoristas. “Fábrica de dinheiro” dizem os cidadãos de bem.

A verdade é que o legal é ser malandro, levar vantagem. Somos o paraíso da picaretagem, campeão mundial… Brasil-sil-sil-sil… Nação onde o normal é saquear o caminhão na estrada, chamar o Procon para exigir a venda da TV de R$ 2.500 por R$250 que foi anunciada com preço errado pela loja.

Enfim, nossos queridos políticos são apenas um pouquinho do melhor que temos. Nas manifestações pró-impeachment e contra a corrupção de dois anos atrás presenciei uma família vestida de verde e amarelo pagando propina ao policial em Copacabana para não multá-los por estacionar em local proibido. “Vamos dar um jeitinho”… tudo normal!

Bom, mas isso é coisa de pobre, mal-educado e que não teve oportunidade de estudo, certo? Mentira, cansei de ver atrocidades automobilísticas pela Zona Sul do Rio de Janeiro ou Barra da Tijuca. Dentro de seus carros importados, dirigindo em alta velocidade, sem respeitar sinais de trânsito, atropelando pedestres, arremessando lixo pelas janelas… nada mais normal!

Ah, ainda sobre o IRONMAN, como esquecer quando me preparava para viajar para uma competição internacional e minha bicicleta de triatlo foi chutada no aeroporto da Cidade Olímpica por um nobre cidadão carioca engravatado que se achou no direito, pois a bike estava atrapalhando seu trajeto no saguão do aeroporto… normal.

Posso também adentrar minha profissão médica, quando presenciava colegas que prescreviam medicamentos para ganhar “prêmios” da indústria farmacêutica, viagens para congressos médicos internacionais… vale dizer que muitos deles nem sequer falam inglês. A regra vale para outras especialidades médicas que recebem “bônus” para utilizar essa ou aquela prótese de joelho ou stent cardíaco, dedos de silicone para bater o ponto do amigo no plantão, etc, etc, etc… NORMAL!

Somos uma nação de bandidos, um tipo de homo sapiens perdido entre o pântano e a civilização desenvolvida. Somos o elo perdido… normal!

Concluo então… brindemos a violência urbana, a banalidade da vida, a corrupção e continuemos com nossos ídolos “Bibi poderosa” na novela global, futebol, cerveja, pagode e carnaval… e o Rio de Janeiro continua lindo… nada mais normal.

Parafraseando o vizinho Rodrigo Constantino: salve o Hell de Janeiro! Aliás, recomendo os artigos desse grande jornalista. Ele sem dúvida nenhuma tem o dom da palavra e diariamente expõe as mazelas tupiniquins com qualidade literária que eu não possuo. Esse texto aqui foi apenas um desabafo de um brasileiro triste com nossa realidade, uma catarse, um vômito de alguém indignado com o Brasil.

Agradeço pela recomendação, e compartilho da profunda tristeza. O carioca que conseguiu abrir os olhos, tomar a pílula vermelha do “Matrix”, convive constantemente com aquela terrível sensação de oportunidade perdida. Ele sabe de tudo que o Rio poderia ser, mas definitivamente não é. E o que vale para o Rio também vale para o Brasil, ainda que no Rio tudo seja ampliado, da beleza natural ao desastre humano.

Mas é a terrinha onde o PSOL se cria, onde os artistas engajados do Projaquistão circulam com desenvoltura enquanto pregam só inversão moral, terra de Brizola, local em que Heloísa Helena teve mais votos, onde Dilma venceu de goleada. É ali que alguém como Freixo se cria. O mal do carioca é que ele se acha muito “experto”, mas não passa de um grande otário. Na média, claro, pois toda generalização é sempre injusta com aqueles indivíduos que tentam remar contra a maré…

Rodrigo Constantino

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