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A esquerda não entendeu Keynes nem o contexto de 1930 (e Keynes não entendeu a política)
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O economista britânico John M. Keynes, ao pregar medidas anticíclicas, ou seja, de estímulo em momentos de recessão e de austeridade em momentos de bonança, demonstrou profunda ingenuidade acerca do funcionamento da política. Em democracias, sob a pressão popular, é muito mais fácil aprovar aumento de gastos públicos do que o contrário. Tanto que Keynes mesmo reconheceu que suas ideias seriam mais facilmente adotadas em regimes autoritários, como o alemão na época de Hitler.

Por isso falo em “keynesianos manetas”, aqueles que sempre esquecem do conceito de anticíclico na era da bonança. No fundo, eis ao que se resumiu o keynesianismo: pregar sempre aumento de gastos. Nunca vemos os economistas keynesianos, como Paul Krugman e companhia, recomendando cortes drásticos nos gastos do governo. É mais fácil ver um unicórnio com bolinhas rosas voando por aí.

Além disso, há a grande confusão feita quanto aos contextos. A receita keynesiana, que não funcionou*, foi sugerida num cenário de deflação e depressão na década de 1930. Na década de 1970, o quadro era de estagflação, justamente o resultado das práticas keynesianas. O editorial da Gazeta do Povo de hoje traz à memória esses importantes fatos, pois a esquerda nacional tem recomendado… sim, aumento de gastos públicos, como sempre:

Diante da grave recessão atual, economistas e políticos de esquerda passaram a propor que o setor público aumente seus gastos e eleve tributos, usando como base as teorias de John Maynard Keynes, o economista que construiu o arsenal teórico para o enfrentamento da depressão econômica dos anos 1930. Porém, talvez pela falta de estudo aprofundado das teorias econômicas, eles não entenderam as ideias de Keynes nem a diferença de realidade entre aquela depressão e a atual crise brasileira.

A depressão dos anos 1930 tinha as características comuns das recessões, mas havia um elemento que não existe na crise de hoje: a deflação. Na época, os preços caíam à medida que a crise aumentava, fato que levou Keynes a propor um programa de gastos públicos sem a cobrança de mais impostos. A proposta keynesiana teve por base a tese de que a conta poderia ser paga com emissão de moeda sem gerar inflação, pois, como os preços estavam caindo sistematicamente, havia espaço para emitir dinheiro sem que isso fizesse os preços explodirem.

Para Keynes, uma vez elevada a demanda agregada pelos investimentos públicos, o governo deveria cessar os gastos e voltar ao equilíbrio orçamentário, como forma de impedir que o déficit financiado por emissão de moeda criasse uma crise inflacionária. O erro de Keynes foi acreditar que, uma vez superada a crise, os políticos iriam retornar ao equilíbrio orçamentário. Uma vez criado o déficit, os governos do mundo inteiro nunca mais pararam de gastar, aumentar impostos, criar endividamento público e emitir moeda.

A crise voltou nos anos 1970, com a explosão da dívida governamental, a inflação e o inchaço das máquinas públicas lotadas de empresas estatais, efeitos que deram combustível ao retorno das ideias liberais a favor de menor intervenção, mais privatização e desregulamentação. Portanto, a receita keynesiana para o Brasil de hoje é uma “não solução”, que apenas jogaria o país numa crise ainda maior mais adiante.

Qual a solução, então? Ora, os liberais, especialmente aqueles com formação na Escola Austríaca, têm apresentado as receitas faz tempo, assim como têm, ao contrário dos keynesianos, acertado os prognósticos. Melhor ouvir quem tem adotado um mapa de fundo correto, não é mesmo? Os keynesianos causaram nossos problemas atuais, sob as críticas e alertas dos liberais. E agora vamos insistir nos erros? Ou vamos mudar?

As mudanças necessárias passam justamente pelo oposto do que pregam os keynesianos tupiniquins, a turma nacional-desenvolvimentista da Unicamp. Precisamos de bem menos governo, de corte nos gastos públicos, de liberar as amarras burocráticas para os negócios, de mais abertura comercial, de câmbio flutuante para valer, de simplificação e redução dos impostos etc. Em suma, de um choque de capitalismo liberal, aquele que recebe a culpa por todos os nossos males, mas nunca nos deu o ar de sua graça.

* Muitos repetem que foi o aumento dos gastos públicos com o New Deal que salvou o capitalismo americano, mas é balela. Tais medidas, lideradas por economistas simpáticos à União Soviética, como Rexford Tugwell, atrasaram em vários anos a recuperação da economia. Recomendo o livro The Forgotten Man, de Amity Shlaes, para quem tiver maior interesse no assunto.

Rodrigo Constantino

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