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Esquerdistas do Porta dos Fundos vendem negócio para bilionário capitalista de multinacional
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A Viacom, conglomerado de TV e cinema do bilionário americano Sumner Redstone, comprou nesta quarta (19) o controle do Porta dos Fundos, a produtora brasileira de humor conhecida por seu canal de YouTube —o segundo maior no Brasil, segundo o site analítico SocialBlade, com 13 milhões de assinantes.

Não foram divulgados os valores do negócio nem o percentual que a Viacom International Media Networks The Americas, nome da subsidiária do grupo para a região, assumiu na produtora. Trata-se da “parte majoritária”.

Em entrevista por telefone, o presidente da VIMN Americas, Pierluigi Gazzolo, afirmou que o investimento é parte da estratégia do grupo de ganhar escala na América Latina. Em novembro, já havia adquirido o controle da rede argentina Telefe, a maior em audiência no país.

“Na Viacom, ainda acreditamos que a América Latina é um mercado com potencial de crescimento”, disse. “Tem seus altos e baixos, mas mantém um crescimento muito bom, em mídia, comparada a outras regiões do mundo.”

Sobre a escolha do Porta, justificou pela “incrível quantidade de conteúdo de qualidade, em humor, em formato curto e longo, que a Viacom pode explorar no Brasil e ao redor do mundo”. Citou uma frase célebre de Redstone, de que “o conteúdo é rei”: “Sempre queremos ser donos do conteúdo, porque permite fazer muitas coisas, em quaisquer plataformas”.

O Porta foi fundado em 2012 por Antonio Tabet, Fábio Porchat, Gregorio Duvivier, que é colunista da Folha, João Vicente de Castro e Ian SBF. Além dos vídeos de YouTube, lançou séries de televisão, filme e aplicativo.

O grupo Porta dos Fundos gravou um vídeo ironizando a própria venda, ou “privatização” para uma multinacional:

Tiro meu chapéu para o fato de os próprios humoristas se colocarem nessa situação, lembrando que o sarcasmo é um ótimo e conhecido mecanismo de defesa. O humor deve estar acima de ideologias, de disputas políticas, pois ele é fundamental para a liberdade. Uma sociedade que censura o humor crítico é uma sociedade fechada, morta. Basta pensar se alguém pode fazer troça com o Islã nos países muçulmanos.

Mas não deixa de ser irônico – a maior piada de todas – os ícones da esquerda caviar Gregorio Duvivier e Fabio Porchat fecharem com uma multinacional de um bilionário. Ou seja, nessa hora o capitalismo é lindo, as desigualdades que ele produz são aceitáveis e até louváveis, e o enriquecimento pelo mérito é uma qualidade e tanto, não é mesmo?

Como diz o ditado: pimenta nos olhos dos outros é refresco. “Ah, Rodrigo, você está dizendo que um esquerdista não pode ser rico?” Leia o meu Esquerda Caviar e entenda melhor a questão. O problema é quando esse rico demoniza a própria riqueza alheia, quando prega o estado para lutar pela “igualdade” enquanto faz de tudo para preservar o seu patrimônio. Ou seja, o problema é a velha hipocrisia. Nunca conheci gente mais ambiciosa do que os igualitários de esquerda!

“Mas o esquerdista não quer tirar dos outros, e sim dar a todos”, alega o tolinho ingênuo. Em primeiro lugar, isso é falso: eles querem tirar sim, e basta ver as bandeiras dos partidos que defendem, como o PT e o PSOL. Em segundo lugar, quem quer dar melhores oportunidades para os outros não defende o socialismo, e sim o capitalismo liberal, comprovadamente o melhor caminho para melhorar a vida dos mais pobres (comparem como vive um típico trabalhador de classe baixa nos Estados Unidos e no Brasil).

O que o “socialista de iPhone” faz é monopolizar os fins nobres, ou seja, repetir que só ele quer o melhor para o pobre, sem entrar no debate de como isso é realmente possível. Ou alguém acha que a Venezuela é mesmo um exemplo a ser seguido? Como está a vida dos venezuelanos mais pobres hoje, anos depois de socialismo? E não há nem embargo americano para levar a culpa…

Acho o Porta dos Fundos fraquinho, forçado, humor escrachado demais, sem refinamento inteligente. Mas isso é minha opinião. Quantidade não é qualidade, e é inegável que eles atingiram grande quantidade de público. Mérito deles. E no capitalismo esse tipo de conquista costuma ser recompensada com a conta bancária engordando.

Fosse num país mais socialista, como aquele que Greg “deseja” ao defender o PT e o PSOL, os humoristas teriam de sobreviver apenas de contratos com o governo, e fazer piadas somente aprovadas pelas autoridades, ou seja, chapa-branca, tornando-se propagandistas em vez de humoristas, já que o humor precisa ser iconoclasta e rebelde por definição, por sua natureza.

A maior piada de todas já feita pelo Porta dos Fundos, portanto, é involuntária: é ter um de seus fundadores, o Greg, enriquecendo pelo capitalismo burguês enquanto escreve no maior jornal do país, propriedade de outro capitalista burguês rico, contra o capitalismo “desumano” e a favor do PSOL e do PT. A turma ali “adora” o socialista Marcelo Freixo, mas ama muito mais as verdinhas que só um bilionário capitalista pode trazer. Foi Roberto Campos, que completaria um século de vida esta semana, quem melhor definiu esse pessoal:

É divertidíssima a esquizofrenia de nossos artistas e intelectuais de esquerda: admiram o socialismo de Fidel Castro, mas adoram também três coisas que só o capitalismo sabe dar – bons cachês em moeda forte; ausência de censura e consumismo burguês; trata-se de filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola…

Rodrigo Constantino

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