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Marta Suplicy foge da esquerda: sinal de que o monopólio das virtudes do esquerdismo saiu de moda
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Ainda prevalece no imaginário popular a ideia absurda de que se preocupar com os pobres significa ser de esquerda. Mas isso é baboseira pura, e cada vez mais gente percebe isso. Ser de esquerda, na prática, significa defender meios estatizantes e coletivistas que costumam sempre fracassar. Ninguém tem o monopólio das virtudes, das boas intenções. Mas é justamente nisso que ainda se pendura o esquerdismo, atraindo até o que é novo ao discurso velho.

Enquanto isso, Marta Suplicy, petista até “ontem”, vai à contramão e tenta se afastar da esquerda, cada vez mais manchada pelo fracasso petista e a defesa canalha de suas linhas auxiliares à “tese” do golpe. Sim, ser de esquerda no Brasil, hoje, quer dizer estar ao lado de gente patética como a turma do PT, do PSOL, do PCdoB e da Rede. Ou seja, atestado de estupidez ou de malandragem indecente.

A Folha perguntou a Marta Suplicy se ela ainda se considerava de esquerda. Ela respondeu: “Olha, eu nunca nem me coloquei assim, né? Eu acho que neste mundo hoje depende do que você chama de esquerda. Tem valores tão, tão retrógrados que são chamados de esquerda que eu não me identifico em absoluto. Eu tenho valores que eu diria que são cada vez mais de inclusão das pessoas, de respeito à cidadania”.

Pensar na inclusão das pessoas e no respeito à cidadania não tem nada a ver com ser de esquerda. Defender os mais pobres não é bandeira de esquerda. O que deve ser discutido é o método para se atingir determinado fim. Todos, à exceção dos sociopatas, desejam melhores condições de vida aos mais pobres. A questão é: como? E aqui é que começa a ser definido se a pessoa é de esquerda ou de direita.

Alexandre Borges (não o ator “moderninho”, mas meu amigo que entende muito de filosofia política) escreveu para o Senso Incomum um excelente artigo sobre o assunto, matador mesmo. Ele bate nesses “isentões” que tentam pairar sempre acima das “ideologias”, que se dizem “pragmáticos”, mas no fundo defendem claramente uma visão de mundo (e normalmente ela é de… esquerda). Seguem alguns trechos, mas recomendo o texto na íntegra:

Pode parecer moderninho ser “isentão”, mas a estratégia de dizer “eu sou racional, só me preocupo com o que dá certo, meus adversários estão presos em ideologias e abstrações” é, segundo Jonah Goldberg, de Napoleão Bonaparte (1769–1821), ou seja, tem pelo menos 200 anos.

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A esquerda até hoje sofre deste ranço marxista de colar na testa dos adversários todo tipo de rótulo para fugir da discussão. A tática serve para reforçar, de forma intelectualmente desonesta, que seu lado estaria apenas defendendo o bom senso, a razão, a ciência, a marcha de história e o que dá certo. De Woodrow Wilson a Barack Obama, os presidentes americanos mais à esquerda também embarcaram na narrativa. Obama chegou a dizer que os EUA precisavam de uma nova declaração de independência, mas nesse caso uma libertação da “ideologia”, “preconceito” e “pensamento pequeno”. E como não cometer esses erros tão feios? Concordar com Obama, claro.

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Todo pensamento traz o eco de uma cosmovisão (a “Weltanschauung” da qual tratou Freud e tantos outros), de uma maneira de ver o mundo. Você pode pegar uma informação concreta, como o número de pobres que ainda existem, e dizer “o livre mercado deu certo porque tirou bilhões da pobreza” ou “o livre mercado deu errado porque ainda há pobres”. Quais dos dois está certo? Quem deveria estar formulando a política econômica do país, o que acredita que o livre mercado deu certo, e portanto é preciso investir ainda mais na redução do estado, ou o segundo que quer regular e controlar os mercados? Cada um terá uma posição que nasce de uma escala de valores e prioridades. Você considera um embrião uma vida ou um bando de células? É uma escolha subjetiva e você não deveria se envergonhar disso, ela será apenas um reflexo de quem você é, de como você pensa, sente e reage ao mundo.

[…]

Quanto maior o estado, menos solidariedade privada ou, para usar o termo sociológico, menos “capital social”. Se o estado toma o dinheiro da sociedade, o cidadão muda o foco de doador para potencial receptor, ele passa naturalmente a lutar pelo dinheiro dos outros que foi apropriado pelo governo. Como o socialismo destrói a capacidade de produção de riquezas de qualquer país, o número de doadores privados tende a zero enquanto a quantidade de necessitados não para de aumentar até a economia entrar em colapso, como estamos vemos agora na Venezuela.

Um dos países menos filantropos do mundo é a França, berço de quase todas as idéias de esquerda e, de longe, a maior influenciadora da intelectualidade e das universidades brasileiras. No Brasil, uma ex-colônia lusitana mas uma colônia mental francesa há mais de um século, ajudar é “função do estado” e das leis que devem “garantir direitos”. O resultado está aí.

[…]

Regimes fortemente estatistas e intervencionistas como o fascismo italiano, o nazismo, o “desenvolvimentismo” brasileiro, o bolivariano, entre outros, são tudo menos regimes liberais, mesmo que convivam com a iniciativa privada, empresas e empresários. Não é a existência de “corporações” e de “federações de indústrias”, versões modernas das guildas medievais, que caracterizam regimes liberais ou “de direita”. São os regimes livres, que não apenas facilitam a criação de novas empresas como desregulamentam radicalmente a economia para que qualquer inovador possa competir com as corporações, que podem ser chamados de liberais clássicos (e não liberais no sentido americano, que desde FDR passou a significar “progressista” ou “esquerdista” em português). São economias antiliberais e “de esquerda” as que, mesmo formalmente convivendo com empresas, criam tantos constrangimentos para o surgimento e crescimento de novas empresas. Estatização é coisa do tempo da sua avó.

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Esquerdistas que se opõem visceralmente à iniciativa privada, que querem sua eliminação imediata, são exceções atualmente. A esquerda já entendeu que a eliminação rápida da iniciativa privada quebra os países rapidamente, por isso se diz que “o socialista é um comunista sem pressa”. A meta é a mesma, o que muda é o método.

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Neste sentido, o esquerdista não é, nunca foi e nunca será mais “solidário” ou “preocupado com os pobres”, e não apenas no sentido econômico, mas também por entregar ao estado a função da solidariedade privada, sufocando o incentivo social para a caridade individual. O intervencionismo estatal na sociedade asfixia a cidadania e, com ela, a solidariedade individual.

[…]

O poeta francês Charles Baudelaire dizia que o grande truque do diabo é fingir que não existe. É um aviso que você nunca deveria esquecer.

Pois é: vamos parar com essa coisa de “sou de esquerda porque me preocupo com os mais pobres”, e também com essa tentativa de se colocar acima de ideologias, como se fosse o único ser pensante em meio a vários alienados. O que deve ser debatido são os meios pregados para determinados fins, e aí sim, podemos confrontar as propostas com as boas teorias e, principalmente, com a história, com aquilo que, de fato, funcionou ou não.

É por fazer isso que tanta gente inteligente acaba na direita, não na esquerda. Não podemos aceitar a pecha de “insensíveis” por conta de uma estratégia desonesta da esquerda. Se até a petista Marta Suplicy (sim, você sai do PT, mas o PT sai de você?) já percebeu que nada ganha hoje ao se dizer de esquerda, uma vez que o esquerdismo está mais manchado do que uma vaca, então é sinal de que o esquerdismo saiu da moda, e essa tática de monopolizar as boas intenções não cola mais.

Sou de direita porque me preocupo com os pobres, e sei que o livre mercado é o melhor caminho para gerar riqueza. Sou de direita porque ligo para as minorias, e sei que a menor de todas é o indivíduo, e só o liberalismo valoriza o indivíduo contra os diferentes tipos de coletivismo. Sou de direita porque valorizo a vida, a propriedade privada e a liberdade, bens que são caros a todos, inclusive aos mais pobres. Sou de direita porque sei que as receitas esquerdistas não funcionam, e prejudicam aqueles que supostamente deveriam ajudar.

Cogito, ergo sum (de direita).

Rodrigo Constantino

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