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O Movimento Gay não é tão gay assim
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Por Hiago Rebello, publicado no Instituto Liberal

Qual é o fundamento do Movimento Gay? Seria o da liberdade Sexual, o fim das discriminações e o sanar dos preconceitos? Será? O que seria “liberdade”, dentro do Movimento Gay? A liberdade que já possuem em seus âmbitos particulares? O que o Movimento Gay quer é atingir o social em nome de um privado, contudo, a problemática não esta apenas na exteriorização forçada de características que deveriam ser, sumariamente, pessoais e íntimas, mas sim no uso do gosto sexual como política pública.

Uma característica social, algo público e notório, como o tipo de trabalho, as ideias políticas ou preferências de sistemas, se enquadram em algo que pode ser levado – isso se já não “nasceu” sendo – para a esfera política de uma nação; o tipo de trabalho de parcelas da população pode criar visões guinadas para questões existentes na área trabalhista; ideias políticas, embasadas em reflexões e análises, devem ser influentes na área política de um país; preferências de sistemas de governo precisam estar em pauta e estar presentes na política – mas por qual motivo?

A razão principal por que todas essas características sociais, intelectuais e sistemáticas são muito relevantes ao se tratar da política é o fato de todas possuírem fundamentos que, racionalmente, fazem sentido no meio político prático (e teórico). Mas e quando algo não pertencente ao foro público, ao político, toma partido? Quando um tipo de discurso se constrói e fortalece com amplo impacto em políticas, mas carecendo do lastro conceitual necessário para a coerência de se tornar um ato político? Se isso ocorre, o resultado não é nada menos que alarmante.

Ser gay, no que diz respeito ao relacionamento sexual, é algo estritamente íntimo, é algo que deve ficar literalmente em quatro paredes. Não se é gay, hétero ou bissexual na rua, no emprego, no cinema. Exteriorizar a sexualidade é colocar para fora algo relacionado ao ato sexual que se pratica intimamente com outra pessoa: é levar a cama para a praça, o que não faz o menor sentido. O que significaria, em suas consequências, exteriorizar o sexo além de denegrir totalmente a ordem do cotidiano? Tudo, naturalmente, tem seu lugar e hora para ocorrer, de modo que não faria sentido fazer sexo enquanto se faz compras, ou enquanto se trabalha, debate e reflete sobre algo.

Se a preferência sexual, de qualquer tipo, não pode e nem deve ser levada para fora de seu “formato” e lugar, então não faz sentido criar um movimento político pautado na sexualidade, até porque algo como a sexualidade não é, nem de longe, determinante para o pensamento político, ou econômico, humano – na realidade não o é em pensamento nenhum –; se expressividade sexual merece ser pauta política, ou um ato político, então não seria delirante propor protocolos sexuais para tratar de questões públicas e atividades no legislativo e executivo, uma vez que seriam tratadas como importantes o suficiente para consistirem em um movimento político, o que é inteiramente absurdo.

Sexo não é algo definitivo na definição de posições na vida das pessoas; tanto que a quantidade exorbitante de discordâncias entre pessoas que pertencem ao mesmo grupo onde se têm os mesmos padrões sexuais é oceânica. Se a vida dos homens em geral não é pautada pelo ato sexual que praticam e preferem, então um movimento que tenta construir suas bases no sexo terá problemas de consistência com aqueles de que ele próprio diz ser representante. E é exatamente isso que ocorre: o Movimento Gay, autoproclamado como o paladino da minoria sexual gay, não representa todos os gays.

Algo tão frágil e relativo, tão efêmero e sem relação com a mentalidade humana como a preferência atrativa e sexual não tem capacidade para atender uma séria e digna agenda política, caindo no paradoxo de não conseguir atender a quem se diz representante. A gravidade da falha do Movimento Gay com suas próprias propostas é tão grande que ou se cria uma minoria da minoria entre os gays – aqueles que não se identificam com o Movimento, e acabam sendo excluídos –, ferindo a própria questão da defesa de minorias, ou o Movimento se vê incapaz de representar a maioria homossexual do país, o que acarreta na total falta de sentido para a existência de um movimento que, em tese, deveria ser representante de todos os homossexuais.

O erro é tão gritante e crasso, com uma contradição tão profunda e problemática, que desfaz todo o propósito do movimento. Como pode ser representante e defensor de pessoas que o desprezam e atacam? De fato, não se pode, não há como. Existem gays que além de não concordarem com as pautas LGBT, encaram com asco as passeatas e discursos de líderes do Movimento Gay e desfazem a argumentação pró-gay.

Um grupo como esse só pode ter uma fraqueza tão grande assim por um fato já apresentado: não possuem fundamentos coerentes dentro de suas propostas, de forma que há espaço para uma hilária e intrigante realidade, a de que o Movimento Gay não é tão gay assim. Não há espaços para todos os imaginários e crenças políticas e culturais de todos os homossexuais lá, além de não existir uma possibilidade viável para tal. Faltam gays no Movimento gay, gays mais lúcidos, coerentes e sensatos, que sabem separar o íntimo do público, além de saberem propor soluções melhores para problemas como a discriminação sexual de forma melhor que colocar a sexualidade na política.

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