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O que Dilma valoriza é a lealdade ao bando, não aos valores
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Muitos já comentaram a desastrosa fala da presidente Dilma, que disse não respeitar delator e ainda comparou seu próprio governo a uma ditadura, além de misturar mensaleiros e petroleiros com os combatentes da Inconfidência Mineira. Ou seja, um verdadeiro show de horror proveniente de uma mente confusa, incapaz de concatenar ideias ou apresentar argumentos em lógica sequencial. Merval Pereira já resumiu bem a coisa:

“Eu não respeito delator, até porque estive presa na ditadura militar e sei o que é. Tentaram me transformar numa delatora. A ditadura fazia isso com as pessoas presas, e garanto para vocês que resisti bravamente. Até, em alguns momentos, fui mal interpretada quando disse que, em tortura, a gente tem que resistir, porque se não você entrega seus presos.”

Nessa frase, temos de tudo: uma confusão entre seu papel como guerrilheira, e o dos petistas que se meteram no mensalão e no petrolão; uma ignorância assombrosa da diferença entre democracia e ditadura e, sobretudo, a insensatez de comparar os inconfidentes mineiros com os mensaleiros e petroleiros, que podem ser tudo, menos patriotas heróicos em luta contra uma opressão estrangeira.

Não há Tiradentes nessa história que a presidente Dilma tenta recontar, e nem ela foi uma lutadora pela democracia, como pretende hoje. A tortura de que ela e muitos outros foram vítimas é uma página terrível de nossa história, mas não pode servir de desculpa para justificar meros roubos de uma quadrilha que tomou de assalto o país nos últimos 12 anos, nem para isentar os eventuais desvios cometidos pela presidente.

Ao contrário, aliás, muitos fazem hoje a comparação da sanha arrecadatória do governo federal com os “quintos do inferno” que a colônia portuguesa tirava do Brasil. Quanto à insinuação de que os presos hoje pela Operação Lava-Jato sofrem torturas como no tempo da ditadura, só mesmo a politização da roubalheira justifica tamanho despautério.

Pouco a acrescentar. Mas eis meus dois cents: em meio a toda essa confusão mental, Dilma tentou passar um recado claro aos comparsas do PT do lado de lá, das empreiteiras. Delatores não são respeitados pela quadrilha, digo, partido. Um alerta. Um aviso. Uma ameaça? Não vamos esquecer que Lula já declarou abertamente o respeito a José Sarney, que não é um “homem comum”, após este demonstrar lealdade ao ex-presidente quando ele vivia seu pior momento durante a crise do mensalão.

Lealdade é um termo que evoca virtude, algo positivo na mente da população. Vem do tempo em que a honra tinha mais valor. Mas eis o ponto central aqui: lealdade a quem? Ou melhor: ao que? Sim, pois faz toda diferença do mundo se você é leal a um comparsa ou a princípios éticos e morais. Lealdade, por si só, não diz nada, não tem valor. Se você é leal aos seus cúmplices de crime, você não é um “rato”, um X9, um delator, mas isso só é visto como louvável pelos próprios criminosos, ou seja, é algo condenável pelas pessoas decentes.

Máfia exige lealdade aos próprios mafiosos, enquanto pessoas decentes mostram lealdade a princípios éticos e valores morais. Sou leal ao princípio “não roubarás”, por exemplo, e se mesmo um familiar meu se tornar um ladrão, meu compromisso é com a Justiça, não com o familiar bandido. Isso significa lealdade a valores e princípios. Não é, naturalmente, esse tipo de lealdade que os criminosos respeitam. Eles respeitam a lealdade ao bando, daqueles que, mesmo sob “tortura”, não entregam seus comparsas.

Nas prisões, poucas coisas são tão execradas como a delação. O X9 costuma ser severamente castigado pelos demais presos, como alerta para outros possíveis delatores. Essa é a linguagem do crime, da máfia, que “curiosamente” é adotada pela presidente Dilma, ex-guerrilheira e terrorista. Já pessoas corretas não temem a delação. Ao contrário: a lealdade aos princípios exigem a delação quando os outros desviam o curso de sua conduta.

O grande salto civilizacional ocorreu quando as pessoas deixaram de ter lealdade apenas à tribo e passaram a ter lealdade às leis impessoais. O tribalismo é quando você protege os seus colegas, independentemente do que fizeram. Já o império das leis isonômicas é quando você obedece a princípios universais. A igualdade de todos perante as leis é um dos pilares das civilizações avançadas. O patrimonialismo tribal, que trata os “amigos do rei” como especiais, é retrato do atraso.

A máfia italiana sofreu duro golpe somente quando gente de dentro começou a delatar os esquemas e os comparsas. A população ordeira aplaudiu. A Itália avançou, a impunidade caiu, a Justiça foi feita em parte. Centenas de mafiosos foram presos, graças à delação de criminosos. Delação esta que Dilma não respeita, pois valoriza a lealdade, não aos princípios, mas aos próprios parceiros. Não é preciso dizer mais nada. Dilma escolheu um lado, e não é o lado da população brasileira que segue as leis, e sim o lado dos que apreciam o silêncio dos criminosos, leais aos seus cúmplices na prática do crime.

Rodrigo Constantino

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