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Essa multidão é antipetista. Mas agora é preciso transformá-la em liberal.
Essa multidão é antipetista. Mas agora é preciso transformá-la em liberal.| Foto:

Uma reportagem da Folha escutou “especialistas” sobre o renascimento da direita no Brasil, concluindo que lhe falta militância para enfrentar a esquerda organizada. Apesar do viés da turma escutada, não acho que os liberais e conservadores devam ignorar as análises. Há coisas interessantes ali sim. Diz um trecho:

O brasilianista Timothy Power, da Universidade de Oxford (Inglaterra), observa que movimentos que articulam manifestações de oposição à presidente afastada Dilma Rousseff foram galvanizados pelas redes sociais. Mas a ascensão não foi acompanhada de maior representatividade partidária, o que inclusive serviu de incentivo para que fossem às ruas.

“A gente vê que eles ostentam muita força de mídia, mas carecem de densidade”, afirma. “Você não pode comparar o MBL (Movimento Brasil Livre) com a CUT (Central Única dos Trabalhadores), que tem capilaridade, a nível local e nacional, e opera 24 horas por dia, sete dias por semana, o ano inteiro. Não é o tipo de movimento como o Vem Pra Rua, que é nada mais que um site que define data e local de mobilizações.”

Power identifica essa tendência como um “neoconservadorismo popular” que prega o liberalismo clássico.

O cientista político Fernando Limongi os considera “radicais de direita, sem muitos pendores democráticos”. O professor titular da USP minimiza sua abrangência.

“Não acho que esse grupo esteja em sintonia com as ruas, o que quer que sejam as ruas. Todos os grupos reivindicam o papel de representantes autorizados e legítimos da vontade do verdadeiro povo ou ruas. O MBL é um deles. Não é o único. Mas ninguém sabe qual é a vontade das ruas, nem mesmo se elas são ‘liberais'”, diz Limongi.

“Não vejo posição conservadora estruturada na academia”, diz José Álvaro Moisés, diretor do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP. “Por definição, a perspectiva de mundo da academia é crítica e por isso é mais comum ter contingentes [de estudiosos] situados muito mais na esquerda ou no centro-esquerda”, justifica.

A “hegemonia da esquerda” na academia se deve à presença ainda marcante do trauma com o regime militar, sugere Power, de Oxford.

“Muita gente ainda associa a direita com tortura e gorilas da repressão. A nova direita tem de se distanciar desse legado, o que fica difícil quando você tem pessoas como [o deputado federal] Jair Bolsonaro [PP-RJ], com discurso pró-ditadura no Congresso”, disse o americano.

Essa de a academia ser mais de esquerda porque os acadêmicos tendem a ser críticos foi de lascar! Mas eis o que tendo a concordar, em linhas gerais: a militância da esquerda é mais organizada mesmo, até porque vive disso, essa é sua “profissão”, e o salário é pago com o dinheiro dos nossos impostos. A direita liberal necessita de trabalho voluntário e doações individuais, o que é sempre mais difícil. Enquanto os socialistas possuem um exército com soldados à disposição, bancados pelo imposto sindical, os liberais e conservadores contam apenas com os esforços voluntários de patriotas trabalhadores.

Não devemos, porém, negligenciar o poder das redes sociais. Vimos como elas podem ser relevantes na hora de mobilizar as pessoas. Claro, o clima ajudou, o ambiente de destruição econômica, roubalheira desenfreada e cinismo dos governantes serviu como combustível para as revoltas e a mobilização. Mas para realmente criar os soldados liberais e/ou conservadores, muito mais será preciso. Para manter a militância unida em prol de objetivos comuns, será necessário um árduo trabalho pela frente. Principalmente na divulgação dos valores liberais e conservadores.

A direita democrática precisa mesmo ocupar mais espaços na academia, mostrar que os alunos têm sido vítimas de lavagem cerebral, de uma doutrinação ideológica criminosa feita por militantes disfarçados de “professores”, que negam aos alunos o direito ao contraditório. A direita precisa ocupar mais espaço na mídia, nas redações dos jornais, para que as notícias não saiam com tanto viés esquerdista, como acontece hoje. Precisa, ainda, de mais artistas levando a mensagem liberal por meio de músicas, filmes, romances.

Com o regime militar ficando cada vez mais distante no tempo, a nova direita tem a oportunidade de falar diretamente aos jovens, sem que o apelo sensacionalista da esquerda surta tanto efeito. Colocam-se como “vítimas da ditadura” e “combatentes da democracia” enquanto lutavam pelo comunismo. Os jovens não caem mais nessa. Essa narrativa não cola mais. E eis a chance de ouro que a direita tem nas mãos.

Mas para tanto terá de se afastar dos representantes desse passado sim. Sei que isso incomoda muitos dos meus leitores, mas vou dizer mesmo assim: colar em Jair Bolsonaro – que tem sido um importante soldado na luta contra o petismo – não é boa estratégia de marketing político. É verdade que o próprio tem suavizado sua imagem, vinha se mostrando cada vez mais moderado na forma, até o deslize do voto no impeachment, em que citou o coronel Brilhante Ustra. Totalmente desnecessário.

A nova direita não deve ficar presa na era da Guerra Fria, nos anos 1960. Não pode ignorar que o comunismo ainda existe, adaptado sob nova embalagem, como vimos com o próprio PT e vemos na Rede e no PSOL. Mas precisa adotar uma postura construtiva, focada no amanhã, com uma mensagem de otimismo em defesa das liberdades individuais.

Para tanto, vai precisar de militância sim. Os seguidores de Bolsonaro costumam ser bons soldados na luta do contra, como obstáculos importantes ao esquerdismo. São o pessoal da CUT com sinal trocado, os nossos combatentes guerreiros. E fazem isso sem receber um só tostão do estado, o que tem grande mérito.

Mas os liberais e conservadores precisam ir além disso. Precisam de mais formadores de opinião e jornalistas na grande imprensa. Precisam de mais professores com a coragem de remar contra a maré vermelha da academia. E precisam, naturalmente, de um instrumento partidário para executar sua agenda. O Partido Novo já desponta como uma das opções novas, e antigos partidos têm se adaptado para abrir mais espaço para as ideias liberais e conservadores.

Ou seja, a nova direita avança. Mas há ainda um longo caminho pela frente, com muito trabalho. Precisamos formar uma militância mais ativa e minimamente organizada. Os indivíduos e, principalmente, os empresários terão de se dar conta disso, e investir em ideias. Caso contrário, a esquerda volta com tudo, e o “renascimento da direita”, no fundo o nascimento de uma nova direita, será abortado antes mesmo de salvar o Brasil do trágico destino socialista.

Rodrigo Constantino

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