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Pastor Everaldo quer privatizar até Petrobras, mas convence como liberal? Ou: Em quem um liberal clássico deve votar?
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Everaldo JN

Nesta terça foi o dia de o Pastor Everaldo ser entrevistado no “Jornal Nacional” por William Bonner e Patrícia Poeta. Para quem acompanha o blog, não chegou a ser surpresa sua mensagem enfática em defesa da redução do estado e das privatizações. O candidato já foi entrevistado aqui por mim, com viés semelhante. De novo mesmo tivemos a afirmação de que até a Petrobras seria privatizada (antes era apenas a BR Distribuidora), e que quem ganha até R$ 5 mil mensais ficaria isento de Imposto de Renda:

“Eu vou privatizar a Petrobras. A Petrobras hoje, uma empresa que foi orgulho nacional, hoje é um foco de corrupção e uma dívida astronômica de mais de R$ 300 bilhões. Então, eu vou privatizar. O petróleo é nosso, mas a Petrobras hoje não é nossa”, declarou.

O candidato disse que transferirá à iniciativa privada “tudo o que for possível”, em referência às empresas estatais, para alocar os recursos na saúde, educação e segurança pública. “Eu vou fazer corte na carne. Defendo um Estado mínimo. Vou reduzir o número de ministérios de 39 para 20”, disse. Ele disse, porém, que não vai privatizar o Banco do Brasil e a Caixa Econômica, que “representam a segurança do sistema financeiro”.

Ele também prometeu isentar do pagamento de imposto de renda todos os trabalhadores que ganham até R$ 5 mil por mês. Atualmente, estão isentos do pagamento do IR os que ganham até R$ 2.138 mensais. O dinheiro dos impostos é o que financia as ações do governo.

Os entrevistadores do JN apertaram bastante o candidato em relação à falta de experiência administrativa e uma base de apoio parlamentar, dando a entender que sua candidatura pode não passar de uma aventura. Sua suposta mudança ideológica também foi colocada em xeque, uma vez que sua trajetória de vida foi em defesa do trabalhismo brizolista e até mesmo do governo Dilma seu partido PSC fez parte no começo do mandato. Por que uma guinada tão radical assim?

A pergunta ficou sem uma resposta convincente. Everaldo afirmou que não mudou sua ideologia, apenas se deu conta de que Dilma era muito intervencionista e havia aparelhado o estado todo. Ora, isso não era evidente antes? Mesmo que não fosse para alguns, permanece a dúvida: o PT era mais próximo do modelo liberal que Everaldo agora defende do que o PSDB? Não era, mesmo com o também intervencionista José Serra sendo o candidato em 2010.

Dito isso, não deixa de ser um alento ouvir a mensagem liberal chegando ao grande público. É a primeira vez que alguém fala em privatizar a Petrobras, um tabu no Brasil. Lamento que venha da boca de alguém sem uma trajetória coerente na defesa de tais valores, e de um partido “nanico”, o que reduz até mesmo a chance de testar a aceitação da mensagem. Muitos desconfiam da convicção do mensageiro.

No mais, a morte de Eduardo Campos mudou totalmente o quadro eleitoral, com a entrada de Marina Silva na corrida. Marina cativa muitos eleitores evangélicos, que tinham em Everaldo uma opção mais conservadora para as questões sociais. E como ela tem chances concretas de ir para o segundo turno, passa a disputar diretamente com Aécio essa vaga, o que mexe nos eleitores que, acima de tudo, condenam o PT e seu esquerdismo.

Não eram poucos que antes pensavam em votar em Everaldo com duas coisas em mente: 1) garantir o segundo turno; 2) mandar um recado ao PSDB, de que a mensagem mais liberal na economia e conservadora no comportamento tem peso, e que se ele deseja ter esses votos no segundo turno, precisa se afastar mais da esquerda do PSDB atual. Agora tudo isso mudou de cara.

Votar em Everaldo pode significar mandar Marina para o segundo turno em vez de Áecio. E não resta dúvidas de que Marina está mais afastada ainda do liberalismo clássico do que o tucano. Portanto, por puro pragmatismo, quem votar em Everaldo agora poderá estar dando seu voto, na prática, para Marina Silva em vez de Aécio, o que não faria muito sentido para quem tem apreço pelos ideais liberais e/ou conservadores.

A entrada de Marina na equação mudou tudo, e o teste para uma mensagem mais liberal na economia, com a bandeira da privatização até da Petrobras (e por que não incluir o Banco do Brasil e a Caixa também?), ficará para depois, quando houver algo efetivamente NOVO no quadro eleitoral.

Rodrigo Constantino

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