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Peito de fora ainda é revolucionário? Ou: O desejo tem pudor e precisa de seu claustro
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Fonte: GLOBO

Lá vamos nós para um daqueles textos polêmicos, que alguns “libertários” vão usar para me acusar de “conservador”. Que seja! Não dá para agradar a gregos e troianos. Mas vale uma ressalva: meu foco será na questão cultural, não na legal.

Leio que vereador apresenta projeto de lei para liberar o topless nas praias cariocas:

Marcado para o próximo dia 21 de dezembro, o evento “Toplessaço” conseguiu apoio no Legislativo carioca nesta quinta-feira. O vereador Elton Babú (PT) apresentou projeto de lei na Câmara do Rio que autoriza a prática do “topless” nas praias da cidade, no trecho entre o calçadão e o mar. A proposta, que foi protocolada nesta quinta e ainda não tem número, tramita nas comissões permanentes da Casa.

“Se a mulher expõe os seios para amamentar, por que não fazer o mesmo para tomar sol?”, questiona o parlamentar na justificativa da matéria.

O tal do “Toplessaço” está marcado para o próximo dia 21, e tem sido sucesso nas redes sociais. Se todas que confirmaram presença comparecerem mesmo, serão quase 6 mil peitos de fora. Resta só perguntar: isso ainda é bandeira revolucionária? Em pleno século 21?

Pensei que a coisa mais comum do mundo no Carnaval fossem peitos à mostra. Quem ainda se sente… ofendido com isso a ponto de ficar chocado e querer reagir com o poder da coerção? Tirando meia dúzia de crentes mais fanáticos, creio que o povo tem outras prioridades. Assim como o casamento da Daniela Mercury não faz parte da lista de atenção dessa gente…

Em Maio de 68 a “rebeldia” teve lá seu charme, e a geração seguinte pagou a conta. A promessa do “sexo livre”, do “vale tudo”, do combate a “todos” os preconceitos, nada daquilo entregou os resultados maravilhosos prometidos. Mulheres angustiadas com tantas tarefas, vadias que se deparam com o vazio da vida sexual promíscua, hedonistas cada vez mais dopados com Prozac, e nada mais consegue chocar os “reacionários”.

(Talvez um casal se masturbar em público com um crucifixo durante a visita do Papa. Mas, convenhamos: apenas um demente chamaria isso de “liberdade de expressão” em vez de falta total de respeito, noção, sensibilidade e educação.)

Voltemos ao simples topless. Na Europa, isso é comum há décadas. À exceção dos jovens repletos de hormônios e principalmente estrangeiros que visitam os locais (mea culpa), ninguém dá a menor pelota para o espetáculo. E é aqui que eu queria chegar.

Nelson Rodrigues dedicou várias “confissões” ao tema. Para ele, os umbigos de fora no Carnaval já eram um atentado ao sagrado mistério da beleza feminina. Incomodava-lhe o excesso de exposição e vulgaridade, o que reduzia o valor do “ativo”, tirava o encanto da fantasia e da imaginação.

“Infelizmente, estamos numa época em que as patifarias do sexo são promocionais”, disse ele. Para Nelson, essa coisa de “educação sexual” era uma das “mais deslavadas imposturas” de seu tempo (e, desde então, piorou muito). Com suas pitadas de humor, o dramaturgo escreveu em “A feia nudez”:

Durante séculos e séculos, a História preservou o mistério e o suspense do umbigo. Era como se a mulher não o tivesse. Através das idades, só o marido de civil e religioso, ou o parteiro, conseguia vê-lo. Para os outros, o umbigo era irreal, utópico, absurdo. E, súbito, começam a aparecer, aqui e ali, as praias pré-históricas. Tal como no tempo em que os homens viviam em hordas bestiais. E começamos a época da nudez sem amor, do nu de graça e, repito, sem o pretexto do amor. A nudez exclusiva para o ser amado deixou de existir. 

Em outra confissão, o obsessivo Nelson retorna ao mesmo ponto: “nada mais feio do que a nudez sem amor. O ideal seria que só o bem-amado pudesse ver um decote”. Podemos, claro, achar graça do exagero. Mas como quase sempre acontece, Nelson Rodrigues tinha um ponto. Um ponto muito importante e verdadeiro.

Lei básica da economia: oferta e procura. Diamantes valem muito pois são raros. Água é bem fundamental, mas como a temos em abundância (por enquanto), vale pouco. Pergunto: o que querem as mulheres que compram essas lutas pelo direito de ficarem praticamente peladas em público? Desvalorizar a própria nudez feminina? Tática estranha…

O feminismo tem tido um efeito bastante paradoxal (ou não): em nome da defesa das mulheres, tem feito cada vez mais elas parecerem objetos. Agora contam até com o tal do Lulu, para difamar os homens, também tratados como simples objetos. Não se fazem mais gentlemen como antigamente. Normal, uma vez que também não se fazem mais mulheres como antigamente…

Respeito se conquista. Ou é merecido, ou não é. Às vezes parece que o feminismo é mesmo obra de recalcadas que odeiam o amor e os homens, pois não tiveram sucesso nem com um, nem com o outro. Pergunto: qual serão os próximos passos? Já que nada mais choca, e tudo é em nome do hedonismo “natural”, vamos regressar ao ponto pré-histórico de impudor?

Adão e Eva tiveram pudor: tamparam seus sexos, com vergonha. Mas tem uma turma que considera progresso chegarmos ao estágio anterior a esse, talvez o estágio dos demais animais. O amor é só um mito, logo, vamos liberar geral. Os cães fazem sexo sem cerimônia no meio da rua, inclusive com parentes próximos, assim como fazem suas necessidades também. Deve ser a visão de “liberdade plena” para muitos “progressistas”…

Não sou carola, reacionário ou careta. Sou apenas alguém que compreende que o peito feminino tem mais valor guardado no sutiã ou no biquíni. Isso faz de mim um antiliberal? Só na cabeça oca de quem confunde liberdade com libertinagem. Eu prefiro lutar em defesa do pudor!

Repetindo uma vez mais para os esquecidos: essa luta é cultural, não legal. Aquelas que não valorizam seus próprios peitos, a ponto de não preservá-los para os olhares de poucos, que façam seu topless em paz!

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