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Por que me tornei um coxinha: um apelo emotivo à esquerda
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coxinha

Prezados colegas da esquerda,

Neste desabafo, pretendo explicar por que me tornei um “coxinha”, na esperança de que sejam mais compreensivos comigo (afinal, tolerância e diversidade são os termos que vocês mais usam, não é mesmo?).

Em primeiro lugar, nasci com a cor errada. Sim, tenho a pele branca. Procurei índios ou negros em minha árvore genealógica, para poder me sentir parte das minorias, mas não deu muito certo. Se servir carcamano no rol de características louváveis, posso usá-la.

Mas o fato é que, até hoje, não consegui entrar em minorias mais destacadas. Porém, pergunto: que culpa tenho eu, poxa? Talvez na cota de baixinhos eu possa obter algum tipo de comiseração. Há estatísticas que provam que os mais altos ganham salários maiores. Peço que tentem sentir alguma pena por mim também, com meus incríveis 1,70m de altura.

Mas deixemos a genética de lado. A verdade é que já tentei seguir a cartilha politicamente correta da esquerda, só que não fui capaz. Pode ser alguma falha cognitiva, algum defeito de fábrica, não sei dizer. Só sei que nunca consegui, por exemplo, morrer de amores por assassinos. Sempre sinto mais pena das vítimas deles. É um obstáculo e tanto, eu sei.

Outra coisa: tenho, admito, uma condição financeira acima da média (escrevo em um belo computador da Apple, parecido com o do Sakamoto, e sabemos que pouca gente pode comprar objetos de luxo assim no Brasil). Mas eis meu problema: não consigo me sentir culpado por isso!

Trabalho duro, corro atrás, estudo, leio muito, não vejo novela nem futebol. São escolhas, claro. Uma opção minha. Aí eu tento me convencer de que nada disso é justo, de que o vagabundo (perdão, não reparem em meu vício de linguagem aburguesada e elitista) que passa o dia na praia deveria ter a mesma condição de vida que tenho, e não fico convencido! Malditos valores morais incutidos em mim desde cedo por pais burgueses!

Outro teste que não consigo passar, em hipótese alguma, é defender os mensaleiros. São Che Guevara sabe como tentei! Coloquei uma foto do Dirceu no espelho do meu banheiro, e toda vez que lá estou, repito para mim mesmo: “Esse cara fez tudo isso em nome da justiça e da liberdade”. O único resultado que obtive até agora foi dor de barriga e embrulho estomacal (ainda bem já que estava em local apropriado). Mas tentei, camaradas!

Foi a mesma coisa com os “black blocs”. Repetia em minha cabeça que eram jovens que despertaram da sonolência burguesa e, finalmente, lutavam pela construção de um mundo melhor. Aí eu via o vagabundo (ops, olha meu ranço elitista aí de novo) jogando pedra em policial, quebrando tudo em volta, tocando o terror, e a revolta tomava conta do meu ser. Uma vez coxinha, sempre coxinha, pelo visto.

Meus ilustres esquerdistas, como podem ver, não é culpa minha ser esse coxinha de cabelo partido ao lado (tentei partir ao meio e ficou estranho). Meu apelo emotivo visa a tocá-los na alma. Não são vocês que garantem que o marginal não tem culpa de ser marginal?

Então! E eu por acaso tenho culpa de ser coxinha? Vocês vão perdoar um terrorista italiano, mas não vão perdoar um coxinha descendente de carcamano e baixinho ainda por cima? Conto com a infinita compreensão de todos vocês. Sinceramente, acredito que mereço até um prêmio pelo meu esforço.

Desde já obrigado,

Rodrigo.

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