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Racismo institucionalizado em campanhas de saúde
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Em vez de o governo investir melhor na saúde pública para todos, em vez de o governo fomentar a união entre as “raças” em um país miscigenado como o nosso, eis que lança uma campanha em que culpa o racismo por doenças que afetam os negros e pardos de forma desproporcional, como se não houvesse diferença entre causa e efeito.

Toma-se a diferença no resultado como prova do racismo, sendo que a verdadeira razão da diferença pode estar em outra variável qualquer, ignorada. Como no exemplo da anemia falciforme, presente em maior proporção nos negros, mas que nada tem a ver com racismo.

Hélio Schwartsman falou do assunto em sua coluna de hoje. Ele ainda tenta ser benevolente com o Ministério da Saúde, acreditando nas boas intenções e na meta louvável de combater o racismo, mas afirma que alguém lá pisou na bola. Eu já sou mais cético e vejo tudo isso como um método presente na gestão lulopetista desde o começo. Diz o colunista:

A anemia falciforme é causada por uma mutação genética específica. Se a pessoa herda o gene mutante de apenas um dos genitores, ganha certa proteção natural contra a malária. Se o recebe dos dois, o resultado, catastrófico, é a anemia. Como o gene tem valor adaptativo –confere vantagem a quem vive em áreas infestadas pelo Plasmodium–, não foi eliminado pela seleção natural.

O resultado desse processo é que a moléstia falciforme afeta com frequência bem maior as populações negra e parda, cujos ancestrais vieram mais recentemente da África, onde a malária é endêmica. Taxas maiores de mortalidade para negros e pardos são, portanto, esperadas.

O ministério poderia ter um ponto se mostrasse que negros morrem proporcionalmente mais considerado o conjunto das pessoas que têm a doença. Mas, mesmo assim, para afirmar que isso se deve a racismo e não a outros motivos, teria de controlar os resultados para fatores como renda, escolaridade, geografia etc.

Se alguém merece ser denunciado por racismo aqui, é a natureza, ou Deus, para os que acreditam. 

A campanha que culpa os médicos do SUS de racismo gerou polêmica e reação. A Associação Piauiense de Medicina (Aspimed) entrou com uma ação na Justiça Federal contra o Ministério da Saúde por prevaricação. A Associação alega que uma campanha contra o racismo no sistema de saúde lançada pelo órgão desmoraliza o trabalho dos profissionais da área. Na ação, a Aspimed pede a interrupção de veiculação de todo o material publicitário.

De acordo com as entidades médicas, uma vez que o MS afirma ocorrência de racismo na rede pública de saúde e não aplica as sanções necessárias para coibi-lo, está sendo conivente, eximindo-se de utilizar os mecanismos para punir os culpados e, assim, está praticando crime de prevaricação. 

A advogada Roberta Fragoso, que vem combatendo essa visão racista há anos, foi direto ao ponto em uma mensagem publicada em sua página do Facebook:

Não se deixe manipular. O problema da saúde pública no Brasil independe da cor de pele: brancos, pretos ou pardos – as dificuldades de acesso decorrem do nível de renda, do grau de escolaridade, da estrutura familiar…. São muitas variáveis possíveis para explicar um mau atendimento na rede pública de saúde. Pretender explicar o tema a partir do racismo, em um país altamente miscigenado como o Brasil, é ignorar a complexidade da questão e optar pela simplificação apressada, tirânica e vazia. Diga NÃO ao racismo institucionalizado que assola o país! Diga NÃO ao politicamente correto que nos mediocriza! RAÇAS NÃO EXISTEM! Somos todos humanos.

O racismo ainda existe, sem dúvida. Mas é lamentável que o próprio governo seja, por meio desse tipo de campanha e do sistema de cotas raciais, seu maior fomentador. Não creio, como disse, tratar-se de uma “bola fora” ou de ignorância estatística. Acho que estamos lidando com algo muito pior aqui, com uma mentalidade racista, que segrega o povo entre “negros” e “brancos” para jogar uns contra os outros, institucionalizada no Brasil. É um perigo!

Rodrigo Constantino

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