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Se abana o rabo feito cachorro, late feito cachorro e anda feito cachorro, então é cachorro!
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Como alguém que já cansou de criticar o departamento de marketing dos liberais, e defender a estratégia do “time de futebol”, ou seja, aquela que reconhece a relevância dos diferentes papéis na luta pela liberdade, desde a zaga até o ataque, só posso aplaudir o esforço de Joel Pinheiro da Fonseca em sua coluna de hoje na Folha, ao vender liberalismo como se fosse outra coisa mais “palatável”.

É uma tática aceitável, ainda mais quando sabemos que o termo “neoliberal” vem sendo difamado há décadas pela esquerda hegemônica em nosso país. O autor banca o “isentão”, condena – com razão – a polarização das redes sociais, assim como o pensamento tribal que a alimenta, para concluir que o brasileiro médio não é nem socialista, nem liberal, e que só quer um estado menor, mais eficiente, e uma economia mais dinâmica, ou seja, aquilo que só o liberalismo pode entregar.

A esquerda usou muito essa estratégia de empurrar socialismo goela abaixo das pessoas como se fosse outra coisa. Nos Estados Unidos, chegaram ao absurdo de usurpar até mesmo o conceito “liberal”, e um esquerdista feito Obama posando de liberal é dose para leão, que leva ao desespero qualquer admirador de Milton Friedman ou Mises.

Sobre a polarização, e com o alerta de que não podemos virar “isentões” do tipo que, na prática, defende sempre a esquerda, já comentei hoje mesmo com base em textos de Coutinho e Garschagen, que condenam tal postura em nome da direita e do conservadorismo. É verdade que existe essa “direita CAPS LOCK”, que só sabe berrar e espumar de ódio, e que não representa a legítima direita liberal ou mesmo conservadora.

Aqui quero apenas chamar a atenção para o que Joel defende, sem cair no socialismo ou no liberalismo, ou seja, sem rótulo. O uso de rótulos pode gerar confusão mesmo, é perigoso. Mas não podemos abrir mão deles. Servem para facilitar nossa vida, para elucidar também. E quando analisamos as propostas mais concretas do autor, fica claro que tem forte cheiro de liberalismo mesmo. Senão, vejamos:

A maioria não é socialista nem liberal. Quer, simplesmente, um Brasil que funcione.

Em outras palavras, quer o exato oposto do que temos: um Estado ingerente, corrupto e mandão, que escolhia campeões nacionais (Odebrecht, Grupo X, Oi, JBS”¦) e os subsidiava com crédito barato e isenções fiscais, enquanto o resto vivia em um inferno fiscal, trabalhista e burocrático. Que fez obras faraônicas que destruíram a economia e o meio ambiente, mas na educação e no saneamento básico nem tocou. Quebrou gastando mal.

[…] O tamanho ideal do Estado é algo a se discutir; o indiscutível é que daria para fazer muito mais com o que se tem.

Para isso, temos que focar recursos na base de nossa pirâmide social e acabar com transferências de renda que beneficiam os mais ricos: bolsa empresário e isenções fiscais, funcionalismo público privilegiado, universidade de graça para os filhos da elite econômica etc.

Nossos impostos –mantendo a carga atual– poderiam ser mais simples (o Brasil é o recordista mundial no tempo que uma empresa gasta para calcular e pagar seus impostos) e mais bem distribuídos: não é aceitável que os ricos paguem uma parcela menor da sua renda em impostos do que os pobres. Corrigir isso por si só já traria ganhos sociais e econômicos.

Ao mesmo tempo, é preciso crescer. E, para isso, a economia precisa ser mais dinâmica e aberta ao mundo, a propriedade privada mais bem assegurada e a criação de valor menos sabotada por regulamentações e incerteza jurídica.

Um Estado eficiente, que foque recursos em quem precisa e que mantenha um ambiente livre para a geração de valor, reconhecendo a primazia dos indivíduos na construção de seu próprio destino e fazendo jus, finalmente, ao caráter empreendedor de nossa população. Aí sim teremos um Brasil maior do que coxinhas e petralhas.

Estado menos ingerente na economia, sem selecionar campeões nacionais, sem subsidiar grandes grupos, sem fazer obras faraônicas, menos burocracia, carga tributária simplificada, fim de privilégios para setor público, maior abertura comercial, regulamentação mais clara, segurança jurídica para contratos, primazia dos indivíduos na construção de seu próprio destino, empreendedorismo: se isso não parece uma receita liberal, então talvez eu seja marxista!

Claro, Joel escorrega às vezes, sob a ótica de um liberal, como quando aceita a manutenção da atual carga tributária indecente, apenas com maior simplificação. Talvez seja cálculo pragmático, talvez falta de convicção liberal, não sei. Mas o fato é que, para pairar acima de “petralhas” e “coxinhas”, o autor ofereceu um receituário um tanto… coxinha. É medo de assumir? Por que não dar nome aos bois?

Não há equivalência moral entre petralhas e coxinhas, tampouco o “meio termo” entre ambos é o caminho desejável. Misturar socialismo com capitalismo é como misturar lama com sorvete: estraga este, não salva aquela. Esse discurso está mais para a Rede de Marina Silva, de quem seu pai Eduardo Giannetti da Fonseca é tão próximo – uma proximidade que fez mais para minar o liberalismo dele do que aumentar o dela. A Rede, como sabemos, é a esquerda com embalagem de clorofila.

Como disse, até entendo a tentativa de Joel de vender o liberalismo – ainda que em uma versão light – como se fosse outra coisa, mais “neutra” e “isenta”. Mas essas bandeiras são liberais sim. E como disse uma vez numa reunião para amigos do Partido Novo: podem ignorar os rótulos, podem até fugir deles, mas se abana o rabo feito cachorro, se late feito cachorro, se anda feito cachorro, então só pode ser um cachorro!

Está na hora de os “isentões” de esquerda tirarem a máscara e assumirem que são petistas com perfume novo, mas a mesma essência fétida. E também está na hora de os “isentões” liberais saírem do armário, baterem no peito e gritarem: sim, sou liberal, com orgulho!

Já quanto ao próprio Joel, acho que ele deve se decidir para qual desses lados vai. Sem tribalismo, claro…

Rodrigo Constantino

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