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A última dos isentões: o mundo precisa de direita e esquerda
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Por Alexandre Borges, publicado pelo Instituto Liberal

A última do isentismo: “a democracia precisa de esquerda e direita”. Deus me dê forças para vencer a preguiça que esse pessoal me dá.

Circulam textos pela isentosfera (e eu não vou dar audiência para vocês, queridos) que defendem basicamente as seguintes “idéias”:

1. Numa economia livre, as empresas menos eficientes serão engolidas pelas mais eficientes criando monopólios, cartéis e oligopólios.

2. Os cartéis usarão sua força política para tomar conta do governo e criar ainda mais “desigualdades”, arrochar salários, arbitrar os preços e fazer tudo que os malvadões capitalistas de histórias em quadrinhos fazem.

3. A “prova” de que o capitalismo livre é concentrador de renda é que “a desigualdade está aumentando”. É a mão invisível de Thomas Piketty escrevendo por blogs tortos.

4. O mercado cria riqueza mas é “amoral”, portanto cabe ao “estado”, o deus pagão dos isentões, “regular” tudo para impedir que os despossuídos sejam engolidos pelos malvadões capitalistas.

5. A direita cria riqueza, a esquerda cuida dos pobres, portanto precisamos de ambos.

Primeiro aviso aos navegantes: essa conversa mole é o velho marxismo de sempre, as mesmas idéias de que o mercado é malvado e que tende aos oligopólios e à concentração de renda. Os isentões estão pelo menos 150 anos atrasados, o barbudo furunculoso já falava isso enquanto recebia uma mesada do capitalista Engels que colocava sua renda entre a dos 2% mais ricos do Reino Unido, a sociedade mais rica do mundo na época. A diferença entre Marx e os isentões não é de diagnóstico, mas de tratamento. Enquanto Marx previa o fim inexorável do capitalismo e sua substituição pelo comunismo como uma evolução, os isentões acreditam nas teses criadas pelo barão Sidney Webb sua esposa Beatrice, também herdeira de uma das mais tradicionais famílias inglesas, mais conhecidas como “estado de bem estar social” (na verdade, socialista). Marx, diga-se, tinha horror aos chamados social-democratas, vistos como agentes do capital para alienar os trabalhadores com políticas assistencialistas.

Vamos lá:

1. Não há qualquer evidência empírica que liberdade econômica cria oligopólios permanentes, muito pelo contrário. Oligopólios eternos são criações de estados intervencionistas que blindam as grandes corporações com regras que tornam as pequenas e médias empresas inviáveis em troca de generosas contribuições em paraísos fiscais ou malas de dinheiro. O Brasil é uma espécie de parque temático deste tipo de economia cartelizada por ação direta governamental, suas leis trabalhistas fascistóides, sua carga tributária pornográfica, sua produtividade vexatória, suas regulações insanas, e não por acaso está na ridícula e vergonhosa 122a posição do ranking de liberdade econômica da The Heritage Foundation.

Os proto-economistas de orelha de livro nunca vão aprender que numa economia realmente livre um setor altamente lucrativo sempre atrairá novos concorrentes, novas empresas mais leves e inovadoras, que fornecerão novas opções aos consumidores e não deixarão que os oligopólios sejam criados ou mantidos eternamente. O papel do estado numa economia livre é o oposto do que sugerem os isentões, ele deve impedir a criação de regras que só aumentam as barreiras de entrada para que mais competidores locais ou estrangeiros disputem a preferência do consumidor. Ninguém precisa ser economista para saber disso, na verdade é só entender o básico sobre a curva da oferta para não passar vergonha.

2. Já ouviu esse argumento? Eu já, no Manifesto Comunista de Marx e Engels: “O Governo do Estado moderno é apenas um comitê para gerir os negócios comuns de toda a burguesia.” Aviso aos historiadores de pé-quebrado: o liberalismo emergiu no final do séc. XVIII exatamente para combater o mercantilismo e a relação promíscua entre estado e economia. Para o liberal, tão importante quanto separar a igreja do estado é separar o estado da economia.

Um estado que protege o cidadão não é aquele que usa dinheiro de “bancos públicos” ou “agências de fomento” para entregar aos companheiros, é aquele que permite que todos sejam empreendedores e que desafiem o status quo se quiserem. Na cabeça confusa de um isentão, os capitalistas malvadões pressionarão o estado para que haja menos “proteções aos trabalhadores”, mas o que eles parecer ter dificuldade de entender é que exatamente nos países com menos “proteções” os trabalhadores possuem as melhores condições de vida, o que não é uma questão de opinião mas um fato demonstrável.

Quantos médicos, advogados ou professores no Brasil possuem o padrão de vida de uma faxineira nos EUA? Por que não existe um fluxo migratório da Inglaterra para países próximos como a Suécia, por exemplo? O isentão acha que não precisa pensar, basta repetir palavras de ordem dos gurus social-democratas dos salões chiques de Nova Iorque, Londres e Paris.

3. A nova tara dos isentões é a “desigualdade”, uma abstração estatística energúmena e embusteira que sequestra a verdadeira questão que é a elevação do padrão de vida geral da população. Se o cidadão tem acesso a uma vida digna, livre e com reais possibilidades de mobilidade social, o que muda na vida dele se outro possui triplex no Guarujá ou casa de campo em Atibaia?

Quando se mistura política com inveja, que é um dos pecados mais repugnantes da alma, o resultado é sempre o desastre. Numa sociedade próspera, é natural e desejável que os que inovam e oferecem à população os produtos e serviços que elevarão sua qualidade de vida colham os frutos do seu trabalho e ascendam socialmente. Puxar a escada de quem está subindo honestamente é a inveja que cega, destrói e cria miseráveis, os mesmos que os isentões fingem proteger.

4. O livre mercado é fruto da ordem espontânea de milhares de anos de evolução social num processo civilizatório que não tem paralelo na história da humanidade em termos de elevação das condições de vida de todos, especialmente dos mais pobres.

O estado não deve “regular” a sociedade, pelo contrário, seu papel como servidor público é consolidar as regras que emergem da própria sociedade e garantir que sejam cumpridas. O estado que cria leis é ditatorial e autoritário, o estado liberal garante as leis naturais, surgidas e consolidadas ao longo da experiência humana e da jurisprudência que tem como objetivo a melhor solução dos conflitos e a integridade física dos cidadãos.

A história mostra de forma inequívoca que quanto mais estado, menos proteção às liberdades individuais dos cidadãos, mais miséria e terror. O estado vislumbrado pela esquerda e pelos isentões nada mais é que um deus de uma seita exótica e esquizofrênica, um ente de razão superior que move o cidadão como peças num tabuleiro, que luta pela criação de um “homem novo”, que nega a natureza humana e investe no homem-massa de Ortega y Gasset.

É evidente que o “mercado”, entendido como ordenamento econômico, não é um ente moral, e muito menos o estado, o que também é auto-evidente. Quem deve ser moral é a sociedade e é ela quem deve moldar o estado e o ordenamento econômico para que ele respeite a moralidade da população.

5. Se a esquerda cuida dos pobres, como estão os pobres nos países administrados pela esquerda ou influenciados pelas idéias de esquerda? Basta uma olhada no ranking dos países com economias mais livres e depois comparar a lista dos países com melhor qualidade de vida, mais alto IDH, mais expectativa de vida, menos miseráveis, para ver que a relação é direta e óbvia entre liberdade e melhoria da vida de todos.

A esquerda não é necessária, pelo contrário, ela é um câncer. Quanto mais liberdade, numa sociedade moral e com sólidos princípios de respeito aos direitos individuais, menos pobres. Os mesmos que os isentões dizem se preocupar, entre um charuto cubano e outro que ninguém é de ferro.

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