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A camisa-de-força ideológica no Itamaraty
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Escrevi sobre a decadência do Itamaraty sob o governo do PT aqui, e recebi uma mensagem de apoio de um filho de diplomata. A meu pedido, ele elaborou um pouco mais seu ponto de vista, e preparou um texto, que colo abaixo. Pediu para ficar no anonimato, por motivos óbvios. O alerta, todavia, é bastante válido.

Acompanho seu bom trabalho há alguns anos e gostaria de parabenizá-lo pelo recente artigo sobre o Itamaraty. Sou filho de diplomata e observo a instituição há décadas.

O MRE é uma organização que não gera valor ao país — vive de um passado mítico e sempre olha para trás. 

Qualquer infeliz que assistiu à última “conferência nacional de política externa” no MRE sabe do que estou falando.  Foi um evento patético, sem qualquer análise ou debate sobre os grandes desafios da atualidade. Trata-se de uma organização sem visão de futuro ou agenda estratégica.

Boa governança exige inovação institucional e resultados. O Itamaraty precisa muito renovar seus quadros com pessoas experientes, pessoas com conhecimentos e habilidades práticas.  Os concursos de hoje reproduzirão por mais uma geração os piores aspectos da instituição. Focados em leituras históricas, muitas vezes ideologicamente enviesadas, os concursos selecionam jovens inexperientes que são meros reprodutores de retórica vazia.  Não selecionam nenhum conhecimento ou habilidade que poderia trazer resultados concretos ao país. Infelizmente, o Itamaraty não admite pensamento crítico ou inovação. Isso pode ser comprovado na leitura das teses geradas internamente – autorreferenciadas, verborrágicas, inúteis.    

O mínimo que poderia se esperar de um ministério de relações exteriores seria a especialização dos funcionários por idioma e por região geográfica.  Não adianta enviar dezenas de funcionários à China que não falam mandarim nem conhecem profundamente a burocracia chinesa; ou bancar diplomatas na Rússia que não falam russo fluentemente.

Se houvesse qualquer racionalidade na captação de recursos humanos, seriam favorecidas pessoas com boa experiência nesses países, pessoas com cursos superiores, experiência de trabalho e fluência nos idiomas locais. Repartições seriam ocupadas por especialistas competentes.  O sistema de hoje premia candidatos que passam anos memorizando inutilidades que nunca vão gerar valor à sociedade. São concursos lotéricos que não selecionam as competências necessárias para um mundo cada vez mais dinâmico e competitivo.

O Itamaraty vive no passado e pertence ao passado…. não é capaz de se reformar internamente ou de captar pessoas com os conhecimentos, habilidades e atitudes que gerariam benefícios ao país.  Prevejo que suas funções continuarão sendo esvaziadas ao longo dos próximos anos.  Estas serão transferidas ao MDIC e à novas empresas públicas com gestão por resultados.  

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