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A estratégia de saída do Fed e o alerta de Stephen Roach
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Quando o Fed, Banco Central americano, começou seu agressivo programa de estímulo monetário, vários analistas alertaram que não havia uma “estratégia de saída”. Quando o estímulo tivesse que ser retirado, a pressão seria na direção contrária, e o crescimento de antes, artificial, seria revertido. A tensão quanto a esse risco, agora que a economia americana apresenta sinais de melhora, tem feito os mercados soluçarem.

Para Stephen Roach, um dos mais respeitados analistas do mercado, estrategista por anos do Morgan Stanley, podemos estar chegando em um grave momento de crise. Ele alerta que a economia global pode estar nos primeiros estágios de uma nova crise séria. Uma vez mais, o Fed está no olho do furacão.

Ao reverter seu afrouxamento monetário (QE, sigla em inglês), o Fed causará efeitos colaterais importantes nos países emergentes. Só a expectativa de isso ocorrer já tem feito bolsas despencarem em alguns países, assim como suas moedas se desvalorizarem. A Índia e a Indonésia acusaram o golpe, assim como Brasil, África do Sul e Turquia.

O Fed alega não ter culpa, posição absurda segundo Roach, da mesma forma que era absurdo o Fed afirmar que não tinha ligação alguma com as bolhas criadas nos emergentes após a crise de 2008 e os estímulos agressivos de 2009. Não fosse essa política de baixa taxa de juros do Fed, o “hot money” não teria saído desesperadamente em busca de mais retorno nos emergentes.

A responsabilidade não é apenas do Fed, claro. Os países emergentes não fizeram o dever de casa. A conta-corrente já apresenta déficit preocupante. A índia, segundo o FMI, deve ter um rombo de 5% do PIB em 2012/2013, comparado a 2,8% em 2008/2011. A Indonésia saiu de 0,7% para 3% esperados. Padrões similares ocorrem no Brasil, na África do Sul e na Turquia.

Um grande buraco na conta-corrente costuma ser um prenúncio de crise em países emergentes, mostrando que viveram acima de suas condições econômicas. A poupança doméstica não foi grande o suficiente para justificar o crescimento de consumo ou investimento desses países. No caso brasileiro, quase tudo consumo, o que é ainda pior. A única forma de segurar as pontas é importar poupança externa. Mas eis o problema, quando o Fed retira estímulos e a taxa de juros sobre nos Estados Unidos.

O QE do Fed fez o papel dessa poupança externa até agora, mas ela era fictícia, artificial, não tinha lastro em aumento real de poupança nos países desenvolvidos. Fora cerca de US$ 4 trilhões de estímulos desde 2009. Uma montanha de recursos criada do nada, “out of thin air”. Os emergentes pensaram que podiam contar com um fluxo permanente de recursos externos. Nosso BC chegou a colocar em ata tal perspectiva!

Se o Fed realmente tiver a coragem de retirar os estímulos, o que inevitavelmente terá de fazer em algum momento, esse fluxo se reverterá para os mercados mais desenvolvidos. Só a possibilidade de isso ocorrer em breve já foi suficiente para assustar os mercados e ocorrer uma forte saída de dólares dos emergentes.

O recado importante, feito por Roach, é o seguinte: desequilíbrios nas contas externas não são sustentáveis indefinidamente. Os países emergentes são culpados por terem contado com um fluxo artificial como se fosse permanente. E o Fed é igualmente culpado por ter inundado os mercados com tais recursos.

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