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As guerras estimulam a economia? Ou: A teoria da janela quebrada.
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O risco de uma guerra na Síria aumentou consideravelmente nos últimos dias, e as bolsas já sofreram o golpe. Se ela é desejável ou não, do ponto de vista geopolítico ou mesmo moral, não vem ao caso aqui. Vou tratar apenas do ponto de vista econômico, antes que Paul Krugman comece a espalhar por aí que ela servirá para estimular a economia.

O Prêmio Nobel de Economia é um dos maiores ícones do keynesianismo moderno, e repete o tempo todo que foi a Segunda Guerra Mundial que salvou os Estados Unidos da Grande Depressão. Mais recentemente, chegou a defender que gastos públicos para criar um mecanismo de defesa contra a hipotética invasão alienígena seria uma medida sensata para conter a crise. Eis o grau de absurdo que chega à lógica keynesiana.

Qualquer reflexão mais atenta mostraria que jamais pode ser favorável para a economia desviar recursos escassos para fins inúteis. Qual o ganho social em utilizar aço e trabalho escasso para produzir navios que serão afundados na guerra? Como dizia Ludwig von Mises, a prosperidade que a guerra traz para a economia é a mesma dos furacões e terremotos.

Na verdade, esta falácia é bem antiga, e já tinha sido refutada por Bastiat em seu exemplo da janela quebrada. Algum vândalo joga uma pedra que estilhaça a janela de uma loja. Em seguida, algumas pessoas tentam consolar o dono da loja alegando que, ao menos, ele estará gerando emprego ao consertar a janela. Afinal, se janelas nunca fossem quebradas, de que iriam viver os reparadores de janelas?

Esta linha de raciocínio ignora aquilo que não se vê de imediato. Sim, o conserto da janela iria propiciar um ganho para o vidraceiro. Mas o que seria feito desse dinheiro gasto caso a janela não tivesse sido quebrada? Eis a pergunta que nem todos fazem, porém crucial para o entendimento da economia. Trata-se do custo de oportunidade.

Existem várias alternativas de uso que o dono da loja poderia dar ao dinheiro. Ele poderia investi-lo para aumentar a produção, poderia poupá-lo ou poderia gastar com qualquer outra coisa. Supondo que ele gastasse a mesma quantia na compra de um terno, o alfaiate teria sido beneficiado, mas agora que o dinheiro foi usado para consertar a janela, esse terno deixou de ser vendido.

Isso é aquilo que não se vê, ao menos de imediato. O alfaiate do exemplo é ignorado, é o homem esquecido na análise superficial da coisa. Parece ridículo de tão óbvio este caso, mas o leitor mais leigo ficaria chocado com os demais casos, que são apenas variações dessa mesma falácia.

Ao focar de forma obsessiva no PIB, cuja fórmula é Y = C + I + G + (X – M), o keynesianismo produziu na cabeça dos mais desatentos uma crença absurda, qual seja, a de que o aumento dos gastos públicos é algo positivo para o crescimento econômico. Mesmo que seja um gasto desnecessário, ou que seja voltado para mísseis que acabarão explodindo em locais distantes.

Guerras não produzem crescimento econômico de forma sustentável. Elas podem incrementar os dados do PIB no curto prazo, mas confundir isso com prosperidade é um grande equívoco. Elas ainda podem ser vistas como necessárias, justas, mas serão sempre um custo, um fardo econômico. Paul Krugman tem todos os títulos importantes da academia, mas ainda não entendeu essa obviedade ululante.

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