Está estampado na capa do caderno de economia da Folha: fracassa um dos dois primeiros leilões de concessão de rodovias.
Aposta do governo Dilma para recuperar a confiança da economia brasileira e garantir a retomada do crescimento, o Programa de Investimento em Logística falhou logo no seu primeiro teste.
Dos dois leilões de concessão de rodovias escolhidos para inaugurar o programa, um deles, o trecho da BR-262 (MG-ES), não atraiu investidor. Deu “vazio”, no jargão.
O outro trecho, da BR-050 (MG-GO), registrou oito concorrentes interessados.
O fracasso parcial irritou a presidente Dilma Rousseff, que cobrou explicações de sua equipe. Um assessor presidencial afirmou à Folha que até ontem o governo não tinha “nenhum indicativo” de que o resultado negativo pudesse ocorrer.
O ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que foi a falta de interessados foi uma “surpresa”. “Você tem oito propostas para uma rodovia e nenhuma para a outra. Então, deve ter tido algum problema que ainda não detectamos.” Segundo ele, pode ter havido algum problema de “natureza política”, que o governo ainda tem de avaliar.
Em primeira análise, a equipe acredita que não se trata de uma falha generalizada do programa, mas de um caso “específico e localizado”, já que o leilão da BR-050 foi bem-sucedido despertou interesse. Este trecho é considerado pelos empresários como um “filé”.
O problema é que a BR-262 também era apontada pelo governo como outro “filé” e havia sido colocada em leilão exatamente para garantir sucesso pleno já na largada.
Para o coordenador do núcleo de logística e infraestrutura da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, a previsibilidade explica a alta demanda em um dos trechos. E a falta dela é a razão para o fracasso do outro ofertado.
“Não é só aumentar a taxa interna de retorno [TIR] para atrair o investidor”, diz Resende, que alerta para o risco de o governo se colocar como sócio em alguns projetos.
O leilão deixou uma lição a ser assimilada pelo governo: a de que o mercado é avesso ao risco, gosta de jogar com regras claras e precisa de informações técnicas aprofundadas.
Eu vejo esse resultado como um processo de aprendizagem pelo governo. Pelo lado do mercado, eu vejo uma mensagem sobre o dever de casa que o governo precisa fazer para as próximas concessões.
O governo como sócio não transmite confiabilidade. Em todo o processo de concessão em que o governo se coloca como sócio, o risco aumenta, e a tendência é que os investidores se afastem.
O governo precisa aprender que o mercado é avesso ao risco. Precisa jogar a regra clara, garantir transparência e se colocar no papel do agente que vai cobrar qualidade, e não como sócio.
Na concessão de aeroportos, o governo insiste em se colocar como sócio e isso pode prejudicar os leilões que vêm por aí.
Não é só aumentar a taxa interna de retorno [TIR] para atrair o investidor, mas fazer com que o projeto-executivo seja detalhado e transparente.
O governo Dilma colocou todas as fichas nos leilões de concessão para resgatar a credibilidade e os investimentos necessários para a infraestrutura. Começou mal. E dificilmente fará um diagnóstico correto da coisa. Não entende que o excesso de intervenção arbitrária dos últimos anos assusta investidores em potencial. Se entendesse, não seria tão intervencionista, ora!
Essa equipe econômica – e vale lembrar que a presidente também – acredita no modelo desenvolvimentista que delega ao estado a função de locomotiva da economia. Só não fazem sozinhos os investimentos porque não têm os recursos necessários e nem conseguem aplicar direito os que possuem. Mas por eles, o mercado ficava de fora. Não confiam no mercado. Não acreditam no fator lucro como motivador adequado para o progresso.
Enquanto essas pessoas estiverem no comando do governo, dificilmente haverá uma reversão grande do quadro. Pode ter um ou outro caso de sucesso pontual, algum leilão concorrido e tudo mais. Mas o cenário não será de alta confiança nas regras do jogo e pesados investimentos com base na livre concorrência.
Quem já foi mordido por cobra tem medo até de lingüiça. E esse governo já mostrou ser uma cobra e tanto quando precisa morder empresas e setores inteiros para seus fins políticos e eleitoreiros. Os investidores desconfiam do governo. E com toda razão!
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