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O gerente
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Em um hotel de Brasília, uma perua espalhafatosa desce as escadas e avança na direção do balcão principal, aos berros:

– Fui roubada! Fui roubada!

O balconista, perplexo, tenta acalmá-la:

– Minha senhora, tem certeza disso? O que lhe roubaram?

– Meus lindos brincos de ouro! Da nova coleção! Valem uma fortuna!

– Calma, senhora. Será que não é algum mal-entendido? Já procurou em todos os lugares? Já perguntou à camareira?

– Não está em canto algum! Eu não perdi meus brincos! Ganhei de presente do meu marido e cuido muito bem deles. Estavam no COFRE! Entendeu? Dentro do cofre, com senha e tudo! Como alguém pode ter roubado meus brincos dentro do cofre?

O balconista ficou ainda mais perplexo. A situação era complicada mesmo. O que ele poderia fazer?

– De fato, minha senhora, se tem certeza disso, então temos um grande problema…

– Mas por que você acha que estou tão transtornada, meu filho?! Quer saber, não adianta eu falar com um subalterno. Chama logo o gerente desse hotel!

– Entendo… Aguarde um minuto, por favor. Temos um novo gerente, mas confesso que ele vive ocupado e quase nunca o vemos. Fica em uma sala dos fundos recebendo políticos e empresários, que chegam e saem sempre com malas. Vou chamá-lo agora mesmo.

Dez minutos depois, chega o gerente, usando um curativo no nariz (parece que tinha feito uma plástica recentemente):

– Pois não, em que posso ajudá-la?

– Já expliquei para o balconista. Eu fui roubada! Levaram meus enormes brincos de ouro de dentro do cofre, enquanto estava fora, fazendo compras no shopping! Exijo uma explicação imediatamente!

– A senhora me parece uma pessoa muito distinta, com muitas posses. Veja bem, essa coisa de roubo é bem relativa. Digamos que alguém levou sim suas jóias, mas para financiar uma causa revolucionária em nome dos pobres. Isso não seria mais compreensível?

– Como é que é?! O senhor está maluco??? Aquelas jóias são MINHAS! Meu marido as comprou! Que conversa furada é essa de revolução agora?

– O Brasil tem muita desigualdade social. A senhora nunca leu nada do Sakamoto? Deveria. Seus brincos não vão lhe fazer tanta falta, mas podem ajudar algum político ungido e abnegado a comprar votos no Congresso para aprovar reformas socialistas, controlar a imprensa golpista, e…

– Ei, eu estou lhe reconhecendo! Você não é aquele ex-poderoso ministro, que foi acusado de chefe de quadrilha e acabou preso e tudo? Como é que está trabalhando de gerente de hotel agora? E ainda por cima justificando o injustificável, o roubo de uma hóspede?!

Reconhecido, o gerente abaixa os olhos, mas depois insiste no discurso:

– Não importa quem eu seja. O importante é que a ética é algo muito relativo, e não podemos ser moralistas…

– Cala a boca! Quer saber? Isso não é caso para gerente resolver. Vou é chamar a polícia logo de uma vez. Quem roubou meu brinco tem que ir para a cadeia!

– Nem se dê ao trabalho, minha senhora. É para lá que eu vou assim que acabar o expediente mesmo.

Fim.

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