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Na prática, o Ministério da Educação (MEC) se adaptou ao espírito do tempo, da distribuição incessante de informação. Os problemas-questões tentam convergir conhecimentos ,exigir interpretação. Pouco importa o que estudante sabe, mas sim o que ele é capaz de fazer com o conjunto de informações fornecido. “O Enem é um excelente verificador de condições, mas que precisa, sim, ser continuamente aprimorado”, alega o professor Ângelo Ricardo de Souza. “O grande erro dos detratores que sugerem coisas diferentes do Enem é que eles não tem um bom diagnóstico. Precisamos do maior número possível de dados para entender melhor a causa dos nossos problemas históricos e, assim, tomar medidas efetivas de melhora”, reitera.

Desde 1999, o exame é utilizado como modalidade alternativa, de modo integral ou parcial, para seleção a vagas disponibilizadas em instituições de ensino superior. Nos últimos anos, com a efetivação de mais programas de ingresso à universidade, como ProUni, Ciência Sem Fronteiras, Pronatec, Fies e Sisu, também aumentou o interesse no funcionamento de sua lógica, gerando uma certa dicotomia.

Entre a consolidação do Enem e o Brasil profundo

Após 17 anos, exame está consolidado como principal ferramenta de avaliação do ensino médio brasileiro, mas está longe de resolver questões educacionais históricas

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De um lado, a necessidade institucional de formar jovens preparados para ingressar no mercado de trabalho. De outro, não menos importante, o imperativo de formar pessoas com aptidões para o exercício pleno e crítico de cidadania. “A bem da verdade, nem todo mundo tinha de fazer faculdade”, diz Wellington Wella, professor de Redação da Positivo. Ele comenta o que podemos denominar como cultura da cobrança: a necessidade de se fazer uma faculdade a qualquer custo. “Por seu caráter de vestibular unificado, o Enem naturalmente promove um funil. Mas o que pouco se discute é a idade em que ele surge, em estudantes com 16, 17 anos. Esse sujeito escolhe o curso que acredita ideal ou é fortemente influenciado pela família. Então, ele passa e logo está apto a se formar, com 21 anos. Mas o que tem de formado num indivíduo de 21 anos? Deveríamos investir mais em pós-médio”, sugere Wella.

Do real ao ideal

Em sua tese de doutorado Enem: limites e possibilidades do Exame Nacional de Ensino Médio enquanto indicador de qualidade escolar, o pesquisador Rodrigo Travitsky divide a história do exame em dois momentos: a fase do raciocínio, até 2009, e a fase mais focada em conteúdo, em vigor até hoje.

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Realmente, não é nada incomum encontrar recém-formados que estão frustrados com suas escolhas. Contudo, Souza aponta para um outro ângulo. “Infelizmente, no Brasil, ter uma faculdade é uma condição inicial de sucesso. Se com o ensino superior completo já não se tem garantia de estabilidade profissional, não ter essa qualificação é quase uma carta de acesso à precarização da mão de obra”, avalia Souza. Para ele, as escolas estão ensinando os estudantes a competir, o que não é bom, e o resultado do Enem não pode ser encarado como um medidor de qualidade. “Uma boa nota não é sinônimo de bom aluno; é treino. Mas é inegável que o Enem está servindo como verificador de condições para futuras ações governamentais. Contudo, educação é muito mais do que resultado e primeiros lugares”, completa.

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