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O mosquito Aedes aegypti transmite a dengue, a febre chikungunya e a zyka. Lixo domiciliar ainda é o principal criadouro. | Paula Whitaker/Reuters
O mosquito Aedes aegypti transmite a dengue, a febre chikungunya e a zyka. Lixo domiciliar ainda é o principal criadouro.| Foto: Paula Whitaker/Reuters

A última vez que Patrícia Tosetti viu o filho Miguel, de 4 anos, com vida, ele estava entubado em uma cama de UTI. Depois de dias de sofrimento, a criança morreu vítima de dengue hemorrágica, em Maringá, no Noroeste do Paraná, em abril do ano passado.

UM MOSQUITO, TRÊS DOENÇAS

Além da dengue, o mosquito Aedes aegypti ainda é transmissor da febre chikungunya e da zyka. Segundo a chefe do Centro de Vigilância Ambiental da Sesa, Ivana Belmonte, os sintomas das três doenças são semelhantes. Febre, dor de cabeça, dores musculares e nas articulações, além de manchas na pele que são recorrentes. No caso da chikungunya, a evolução costuma ser mais dolorosa, com dores nas articulações que podem se estender por meses e se tornar crônicas. Em todas as situações, a indicação é que o paciente procure ajuda médica logo nos primeiros sintomas, o que possibilita a identificação do vírus e o tratamento correto. Repouso, hidratação e o uso de analgésicos com receita médica ainda são as únicas maneiras de diminuir os desconfortos causados pela picada do inseto, ainda segundo Ivana.

Não há nada que consiga explicar essa dor. Como um mosquito tão pequeno faz um estrago tão grande?

Patrícia Tosetti,que perdeu o filho Miguel, de 4 anos, para a dengue.

A família havia acabado de se mudar para o município, vinda de Londrina, na região Norte. A casa alugada por eles ficava no Parque das Laranjeiras, bairro que apresentava, à época, índice quatro vezes maior que o considerado tolerável pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

“Eu morri junto com ele. Não há nada no dicionário nem na ciência que consiga explicar essa dor. Como um mosquito tão pequeno faz um estrago tão grande?”, questiona Patrícia.

De lá para cá, outras 24 pessoas morreram no estado por causa da doença, conforme o último levantamento da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). Outras milhares engrossam a lista de acamados que sofrem com os sintomas dolorosos do vírus do mosquito Aedes aegypti . Em todo o Paraná, de agosto de 2014 até o final de agosto deste ano, foram 89.968 notificações da doença. Destes, 35. 433 foram confirmados.

Ângelo Luiz Cardozo, 18 anos, por exemplo, perdeu o vestibular de verão da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no início do ano, porque não aguentou sair de casa. Três dias antes da prova para concorrer a uma vaga de Arquitetura, ele foi diagnosticado com dengue. “Mesmo assim, eu queria ir, estava decidido, mas a dor era tão forte, que não conseguia ter controle do meu corpo. Foi um prejuízo e tanto”, lamenta.

Na casa da bióloga Jéssica Xavier, mãe e marido foram acometidos ao mesmo tempo pela doença. No caso da mãe, Eliana Xavier, o caso foi hemorrágico. Os vasos sanguíneos superficiais estouraram, deixando-a toda roxa, conta a filha. O marido Thales Wendpap teve mais sorte, mas ainda assim ficou de cama por vários dias.

O medo de ser a próxima vítima vive rondando a casa, já que, de acordo com Jéssica, a vizinhança ainda não se conscientizou sobre a importância da limpeza local. “Há muito lixo nos quintais, muitas plantas e ninguém se importa com nada.”

Norte, Noroeste e Oeste têm mais casos

O último boletim divulgado pela Sesa, no fim de agosto, aponta que o Paraná vive uma situação epidêmica. A incidência no estado é de 306,45 casos por 100 mil habitantes. Em um ano, dos 399 municípios, 252 já tiveram ocorrência de casos autóctones, transmitidos dentro de sua região.

As regiões Norte, Noroeste e Oeste do Paraná lideram o número de casos, com alto índice de infestação do mosquito Aedes aegypti.

Maringá, no Noroeste, por exemplo, vive mais uma vez uma epidemia da doença.

A Secretaria Municipal de Saúde da cidade informou que até 4 de setembro foram registrados 3.828 notificações, 1.199 casos confirmados e duas mortes. Segundo a responsável pela pasta, Carmen Inocente, as ações de prevenção e combate ao mosquito têm sido intensificadas, no entanto, ainda falta colaboração da comunidade.

“No último Lira [Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti] constatamos que o lixo domiciliar ainda lidera como criadouro, além de outros resíduos, como barris, tinas e pneus. Todos esses focos podem ser eliminados pelas próprias pessoas.”

Ainda conforme a Sesa, as cidades que lideram a lista de casos confirmados de dengue no estado são: São João do Caiuá (1.122), Nova Esperança (1.916), Borrazópolis (504), Santa Isabel do Ivaí (497), Jataizinho (643).

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