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Dia 27 de março último, Adrian Stanghrelie da Silveira, na época com 7 anos, chegou da escola e, por volta das 16 h, pediu à mãe para andar de bicicleta no condomínio onde mora, em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba. Minutos depois, retornou. A camiseta suja de sangue, a mão no pescoço e a expressão de susto denunciavam que algo grave tinha ocorrido. Rosilene Stanghrelie, a mãe, tomada pelo espanto, ao se aproximar percebeu um corte profundo no pescoço do menino. Em questão de segundos, ambos estavam no carro do vizinho rumo ao hospital mais próximo.

Foram seis pontos no corte e uma notícia dos médicos que fez Rosilene perder o ar: “Mãe, foi por pouco. Faltou menos de um fio de cabelo para alcançar a artéria do seu filho. Se isso tivesse acontecido, não daria tempo de ele chegar com vida ao hospital. Foi um milagre”, disse um deles. O corte foi feito por uma linha de pipa com cerol. A brincadeira, apesar de irregular, é comum na região e praticada diariamente por pessoas de todas as idades. “Nosso vizinho encontrou um fio preso em uma árvore próxima e a ponta solta estava dentro do condomínio. Quando Adrian passou com a bicicleta, o fio esticou e alcançou o pescoço”, lembra Rosilene.

Na escola do garoto, a comoção foi geral. Antes mesmo do acontecimento, as professoras da Escola Municipal Lucídio Ribeiro, que participa do Ler e Pensar desde 2009, já buscavam conscientizar os alunos do 1º ao 5º ano sobre os perigos da prática. Quando souberam de Adrian e do tempo que ele ficaria afastado, a professora Juliana Custódio Moreno e a supervisora Rita Lima deram início a uma campanha contra o uso do cerol. Com a turma de Adrian (no centro da foto), elas incentivaram a leitura de reportagens no site da Gazeta do Povo e trabalharam o tema em sala. Em pouco tempo, os mais de 400 alunos da Lucídio Ribeiro estavam mobilizados. “Convidamos a Polícia Rodoviária Federal para fazer uma palestra. Eles forneceram informativos e fizemos uma campanha com moradores e escolas do entorno”, diz Rita.

E a mobilização não parou por aí. As crianças elaboraram e assinaram uma carta solicitando à Câmara de Vereadores de Campina Grande do Sul a criação de um projeto de lei para proibir o uso do cerol e evitar acidentes. Em maio, o encontro com o presidente e vice-presidente da Câmara aconteceu e contou com a presença das educadoras, da mãe, de uma representante da Secretaria Municipal de Educação e de Adrian, acompanhado por Caio Perrony da Silva, melhor amigo e colega de turma. A comoção foi tamanha que a proposta de lei ganhou urgência.

Na noite da última segunda-feira (13), o projeto de lei foi aprovado em segunda votação pelos vereadores. A lei, que agora segue para sanção ou veto do Executivo municipal, recebeu o nome de Adrian Stanghrelie da Silveira. Se for sancionada, proibirá o uso, comercialização, distribuição e produção do cerol no município. Quem desrespeitar a norma estará sujeito a multa de, no mínimo, R$ 1,2 mil e responderá pelo ato infracionário.

A professora Juliana diz que ela e a escola têm motivos de sobra para se orgulhar. “Além de educadoras, somos cidadãs e, se buscarmos informação e nossos direitos, geramos a transformação que quisermos.”

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