• Carregando...
 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

O primeiro contato entre “FatorZero” e “TheElder” aconteceu em um universo fantástico no qual os dois eram elfos, trolls, guerreiros ou grandes magos. Habituados à dinâmica dos jogos on-line de RPG e às interações virtuais, Daniel Luiz, 16 anos, e Marcelo Cosqui, 17, não esboçam estranhamento algum ao relembrar como se conheceram e se tornaram amigos. Embora não residam na mesma cidade e nunca tenham enxergado um ao outro ao vivo, os adolescentes conversam diariamente, confidenciam e planejam o encontro em terra firme.

Entre os mais jovens, construir e manter amizades por meio de uma tela de computador é normal. Até rotineiro. A facilidade para encontrar grupos de pessoas que compartilham e cultivam interesses comuns potencializa o surgimento desses vínculos, é o que sugere estudo realizado pelo instituto americano de pesquisas Pew.

“Uma amizade virtual pode ser satisfatória e preencher as necessidades emocionais que os indivíduos têm. As pessoas esperam do amigo virtual o mesmo que esperam de um amigo ‘real’: sinceridade, cumplicidade, lealdade.”

Naim AkelCoordenador do curso de Psicologia e do programa de Especialização em Neurociência da PUCPR

O levantamento revelou que 57% dos adolescentes americanos entre 13 e 17 anos já fizeram pelo menos um amigo pela internet e essas interações começaram justamente nas redes sociais ou durante maratonas de games on-line – ambientes virtuais que promovem o encontro de pessoas mais ou menos parecidas.

Até aí, tudo bem: desde as jurássicas salas de bate-papo, desconhecidos trocam figurinhas e ensaiam amizades. A diferença é que, hoje, nem um quinto dessas interações migra para o mundo de carne e osso. Segundo a pesquisa, 77% dos jovens entrevistados nunca encontraram amigos virtuais ao vivo; 83% se sentem mais conectados aos amigos graças às redes sociais e 78% disseram se sentir mais próximos ao jogar on-line.

Outros números

68% dos adolescentes afirmaram ter recebido apoio em momentos difíceis de amigos on-line.

55% dos entrevistados mantêm contato diário com amigos por mensagens de texto.

25% mantêm contato diário com amigos pessoalmente.

Na avaliação do psicólogo Naim Akel, coordenador do curso de Psicologia e do programa de Especialização em Neurociência da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), isso acontece porque os vínculos firmados no universo on-line podem ser tão fortes e duradouros quanto aqueles construídos offline. Desse modo, muitas vezes os amigos não sentem necessidade de transformar a relação para fortalecê-la.

“Uma amizade virtual pode ser satisfatória e preencher as necessidades emocionais que os indivíduos têm. As pessoas esperam do amigo virtual o mesmo que esperam de um amigo ‘real’: sinceridade, cumplicidade, lealdade. As expectativas e a relação afetiva são as mesmas, e a proximidade é possível mesmo via internet”, defende.

É o fim?

Privacidade

Pesquisa anterior realizada pela Pew mostrou quais informações e conteúdos os adolescentes optam por compartilhar e quais preferem manter protegidos nas redes sociais. A ideia de privacidade ganha outros contornos no universo virtual: 92% expõem seu nome verdadeiro; 71%, a cidade onde vivem e 62%, o status de relacionamento. Também não há censura no que se refere à divulgação da própria imagem – 91% compartilham fotografias de si mesmos, de onde moram e de atividades do cotidiano.

Contrário às generalizações comuns sobre o tema, Akel argumenta que a internet propicia o surgimento de redes de contatos e de relacionamentos que, ainda que operem de maneira diferente do tradicional “olho-no-olho”, são importantes para produzir consensos e informações, fazer circular conhecimentos e promover a sensação de pertencimento – fonte constante de ansiedade para adolescentes em pleno desenvolvimento de suas habilidades.

“O ser humano necessita de relações interpessoais reais, ao vivo; elas são importantes para a socialização, para o desenvolvimento de habilidades sociais como empatia. Os ambientes online e offline não são excludentes, mas complementares. Muitas relações nascidas do contato virtual são transferidas para o ambiente off-line”, finaliza.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]