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Os seis eixos de linhas de BRT da capital transportam 543 mil passageiros por dia: um quarto de todo o sistema | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Os seis eixos de linhas de BRT da capital transportam 543 mil passageiros por dia: um quarto de todo o sistema| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Monitoramento

Tecnologia ajuda na operação e controle da frota na rua

A implantação nos últimos anos de sistemas de monitoramento de tráfego com tecnologia mais avançada auxilia na operação de transporte, especialmente no BRT. Em Curitiba, o Centro de Controle Operacional (CCO) fica na Urbs e abriga tanto funcionários que cuidam apenas do transporte coletivo quanto outros que monitoram questões de trânsito em geral. Na tela do centro, é possível verificar onde está cada um dos ônibus em operação, equipados com aparelhos de GPS, que indicam se estão no horário ou não. Com essas informações, os fiscais podem passar orientações para buscar uma solução. Na capital, tudo que está na tela do CCO também é replicado no centro de controle na sede do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp). O sindicato faz um acompanhamento dos itinerários e consegue identificar se a frequência de ônibus está adequada em uma determinada linha. Se há um problema, as empresas e a Urbs discutem uma forma de solucioná-lo. Além disso, os fiscais que estão na rua usam um PDA, equipamento que transmite informações em tempo real para a central, além de fazer os registros de ocorrências.

180 cidades em todo o mundo possuem sistemas de BRT. Juntas, elas somam 4.668 quilômetros de corredores exclusivos para ônibus e transportam 31,5 milhões de passageiros por dia. África e Oceania são os continentes com menos corredores, espalhados em três e seis cidades, respectivamente. Ásia e América Latina lideram o ranking de extensão de canaletas. O Brasil está no topo da lista entre os países americanos. Os dados estão disponíveis no Global BRT Data (www.brtdata.org).

Pioneira na implantação de sistemas de BRT (Bus Rapid Transit), as canaletas exclusivas para circulação de ônibus, Curitiba sente os efeitos da saturação do sistema. Sua principal linha, a Santa Cândida / Capão Raso, que transporta 170 mil pessoas por dia no eixo Norte-Sul da cidade, é alvo de reclamações por causa dos atrasos constantes e veículos em comboio. Trafegando sem impedimentos por vias exclusivas não dá para imaginar que os expressos atrasem, mas isso ocorre – e com fre­­quência maior do que os usuários gostariam.

INFOGRÁFICO: Cidades que implantaram o BRT recentemente já possuem malha de faixas exclusiva maior

Uma das causas para o comboio de ônibus atrasados é a falta de sincronismo entre os semáforos. A situação foi agravada depois de tantas obras na linha – de recapeamento do pavimento ao desalinhamento das estações-tubo. "Quando se faz a recomposição do pavimento, às vezes você rompe os laços magnéticos de sincronismo dos semáforos e isso demanda manutenção", justifica o presidente da Urbs, Roberto Gregório da Silva Junior. Nesta semana, a Urbs corrigiu o sincronismo de 21 dos 55 semáforos distribuídos ao longo do caminho do biarticulado. A expectativa é de que a regularidade da linha seja retomada.

O próprio sucesso do modelo acaba sendo a causa da saturação, porque a proposta de transporte atraiu muitos passageiros e depois estagnou. "Parece que em Curitiba o grande problema foi deixar de revitalizar o corredor já existente, principalmente os semáforos. Dependendo do número de cruzamentos, se não dá prioridade ao ônibus, você perde eficiência. Isso tem conserto, já temos alta tecnologia para criar semáforos inteligentes e até comandados do próprio ônibus", argumenta Otávio Cunha, presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU).

Na avaliação de Cunha, Curitiba deixou de cuidar dos corredores, não investindo na melhoria de pavimento e estações, mas o sistema continuou atraindo usuários. De acordo com um levantamento da Urbs, os seis eixos de linhas de BRT da capital transportam diariamente cerca de 543 mil passageiros, quase um quarto dos passageiros de todo o sistema integrado. O maior volume de passageiros está na linha Santa Cândida / Capão Raso, com 170 mil pessoas por dia, chegando a picos de 45 mil passageiros nos dois sentidos em horário de pico. "O BRT tem uma capacidade de transporte de 40 mil passageiros por hora, por sentido. Se não existe mais possibilidade de ampliação do serviço, tem de investir em outro modal", analisa Cunha.

Para Gregório, os desafios do sistema estão presentes em todo o momento porque não podemos considerá-lo pronto e adequado. "Ter uma rede integrada e consolidada é um desafio, envolve ajustes operacionais e de infraestrutura, além de aposta na tecnologia", pondera.

Cidades se inspiram no modelo paranaense

Pelo menos três cidades brasileiras terão uma malha de BRT superior à de Curitiba, de acordo com o levantamento da Global BRT Data, vinculada à rede Embarq. É o caso do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, onde as canaletas foram implantadas recentemente e a toque de caixa. Na capital mineira, um plano de mobilidade elaborado em 2010 projetou as intervenções que devem ser realizadas até 2030. Em 20 anos, BH pretende criar 220 quilômetros de vias estruturantes, sendo que até 180 quilômetros podem ser de BRT.

Para Célio de Freitas Bouzada, diretor de Plane­­jamento da BHTrans, os problemas que Curitiba apresenta são um preço a pagar pelo pioneirismo. Por enquanto, em Belo Horizonte a avaliação do sistema é muito positiva, também por causa do pouco tempo de operação – a maior parte começou neste ano. "Nosso projeto foi implantado agora e projetado para suportar aumento de demanda até 2030", explica.

Na cidade, nenhum usuário pode ficar a mais do que 600 metros de um ponto de ônibus, o que deixa a distância média entre as estações em torno de 450 metros. "Nosso sistema principal, da Avenida Antonio Carlos, tem pista dupla contínua e sistemas direto e parador", conta. O sistema direto é semelhante ao Ligeirão curitibano: segue no mesmo eixo, mas com menos pontos de parada e mais rápido no deslocamento.

Bouzada considera que a capital mineira tem dois pon­tos positivos que a diferenciam de outros sistemas. O primeiro é que nem todas as linhas partem de uma estação. "Podem ter linhas com veículos do BRT que saem de um bairro e entram na canaleta", diz. A outra é o modelo de estação, que é no nível da rua e ajuda a tornar a operação do sistema mais ágil.

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