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Em Ibaiti, área de 20 hectares que era cultivada com cana-de-açucar está sendo ocupada pela silvicultura | Marco Martins/Gazeta do Povo
Em Ibaiti, área de 20 hectares que era cultivada com cana-de-açucar está sendo ocupada pela silvicultura| Foto: Marco Martins/Gazeta do Povo

Para Klabin, expansão é irrisória

Para a diretoria da Klabin, a expansão da área de eucalipto no Norte Pioneiro "não significa nada", porque é mínima. É o que garante o diretor florestal da empresa, José Totti, que justificou que o crescimento de 55% da área é irrisório, levando-se em conta que em 2008 eram pouco mais de 12 mil hectares na região. "O que está acontecendo não justifica tanta polêmica, já que 55% de nada é nada", disse.

Totti defendeu a expansão e afirmou que o plantio está sendo feito apenas em áreas degradadas ou em terras antes ocupadas por pastagens. O diretor negou que esteja havendo substituição de culturas produtivas. "Ninguém vai rasgar dinheiro. Quem é que vai trocar o cultivo de soja ou cana por eucalipto?", indaga.

Segundo ele, onde o solo é altamente produtivo não faz sentido o produtor rural trocar as culturas tradicionais pela silvicultura, que só começa a dar lucro para o investidor a partir do sétimo ou oitavo ano do plantio. De acordo com José Totti, cada hectare de eucalipto gera R$ 8 mil de renda no corte.

O diretor informou que hoje a Klabin explora a silvicultura em uma área de cerca de 220 mil hectares nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Somente no Paraná, são 140 mil hectares.

Santo Antônio da Platina - O plantio desordenado do eucalipto no Norte Pioneiro do Paraná está causando alvoroço entre os prefeitos da região. Eles temem os impactos ambientais. De acordo com dados do Departamento de Economia Rural (Deral), em apenas um ano a área ocupada com eucalipto nos 26 municípios da região aumentou 55%.

Até os primeiros meses de 2008, a silvicultura ocupava 19.786 hectares, entre eucalipto e pínus. Hoje já são 29.179 hectares, 19.986 só de eucalipto. Os números parecem modestos, mas, se for levado em conta que a área ocupada com soja na região é de 50 mil hectares, entende-se o motivo da preocupação.

E o avanço da silvicultura, conforme o prefeito de Ibaiti, Luiz Carlos dos Santos (PSDB), está ocorrendo em áreas que antes eram ocupadas pelas culturas tradicionais, como soja, milho e cana-de-açúcar, e que apresentavam ótimo índice de produtividade. Para ele, a situação pode ser creditada aos planos de expansão da Klabin, maior produtora, exportadora e recicladora de papéis do Brasil, com sede em Telêmaco Borba, na Região dos Campos Gerais. A indústria tem no eucalipto e no pínus a matéria-prima para a produção de celulose. Para conter o avanço do eucalipto, Santos e outros prefeitos da região já estudam a possibilidade de promover um zoneamento agrícola e criar uma barreira para impedir que o eucalipto tome o lugar de outras culturas.

Impactos

Um estudo feito pela equipe da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente do município de Joaquim Távora apontou que cada planta adulta de eucalipto consome diariamente entre 25 e 30 litros de água, retirados dos mananciais. "Isso quer dizer que em grandes áreas poderemos, em pouco tempo, comprometer a qualidade do solo, secar mananciais e prejudicar o desenvolvimento de culturas que geram mais renda para os agricultores, sobretudo os pequenos", avalia o prefeito Cláudio Revelino (PR).

O geógrafo Roberto Verdum confirma que o eucalipto, além de não servir para estancar o processo de destruição do solo, pode deixar a área ocupada ainda mais degradada, justamente pela alta retenção de água. "O pínus e o eucalipto são plantas de crescimento rápido e, por isso, absorvem muita água. As árvores em determinadas áreas, afetam a fauna e a flora da região, assim como o solo e os mananciais", explica.

Como é uma variedade exótica e própria de regiões de clima temperado, o eucalipto em locais de baixa umidade pode secar poços subterrâneos, banhados e nascentes. "Pior. Como consomem muita água, essas árvores baixam o lençol freático e diminuem o nível dos pequenos córregos", diz o geógrafo.

Pesquisador da Associação Brasileira de Florestas Plantadas (ABFP), Zoraido Ceroni explica que o eucalipto tem grande poder de evapotranspiração, eliminando cerca de 36,5 mil litros de água por ano cada pé. Pesquisa da própria ABFP estima que, durante um ano, o consumo de água do eucalipto varia de 800 a 1,2 mil litros por metro quadrado.

Segundo Ceroni, outro impacto ambiental causado pelo cultivo do eucalipto é a redução da biodiversidade da flora e da fauna. Por não serem árvores frutíferas e se caracterizarem como "estranhas" ao ambiente em que são implantadas, acabam por afugentar os animais. "Essas árvores também produzem naturalmente uma substância tóxica, que acaba eliminando as plantas ao seu redor. Por esses motivos, o pínus e o eucalipto causam o ‘deserto verde’".

Vantagens econômicas

O cultivo do eucalipto no Norte Pioneiro sempre foi raro, com exceção das regiões de Arapoti e Curiúva. O eucalipto pode ser utilizado para diversas finalidades, como produção de celulose, papel e energia, e é muito procurado por apresentar um crescimento rápido e tolerar cortes sucessivos. Em média, após sete anos, já é possível realizar o primeiro corte do tronco, que volta a crescer, permitindo novas podas. Ao todo, é possível fazer de três a quatro retiradas com retorno econômico. Depois, é necessário refazer o plantio do eucalipto.

Essas vantagens fizeram com que a plantação do eucalipto, que é originário da Austrália, fosse incentivada. Entretanto, na maioria dos casos, os plantios aconteceram sem planejamento adequado da ocupação do solo e os resultados foram prejuízos ambientais e sociais, como destruição de nascentes.

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