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Da saraivada de críticas ao livro do MEC Por uma vida melhor, analiso uma que ouvi de muitos políticos. Antes, porém, é preciso recapitular o essencial.

O barril de pólvora explodiu quando a imprensa noticiou que o livro defendia formas "gramaticalmente erradas do português". A partir daí, formou-se um clamor que interpretava em passagens como essa o anúncio do fim das regras de concordância de nossa língua e o estabelecimento do império do vale-tudo no idioma. Felizmente, boa parte da imprensa (este jornal, por exemplo) abriu espaço para que o debate fosse mais franco, menos apaixonado, para que ganhasse um nível aceitável de racionalidade.

Agora vamos ao ponto anunciado. Mais de um político lembrou, adequadamente, que existe relação entre o domínio das variantes chamadas cultas e ascensão social. Verdade. Trata-se de uma afirmação que, de tão correta, cai no óbvio mais que absoluto. Podemos comprovar essa asserção com um exercício simples: basta olhar. Assim, veremos que funções e cargos cobiçados são ocupados por pessoas com bom domínio das variantes cultas. Até aqui nada a pôr e nada a tirar.

Mas temos um problema. Quando ouvimos esse argumento vindo de políticos (e não foram poucos os que foram nessa direção), mas também de outras pessoas, é claro, precisamos ficar atentos e de novo pôr nossos olhos em ação. Será que apenas o bom domínio das variantes cultas da língua portuguesa é suficiente para a ascensão social? Olhemos para cargos cobiçados, rentáveis. Aquelas pessoas que ocupam secretarias, ministérios, pastas importantes, enfim, estão ali por causa do seu excelente português ou por causa do berço em que nasceram, por causa da relação com o grupo que ocupa o poder? Onde está o mérito advindo do idioma e onde está a mesquinharia?

Sim. O debate deve passar pelo idioma, mas também pela forma como o poder está estabelecido no Brasil.

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